Por Marcos Sawaya Jank
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, iniciou ontem uma missão estratégica na Índia e na China, fundamental para o futuro do agronegócio brasileiro. Estamos falando dos dois países mais populosos do planeta (36% da população mundial) e que em 2030 ocuparão, respectivamente, a terceira e a primeira posição no PIB mundial, com imenso potencial de crescimento no consumo de alimentos.
No campo do agronegócio, o principal desafio é ampliar o acesso a esses dois megamercados, o que permitiria a diversificação das exportações. Hoje, nossas exportações encontram-se perigosamente concentradas no complexo soja, que responde por 80% das exportações do agronegócio para a China e 60% para a Índia.
Isso porque, na promissora e complexa cadeia produtiva das proteínas animais, temos livre acesso apenas para alguns componentes da ração que alimenta aves, suínos e bovinos, como o milho e a soja.
O acesso das nossas carnes é literalmente proibido por tarifas altíssimas (no caso da Índia), barreiras não tarifárias e por um moroso sistema que habilita de plantas industriais brasileiras para exportar caso a caso. Exportar carnes geraria de 4 a 10 vezes mais valor por tonelada do que soja. Abrir mercados na Ásia é uma tarefa hercúlea e sensível, prioritária para a ministra e para o futuro da nossa agricultura.
O segundo desafio é fortalecer e sofisticar as cadeias globais de suprimento que ligam o Brasil e os dois gigantes asiáticos na área de alimentos e bebidas. O primeiro passo é ir além da dimensão comercial, centrada no relacionamento com tradings e importadores de commodities.
Neste momento, grandes empresas do agronegócio brasileiro têm se internacionalizado e avançado nas cadeias da alimentação, montando estruturas de processamento nos países-destino e investindo em armazenagem, distribuição e marcas globais. Produtos e marcas brasileiras precisam chegar com força aos varejistas, aos serviços de alimentação, aos restaurantes e até à incrível revolução do comércio digital que está ocorrendo na China e na Índia.
A exemplo de outros países, é fundamental ampliar os mecanismos de coordenação e coerência regulatória dos governos em áreas como sanidade e qualidade do alimento, combate a doenças, rastreabilidade de produtos, sustentabilidade, saúde e nutrição.
Mas as oportunidades não se restringem à expansão de empresas e marcas brasileiras no exterior. A competitividade do agronegócio depende também do fortalecimento do seu elo mais fraco, que é infraestrutura brasileira. Esse é um dos temas mais relevantes para Kátia e será devidamente tratado com autoridades e investidores na China e na Índia.
As diversas reuniões presidenciais, os acordos de cooperação bilateral, as ações plurilaterais como G20 e Brics e as perspectivas da “nova rota da seda” e do recém-criado Banco de Infraestrutura e Investimento tornam especial o atual momento das nossas relações com Índia e China.
E não há área mais promissora para aprofundar essas relações que o agronegócio visto na sua amplitude. Kátia Abreu conhece bem a região e o imenso potencial dessas duas parcerias estratégicas. Em tempos de crise e pessimismo no Brasil, uma maior aproximação com nossos principais clientes do presente e do futuro pode trazer ótimas notícias.
Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 14/11/15).