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Leonardo Canellas: o maior desafio da pecuária de cria é aumentar a produção de bezerros por área

O Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria será realizado no dia 18 de junho, em São Paulo, SP. O BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um dos palestrantes. Confira abaixo a entrevista com Leonardo Canellas.

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Leonardo Canellas tem 29 anos. É médico veterinário e mestre em zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é aluno do 3º ano de doutorado e integrante do NESPRO/UFRGS e está desenvolvendo sua tese, que tem enfoque na avaliação econômica de sistemas de produção de bovinos de corte. Também atua no gerenciamento e consultoria de propriedades rurais no Rio Grande do Sul.

O tema da palestra de Leonardo Canellas será Estudo de caso Fazenda Santa Ignes, RS: 19 anos de acompanhamento de um sistema de cria.

BeefPoint: O que você considera mais importante em uma fazenda de pecuária de cria?

Leonardo Canellas: A cria é a etapa da produção de bovinos que apresenta o ciclo mais longo e existem limitações biológicas inerentes à vaca que impedem que esse ciclo seja abreviado. Além disso, os rebanhos de cria normalmente são manejados a pasto, que também apresentam seu ciclo de produção dentro do ano. Por isso considero que o entendimento dessa dinâmica – ciclo da vaca versus ciclo do pasto e/ou disponibilidade de alimentação – é fundamental para manejar um sistema de cria de forma eficiente.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro na cria, no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Leonardo Canellas: Atualmente existem muitos exemplos de produtores que realizam um bom trabalho com pecuária de cria. Acredito que cada produtor tem algum vizinho ou conhece alguém que faz um trabalho de excelência, não precisa ir muito longe, embora existam produtores de ponta que se destacam nas diferentes regiões do Brasil.

Ao invés de citar um produtor, prefiro citar os pesquisadores dos departamentos de Zootecnia e Plantas Forrageiras da UFRGS, que historicamente fazem um trabalho de pesquisa muito forte, gerando soluções aplicáveis à produção e permitindo que diversos produtores se tornem exemplos, principalmente nas condições de criação do sul do Brasil.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de cria no Brasil hoje?

Leonardo Canellas: Aumentar a produção de bezerros por área, mantendo a viabilidade econômica da cria. Esta é uma conta difícil de fechar, tendo em vista a baixa eficiência da cria com relação ao uso da terra. Para agravar a situação, a concorrência pelos melhores solos “empurra” a cria para as áreas com maiores limitações de recursos naturais.

Para enfrentar o desafio, acredito na cria integrada a outros sistemas agrícolas e/ou pecuários que sejam capazes de melhorar o aporte de alimentos para a vaca de cria ou, no caso de sistemas de ciclo completo, a saída é acelerar a recria-terminação para tornar o sistema mais eficiente.

BeefPoint: Em relação a pecuária de cria, qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Leonardo Canellas: A questão da inovação é muito complexa. O que fazemos atualmente é inovar na maneira com a qual se utiliza o conhecimento já gerado. Um exemplo é o uso do feno, seja ele de capim ou palha residual de cultivos agrícolas, como o arroz. Atualmente no RS muitos produtores têm aproveitado o excedente forrageiro de épocas específicas e utilizado como aporte forrageiro em períodos estratégicos para algumas categorias animais.

Com o uso desse recurso é possível, por exemplo, garantir a manutenção de peso de vacas de cria no outono-inverno e mantê-las em uma área com boa lotação mesmo em um período crítico de produção de forragem.

Sem desconsiderar a possibilidade do surgimento de técnicas realmente inovadoras, acredito que já temos tecnologias suficientes para atingirmos níveis médios aceitáveis de produção. Contudo, qualquer técnica deve ser aplicada corretamente e adaptada ao sistema, sob pena de condenar a tecnologia.

Um exemplo dos últimos anos é o crescente uso dos protocolos de IATF, com bons resultados em diversos sistemas de produção de várias regiões do Brasil. Porém, se essa técnica for aplicada na parcela errada de vacas o benefício econômico da tecnologia pode ser perdido, gerando tão somente um aumento de custos.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua pecuária de cria em 2012? O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Leonardo Canellas: Gerencio um sistema de produção que está migrando da recria-engorda para o ciclo completo. As novilhas que seriam terminadas aos 18/20 meses no outono foram todas inseminadas ou entouradas. Acho que esta é uma opção de manejo que pode favorecer determinados criadores, pois neste sistema a primípara vai para o segundo acasalamento – na primavera subseqüente – sem estar lactando, tendo uma alta probabilidade de emprenhar novamente.

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BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013, em pecuária de cria? E porque?

Leonardo Canellas: Pretendo aumentar a produção de bezerros na mesma área, concentrando os esforços na melhoria do aporte forrageiro nos períodos críticos e na utilização de técnicas de desmame para aumentar a taxa de prenhez (desmame temporário e desmame precoce) e para melhorar a condição corporal das vacas (desmame antecipado).

BeefPoint: Como tornar a comercialização do bezerro mais eficiente? O que falta no Brasil?

Leonardo Canellas: O produtor deve conhecer o tipo de bezerro adequado ao comprador, mantendo na medida do possível uma fidelização com o mesmo. Acredito que um bezerro bom sempre será bem valorizado, embora em determinados anos de elevada oferta isso possa ser comprometido.

O produtor deve estar atento ao mercado e ter um sistema mais flexível, conhecendo as alternativas que possui para aumentar os ganhos. Um exemplo é não vender os bezerros ao desmame e sim alimentá-los em pastagens, suplementação ou confinamento por um período de 60-100 dias, realizando a venda com um peso superior.

A questão é adequar os custos e avaliar o mercado, considerando sempre a capacidade do sistema de suportar a mudança proposta.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar a competitividade da pecuária de cria no Brasil?

Leonardo Canellas: A identificação das regiões produtoras de bezerros para criar centros de referência na cria e a orientação desses produtores de como devem proceder para produzir mais e melhor. Existe muito conhecimento na área, só que este conhecimento é pouco aplicado, muitas vezes por não chegar ou chegar de forma distorcida ao produtor, o que compromete os resultados.

BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial criadores?

Leonardo Canellas: Procurem olhar o sistema de produção como um todo, tentando manter uma margem para flexibilização do sistema de acordo com a conjuntura. Calculem seus indicadores de produção e comparem com os indicadores de outros produtores, criando parâmetros para saber como anda o desempenho do sistema.

Contudo, é necessário considerar que nenhuma fazenda é igual à outra, sendo importante interpretar o ambiente que envolve seu sistema de produção, utilizando o conhecimento disponível de uma forma adaptada às suas condições específicas.

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Clique aqui para ver a programação completa do Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria.

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