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Manejo racional de bovinos mantidos a pasto e o uso do espaço

No dia-a-dia da fazenda os bovinos frequentemente enfrentam situações que causam desconforto, calor ou frio, radiação solar, moscas e predadores; tais condições podem, em conjunto ou isoladamente, levar os animais ao estresse. As raças melhores adaptadas geralmente apresentam respostas adequadas em enfrentar tais situações, mas para tanto os animais dependem de certos recursos que devem estar disponíveis, sendo muito importante definir quais são os principais recursos para os bovinos mantidos a pasto.

No dia-a-dia da fazenda os bovinos frequentemente enfrentam situações que causam desconforto, calor ou frio, radiação solar, moscas e predadores; tais condições podem, em conjunto ou isoladamente, levar os animais ao estresse. As raças melhores adaptadas geralmente apresentam respostas adequadas em enfrentar tais situações, mas para tanto os animais dependem de certos recursos que devem estar disponíveis, sendo muito importante definir quais são os principais recursos para os bovinos mantidos a pasto.

No passado acreditava-se que a melhor alternativa era o sistema de criação com manejo mínimo, no qual os animais eram mantidos no pasto o maior tempo possível, com o objetivo de manter a condição de criação o mais próximo possível do estado natural dos bovinos, principalmente em relação ao espaço físico e relações sociais com pouca interferência humana na rotina dos animais, realizando apenas o manejo essencial para garantir sua saúde. Por outro lado, tal sistema de criação resulta em menor controle do rebanho e conseqüentemente em maior reatividade dos animais ao manejo, o que pode acarretar acidentes durante o manejo essencial além de estresse.

Uma alternativa para tal fato é a intensificação da criação com manejo racional, proporcionando melhor controle dos rebanhos e menor reatividade dos animais ao manejo, levando em consideração 4 importantes observações:

• o comportamento natural dos animais, procurando definir suas necessidades básicas e a melhor forma para atendê-las;
• os processos de aprendizado, pelos quais podemos alterar os comportamentos dos animais, tornando os mais adaptados a sistemas intensivos de criação;
• o dia-a-dia da fazenda, ou seja, adequando a rotina às necessidades dos bovinos;
• as interações entre humanos e bovinos, de forma a estabelecer um relacionamento positivo, mesmo quando é necessária adoção de manejos que resultem em estresse, vacinações e vermifugações, por exemplo.

Os bovinos são animais gregários, fato este tão importante que os indivíduos isolados do rebanho tornam-se estressados, embora a vida em grupo traga uma série de vantagens adaptativas (defesa contra predadores, facilidade para encontrar o parceiro sexual, etc.), ela também traz o aumento na competição por recursos, principalmente quando os mesmos forem escassos, resultando na apresentação de interações agressivas entre os animais do mesmo grupo ou rebanho (Paranhos da Costa e Nascimento Jr., 1986).

Essa é uma questão muito importante na vida social dos bovinos mantidos em sistemas intensivos de criação ou, em condições pouco apropriadas às suas necessidades sociais, mas não chega a preocupar muito quando o sistema de criação é extensivo e os recursos importantes são de fácil acesso a todos os animais.

Segundo Paranhos et al, em condições naturais essa agressividade é controlada, pois os bovinos apresentam uma série de padrões de organização social, que definem como serão as interações entre grupos e entre animais do mesmo grupo, contribuindo para minimizar os efeitos negativos da competição. O conhecimento destes padrões é imprescindível para que possamos manejar o gado adequadamente. Um aspecto importante está relacionado ao uso do espaço pelos animais, os animais não se dispersam ao acaso em seu ambiente.

Em rebanhos criados extensivamente e pouco manejados os animais definem a sua área de moradia, que é caracterizada pela área onde os animais desenvolvem todas as suas atividades, sendo, portanto o seu espaço mais amplo. De maneira geral, estas áreas apresentam dimensões variáveis, dependendo da disponibilidade dos recursos e da pressão ambiental (clima, predadores, etc.). Esta área pode ser subdividida de acordo com a sua utilização pelos animais em áreas de descanso (“malhadouro”) e de alimentação.

