No próximo dia 18 de julho, o BeefPoint promove o Workshop Integração Lavoura-Pecuária e ILPF, com 8 palestras sobre esse tema.
Confira abaixo a entrevista com Leonardo Brant, um dos palestrantes.
Leonardo Brant é médico veterinário, formado pela UFMG, especialista em Solos e Meio Ambiente pela UFLA, especialista em Pastagens e Adubação pela FAZU, com experiência de 17 anos conduzindo projetos em pecuária nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. É consultor sócio da Exagro.
BeefPoint: O que você considera mais importante em uma fazenda de ILP?
Leonardo Brant: Que o gestor da fazenda conheça profundamente os números de cada plano de contas, tanto da pecuária quanto da agricultura. É importante também que o projeto esteja embasado em um planejamento de longo prazo, para que o resultado do fluxo de caixa mostre qual a demanda de recursos anuais e a capacidade de pagamento futuro. Diante disso, o gestor poderá programar a velocidade que o projeto tem que evoluir e a origem dos recursos financeiros.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro na ILP (ou ILPF) no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Leonardo Brant: Admiro todo pecuarista empreendedor que mesmo sem experiência na agricultura, busca alternativas técnicas e capacitação para melhorar a rentabilidade do seu negócio.
BeefPoint: Qual o maior desafio da ILP (ou ILPF) no Brasil hoje?
Leonardo Brant: A grande maioria dos projetos que estão envolvidos na ILP tem como origem produtores com pouca experiência na agricultura. O maior desafio é criar dentro das fazendas, que antes eram exclusivamente de pecuária, a cultura que alguns processos terão que sofrer alterações bruscas e a atenção com os detalhes técnicos, financeiros e a disciplina, que devem ser observados o tempo todo.
BeefPoint: Em relação a ILP, qual inovação na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Leonardo Brant: O processo de ILP está sofrendo ajustes técnicos praticamente a cada safra, visto que a agricultura está chegando em regiões iniciantes na atividade e com riscos climáticos evidentes. Os desafios aumentam e com eles aparecem alternativas de variedades de soja, milho e sorgo mais adaptadas a esses ambientes e gramíneas que se adequam melhor ao sistema.
De inovação, o que estamos precisando é que a pesquisa nos apresente variedades de soja e milho mais resistentes a veranico e também adaptadas a regiões com pouco histórico na atividade agrícola, como parte da região norte do país.
Fazenda 3 Barras – MT
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua ILP em 2012? O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Leonardo Brant: Em todo projeto que a Exagro participa é dada atenção especial ao fluxo de caixa e à programação financeira da atividade. Com isso, ao longo desses anos, trabalhando com IPL, conseguimos amadurecer um modelo onde a agricultura tem que ser auto suficiente em termos financeiros e que a decisão de retorno de áreas para a pecuária e abertura de novas áreas dependerá do fluxo de caixa de cada ano.
Isso porque, quando há um retorno de área para a pecuária e abertura de novas áreas para a agricultura, acontece os seguintes fatores que impactam diretamente no caixa da fazenda: aumenta o custo de produção, porque o custo de abertura de novas áreas é 60% maior que em áreas já estabilizadas, diminui a produtividade da agricultura por serem áreas novas e tem uma demanda muito maior de recursos financeiros para comprar animais. Esse ajuste fino foi o que trouxe melhores resultados nos últimos anos nos projetos de ILP.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013, em ILP? E porquê?
Leonardo Brant: Reavaliar todos os sistemas que trabalhamos para entender financeiramente se há espaço para expandir e em alguns casos inserir a ILP. Isso porque já temos histórico financeiro para afirmar que esse é um caminho que muda o patamar financeiro da pecuária, podendo a mesma ser comparada com outras atividades de melhor uso do recurso terra.
BeefPoint: O que o setor poderia fazer para aumentar a competitividade da ILP no Brasil?
Leonardo Brant: A ILP é hoje uma das opções que torna a pecuária mais competitiva e rentável. Contudo, em regiões marginais do país, onde a agricultura não tem histórico, faltam informações seguras de quais culturas utilizar, variedades mais adaptadas e manejo de solo adequado.
Como sugestão, a pesquisa poderia mapear e desenvolver alternativas de culturas e variedades que permitam que essas regiões também sejam inseridas nesse circuito tecnológico. Na ILP não temos margem para erros, pois os investimentos são expressivos e não temos espaço para experimentar.
BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial os interessados em ILP?
Leonardo Brant: Existe uma fase inicial dos projetos de ILP que é de aprendizado para toda a equipe dentro e fora das fazendas, sendo assim “inicie pequeno e planeje grande”. Com isso, será criada uma base sólida de conhecimento dentro da própria fazenda e o projeto pode avançar com maior segurança.
Fazenda 3 Barras – MT
1 Comment
Muito esclarecedor sua entrevista Leonardo. E como você expressa, assegurar um fluxo de caixa na propriedade. A ILP ou a ILPF, por sua complexidade, requer uma assistência técnica competente, como o time da Exagro. Mas e a questão do mercado para essas commodities? Seja para grãos ou para carne, associado as questões de logísticas da região? Como vocês interpretam essa situação? Continuamos a produzir para um mercado sem endereço, ou para um cliente específico, seguro. Mercado, a meu ver é um dos principais gargalos para a sustentabilidade de um projeto.