A delação premiada do empresário Joesley Batista pode ser questionada pela Procuradoria-Geral da República porque o acionista da JBS teria omitido negócio bilionário do grupo realizado sob as bênçãos do ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma).
Joesley teria firmado contrato com Palocci, com cláusula de êxito, depois que a JBS adquiriu a empresa americana Pilgrim’s, Pride Corporation com aporte bilionário do BNDES.
A JBS repassou R$ 2,1 milhões à empresa Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, de Palocci, entre dezembro de 2008 e junho de 2010.
O empresário que gravou a conversa com Temer no Palácio do Jaburu na noite de 7 de março afirmou à Procuradoria-Geral da República – já no curso da colaboração – que Palocci não facilitou nenhuma transação da JBS no BNDES.
Na época em que firmou contrato com a empresa de Palocci, a JBS comprou a Pilgrim’s por US$ 2,8 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões saíram dos cofres do BNDES. Palocci exercia mandato de deputado federal pelo PT e detinha forte influência no governo – havia sido ministro da Fazenda de Lula e, depois, ministro-chefe da Casa Civil de Dilma.
O contrato de consultoria previa o pagamento de comissão de êxito no valor equivalente a 0,10% do negócio, até o limite de R$ 2 milhões. Estava previsto adiantamento de honorários de R$ 500 mil.
No dia 21 de junho, Joesley depôs na Polícia Federal em Brasília e teve que explicar os motivos de ter contratado a Projeto Consultoria, a empresa de Palocci.
No depoimento, Joesley afirmou que ele e o petista eram ‘amigos íntimos’. O empresário declarou que ‘não tem qualquer interesse em proteger (Palocci)’.
Segundo Joesley, a Projeto foi contratada ‘para consultoria de macroeconomia e política do Brasil no valor mensal de RS 30mil a RS 50 mil’.
“Perguntado sobre o valor do contrato, o depoente não se recorda ao certo, mas acredita que tenha sido no valor de R$ 2 milhões; que o depoente não tem conhecimento de o contrato ter sido assinado em nome da esposa de Palocci”, afirmou.
A PF questionou o empresário se ele ‘já não tinha conhecimento suficiente a respeito de relacionamentos políticos e partidários em 2009’.
“Respondeu que não tinha a menor ideia das alianças e rivalidades entre políticos; que essas consultorias eram realizadas na sede da JBS durante almoços. O depoente afirma não saber que Palocci era deputado federal à época da assinatura do contrato; que perguntado se não acha estranho que Palocci tenha sido contratado para lhe dar aulas de política e que ao mesmo tempo desconheça o fato de que exercia o mandato de deputado à época, o depoente informa que, de fato, não sabia.”
Joesley afirmou que o ex-ministro foi contratado também ‘para realizar uma extensa pesquisa de mercado da macroeconomia americano’.
A delegada Danielle de Meneses Oliveira Mady confrontou Joesley. Segundo a delegada, em 2009, a empresa americana Pilgrims Pride Corporation foi a última aquisição do Grupo ‘e que portanto não haveria razão a justificar um amplo estudo’.
Em setembro daquele ano, JBS Friboi informou ao mercado que havia comprado, por US$ 2,8 bilhões, a Pilgrims Pride Corporation, por meio de sua subsidiária JBS USA Holdings, Inc. A companhia americana era uma das maiores empresas de carne de frango dos Estados Unidos.
Joesley declarou à PF ‘que os mercados de frango e came são completamente distintos’.
“Certamente a importância paga e relatada se deve a atividade profissional de consultoria desenvolvida pelo ex-ministro em benefício da empresa capitaneada pelo senhor Joesley Batista. Nesse particular, não há nada de ilícito ou de ilegal em tal contratação”, disse o advogado de Palocci, Alessandro Silvério.
Fonte: Estadão, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.