Após a crise desencadeada pelo aparecimento da EEB no Japão, a recuperação da confiança dos consumidores na carne bovina é a principal prioridade de 2002
Segundo um relatório divulgado ontem pelo Foreign Agricultural Service do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (FAS/USDA), recuperar a confiança dos consumidores japoneses na carne bovina é a principal prioridade do Governo do Japão e da indústria de carnes em 2002. A crise gerada pelo surgimento de casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) no país, ocorrido em setembro de 2001, abalou a confiança dos consumidores na segurança da carne bovina, nacional e importada, provocando sérios danos à indústria de carnes do país. O impacto foi muito maior do que a situação ocorrida em 1996, quando o Japão teve uma redução no mercado de carnes, gerada pela informação divulgada de que a EEB tinha sido transmitida a seres humanos no Reino Unido, que foi seguido pelo aparecimento de carnes contaminadas pela bactéria E. coli O157 no Japão.
Os consumidores japoneses estão abalados deste setembro passado, quando o primeiro caso de EEB foi detectado em um rebanho do país, o primeiro caso da doença confirmado fora da União Européia (UE). Dois outros casos foram detectados no país – um em outubro e um em novembro – abalando ainda mais a confiança dos consumidores que, desde o aparecimento da doença na Europa, vem cobrando do governo do país a garantia de que a carne bovina consumida por eles é segura. Os consumidores começaram a temer que a doença se dissemine pelos rebanhos do Japão. Além disso, eles criticam a indústria e o governo do país pelo aparecimento da doença. A implementação de medidas de controle da EEB, como um programa de avaliação obrigatório da doença, apresentou poucos resultados no sentido de recuperar a confiança dos consumidores japoneses na carne bovina.
Consumo de carne bovina deve permanecer fraco, mas pode apresentar uma leve recuperação em 2002
Segundo o relatório do USDA, o consumo de carne bovina no Japão deverá manter-se fraco durante este ano. A projeção de consumo é de cerca de 1,42 milhão de toneladas, que representa um aumento de 2% com relação ao ano de 2001, mas que ainda está muito abaixo do consumido em 2000 – 1,54 milhão de toneladas. Essas projeções estão considerando que não será mais detectado nenhum outro caso de EEB no país.
Algumas indústrias do setor têm a expectativa de que o consumo comece a recuperar-se em maio, durante os feriados de Golden Week, quando os consumidores tipicamente compram carnes para fazer churrascos familiares. O consumo de carnes por famílias, em casa, caiu cerca de 50% após a detecção do primeiro caso de EEB no Japão, em setembro de 2001, e terá um papel muito importante na recuperação do consumo neste ano. As donas de casa, que são quem geralmente decidem os alimentos a serem comprados no país, são pessoas chave na recuperação do consumo deste alimento. Desta forma, elas precisam confiar na segurança da carne, para poder fornecer esse alimento à sua família. Além disso, a utilização de carne bovina no setor de food service, que também foi abalada pela crise da EEB, deverá manter-se estável em 2002.
Porém, a piora na economia do Japão, caracterizada pelo aprofundamento da recessão, pressões de deflação, e aumento do desemprego (que atingiu o recorde de 5,6% em dezembro de 2001) será um empecilho no aumento do consumo de carne bovina.
Importações
As importações de carne bovina do Japão em 2002 deverão cair cerca de 6%, para 910 mil toneladas, o menor volume desde 1996, devido aos grandes estoques de carne bovina congelada, ao enfraquecimento contínuo da moeda japonesa (Yen), e à fraca demanda por carnes. As importações de carne bovina dos Estados Unidos deverão cair cerca de 8%, para 407 mil toneladas em 2002, enquanto que as importações de carne da Austrália deverão cair cerca de 6%, para 436 mil toneladas.
As importações combinadas de carne bovina dos EUA e da Austrália representam 90% das importações de carne bovina do Japão. A queda no consumo do produto no ano passado resultou no crescimento dos estoques de carne congelada, que deverão entrar nos canais de distribuição durante a primeira metade deste ano. Isso limitará a necessidade de importações. Os dados mostram que, em novembro de 2001, os estoques de carne congelada aumentaram em 27%, para 195 mil toneladas, com relação aos níveis de janeiro. Uma vez que esses estoques forem utilizados, e o consumo de carne tenha aumentado, pode haver um aumento nas importações.
Aumento das vendas de carne bovina no Japão depende da recuperação no setor alimentício e de uma efetiva estratégia de marketing
A carne bovina australiana e a queda nos preços do produto doméstico irá reduzir o mercado de carnes dos EUA no Japão. Em 2001, a carne bovina da Austrália entrou no mercado japonês a preços menores que a carne norte-americana. Somando-se a isso tem um fator ainda mais importante, a carne da Austrália tem uma imagem mais favorável frente aos consumidores do Japão, de acordo com pesquisas feitas recentemente.
Outro fator importante para os EUA é a recuperação do setor de vendas de alimentos (restaurantes, principalmente), já que esses são os principais consumidores da carne norte-americana. Para promover o lombo e o tender, carnes que apresentam altos preços no mercado japonês, os EUA pretendem fazer uma promoção no setor de varejo, com uma forte identificação dos produtos, enfatizando suas características de produção, bem como seus valores nutricionais. Outros fatores incluem assegurar os consumidores sobre a qualidade da carne, além de informações sobre sua origem.
Produção de carnes no Japão: baixa continua
A produção de carne bovina no Japão em 2002 deverá apresentar um aumento de cerca de 2%, para 475 mil toneladas. Essa produção é cerca de 12% menor do que a do ano 2001 (465 mil toneladas), devido ao declínio no abate de animais no último trimestre do ano passado, após a descoberta da EEB no país.
O abate total de bovinos neste ano deverá manter-se fraco, devido justamente à fraca demanda, aos baixos preços da carcaça e às limitações do Japão de implementar um programa de controle para a EEB.
Fonte: USDA, adaptado por Equipe BeefPoint