O impacto da estiagem na colheita da segunda safra de milho e o aumento dos custos da pecuária leiteira levaram o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) a cortar novamente, de 1,7% para 1,2%, sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária em 2021.
Para o ano que vem, o Ipea elevou a previsão de alta do PIB do campo de 3,3% para 3,4%, sobretudo em razão das perspectivas positivas para a soja, cuja produção deverá bater um novo recorde, da recuperação do milho, da expectativa de aumento dos abates de bovinos — após dois anos consecutivos de encolhimento — e do avanço da oferta de suínos.
Soja sustenta
Para 2021, a revisão não foi mais profunda por causa das colheitas recorde de soja — 8,9% maior que a do ano passado, segundo a Conab — e de arroz (+ 5%) e da tendência de aumento também no trigo, até agora calculado pela estatal ligada ao Ministério da Agricultura em 30,8%. As demais culturas de peso na formação do PIB setorial apresentam recuos nas produções. O maior é o do milho total (-16,4%), mas cana, algodão e café também têm retrações.
A previsão do Ipea para o PIB do segmento de produtos de origem animal sofreu corte um pouco maior, de 1,8% para 1,2%. O número é resultado da “significativa piora” na estimativa para a produção de leite no ano, que passou de um aumento de 3,1%, na projeção anterior, para uma queda de 0,4% agora.
Carne bovina
A carne bovina, produto com maior participação no valor adicionado no segmento, seguido do leite, continua amargando diminuição da produção. Agora, a expectativa é de recuo de 0,9% este ano. Ainda há baixa oferta de animais para abate, apesar de indícios iniciais de que o ciclo de retenção de fêmeas tenha chegado ao fim.
O cenário é confirmado pelo nível de utilização da capacidade dos frigoríficos em Mato Grosso, divulgada pelo Instituto MatoGrossense de Economia Agropecuária (Imea). Houve leve melhora, mas ainda estava em 51,1% no fim de agosto. O consumo de carne bovina registrou pequena melhora, mas ainda está bem abaixo do patamar de 2019.
As demais proteínas animais mantêm desempenho positivo no ano, com destaque para as produções de suínos e frangos — que devem crescer 8,7% e 6,8% em 2021, respectivamente, ante projeções anteriores de 7,7% e 3,9%. Os resultados são influenciados pelo aumento das exportações de carne suína e pela substituição do consumo de carne bovina por frango no mercado doméstico. O Ipea passou a projetar crescimento de 1,4% para a produção de ovos, bem menos que os 4,5% divulgados anteriormente.
Colheita recorde
Para o ano que vem, o ajuste para 3,4% da estimativa do Ipea para o crescimento do PIB da agropecuária refletiu os primeiros prognósticos da Conab para a safra 2021/22, que apontaram novo recorde para soja e recuperação para milho e algodão. A produção vegetal como um todo teve a estimativa de crescimento no país mantida em 3,9%. Mas o destaque negativo é a cana, que deverá recuar quase 10%.
Com base em dados próprios, o Ipea estima uma elevação de 2,2% na produção animal em 2022, ante alta de 1,8% da última publicação. As projeções apontam crescimento em todos os segmentos, com desaceleração para as proteínas substitutas da carne bovina. O destaque é a recuperação esperada para a produção de bovinos, com alta de 2,2% após dois anos consecutivos de queda.
O Ipea ainda elencou alguns riscos para o PIB agropecuário. Para o restante de 2021, ainda há possibilidade de efeitos residuais do La Niña nas culturas que estão em fase de colheita, como cana e trigo. Na área animal, o que preocupa são os impactos dos preços relativos e da elevação nos custos de produção.
Fonte: Valor Econômico.