“Quando qualquer uma dessas áreas é defendida, surge o que denominamos território; que pode ser de uso múltiplo, quando compreende toda a área de moradia; de descanso quando se restringe à área onde os animais acampam para descansar e assim por diante. A simples busca de sombra para se abrigar da radiação solar não caracteriza a definição de uma área de descanso, para tanto o animal deve usar a mesma área regularmente” definiu Matheus J. R. Paranhos da Costa.

Para cada um dos indivíduos do grupo há ainda a caracterização de um espaço individual, representado pela área onde o animal se encontra ou se encontrará e, portanto, se desloca com ele. Esse espaço compreende aditivamente ao espaço físico que o animal necessita para realizar os movimentos básicos, um espaço social, que caracteriza a distância mínima que se estabelece entre um animal e os demais membros do grupo. Além disso, existe também a distância de fuga, que é o máximo de aproximação que um animal tolera a presença de um estranho ou do predador, antes de iniciar a fuga. Tais comportamentos de espaçamento são ilustrados na Figura 1.

Figura 1. Esquema ilustrativo do espaço individual e a distância de fuga nos bovinos


Há outro mecanismo de controle social, que têm origem na familiaridade e na competição entre os animais, resultando na definição da liderança e da hierarquia de dominância, respectivamente.

Hoje em dia os rebanhos bovinos raramente apresentam grupos sociais naturais, basicamente porque tais grupos são formados de acordo com os interesses do homem. Assim, formamos grupos de acordo com o sexo desde a desmama, quando também separamos os bezerros das suas mães, formamos também grupos tendo em conta a idade dos animais ou ainda conforme a produção observada de cada animal (Paranhos da Costa 2003).

A dominância se estabelece nesses grupos pela competição, ou seja, ela é produto de interações agressivas entre os animais de um mesmo grupo ao competirem por um determinado recurso, definindo quem terá prioridade no acesso a comida, água, sombra, etc.

O dominante é o indivíduo ou indivíduos do grupo que ocupam as posições mais altas na hierarquia, dominam os demais os atacando impunemente e têm prioridade em qualquer competição; os submissos (ou dominados) são os que se submetem aos dominantes. Os fatores que normalmente determinam a posição na hierarquia são o peso, idade e raça.

O tempo até o estabelecimento da hierarquia em um lote recém formado vai depender do número de animais e do sistema de criação, sendo extremamente importante, pois a cada nova formação de lotes será gerado um estresse, competição por dominância, durante determinado período, gerando perdas no processo produtivo.

Referências bibliográficas:

ARNOLD, G.W.; Dudzinski, L. Ethology of free ranging domestic animals, Elsevier, Amsterdam, 196 p., 1978.

BECKER, B. Efeito do manuseio sobre a reatividade de terneiros ao homem Dissertação de Mestrado (Zootecnia), Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 139 p., 1994.

GRANDIN, T. Behavioural principles of cattle handling under extensive conditions. In: T. Grandin (ed). Livestock handling and transport, CAB International: Wallingford-UK, p. 43 – 57, 1993.

PARANHOS, M. J. R.C.; Avaliação e medida do temperamento em bovinos. In: Luiz Antônio Josahkian, Henrique Cavallari e William Koury Filho. (Org.). Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (manual de operação). Uberaba-MG: Associação Brasileira dos Criadores de Zebú, 2003, p. 48-52.

PARANHOS. M.J.R.C.; Nascimento Jr., A.F. Stress e comportamento. In: Semana de Zootecnia, XI, FMVZ/USP, Pirassununga-SP, Anais…, p. 65-72, 1986.

PARANHOS, M.J.R.C.; Cromberg, V.U. Alguns aspectos a serem considerados para melhorar o bem-estar de animais em sistemas de pastejo rotacionado. In: Peixoto, A. M.; Moura, J.C. e Faria, V.P. (ed.). Fundamentos do pastejo rotacionado. FEALQ: Piracicaba, p. 273-296, 1997.

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