No dia 5 de abril foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.
Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.
Confira abaixo, a entrevista com Marcia Dutra de Barcellos, uma das ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul, na categoria Profissional – qualidade de carne.
Marcia Dutra de Barcellos mora em Porto Alegre – RS. Vem de uma família que já tem tradição na área de pecuária de corte, por conta de seu avô materno e sempre gostou dessa área. Formou-se em medicina veterinária, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fez mestrado e doutorado em agronegócios e a partir daí começou a trabalhar com marketing na cadeia produtiva da carne. Sua área de pesquisa é comportamento do consumidor e compreender as tendências do mercado. Fez pós-doutorado em marketing, então foi natural escolher essa evolução dentro do agronegócio. Atualmente é professora da Escola de Administração da UFRGS. Trabalha com diversos projetos de pesquisa no campo de inovação e sustentabilidade, tentando aplicar isso na área de carne bovina e na área de alimentos também.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?
Marcia Dutra de Barcellos: A cadeia da carne do Sul do Brasil tem algumas peculiaridades, em função do clima e ambiente. Eu acho que o desafio é se organizar para conseguir agregar valor ao que é produzido aqui. O grande desafio é mostrar sua identidade própria, descobrir questões que possam ser exploradas em outros mercados também.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Marcia Dutra de Barcellos: Há muitas iniciativas. Eu atuei junto aos programas da Hereford e da Angus profissionalmente. Enquanto fazia mestrado e doutorado eu atuei como executiva e diretora desses projetos. Acho que seria injusto falar um nome só. Há muitas iniciativas surgindo no estado, em diferentes regiões. Acho importante trabalhar com a valorização da origem e a qualificação do produto.
É importante valorizar pessoas que trabalham com uma visão sistêmica da cadeia toda. Pessoas que se preocupam com o que o animal come, como ele é tratado na propriedade, como ele chega no frigorífico para o abate. Uma indústria que dê um tratamento bom para esse esforço, em relação à genética, nutrição, manejo. Eu acho que essa indústria deve ser destacada, pois esse é o trabalho completo. Quem vende a carne, está vendendo também a satisfação do consumidor no outro lado da mesa. São coisas que eu valorizo muito. As iniciativas, o trabalho de profissionais que temos aqui.
BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?
Marcia Dutra de Barcellos: Isso exige um trabalho coordenado, um trabalho de alinhamento entre os diferentes elos da cadeia. É preciso um trabalho conjunto da indústria, produtor e varejo, seja no Brasil ou no exterior, para compreender esse produto e oferecê-lo ao mercado correto. Além disso, obviamente, precisamos de mais colaboração e menos oportunismo, que muitas vezes são os desafios que a cadeia como um todo tem, pois cada elo acaba pensando somente em si mesmo. Precisamos ter uma visão mais compartilhada das coisas, pensando no meio ambiente, pensando no mercado. Isso é fundamental hoje.
BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Marcia Dutra de Barcellos: Há vários aspectos. Eu acho que o Brasil tem inovado muito em termos de produtividade, temos conseguido ter índices muito impressionantes. Acho que o que falta realmente é inovar em termos de apresentação do produto final, trabalhar com inovações que estejam mais alinhadas com o que a sociedade precisa, as necessidades do consumidor. Temos as novas gerações, como a geração Z, a geração digital.
Acho importante utilizar todas as ferramentas de comunicação existentes hoje para aproximar o campo da cidade. É uma grande vantagem, usar a tecnologia para aproximar as pessoas daquilo que está sendo produzido, para dar mais transparência. É importante valorizar a transparência e a comunicação, pois só assim as pessoas vão valorizar o que é produzido dentro da fazenda.
BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?
Marcia Dutra de Barcellos: Eu acho que precisamos trabalhar com a diferenciação. Em termos de custos é muito complicado o RS competir com outros estados do centro-oeste ou do sudeste do país. O RS tem que se voltar para a questão da qualidade, é o unico jeito de competir. Nós temos um bom espaço, temos o Uruguai e a Argentina como exemplo. Eles são um ótimo exemplo de que é possível valorizar as peculiaridades locais, mesmo que não se tenha a melhor oportunidade de custo. Eu vejo que diferenciação e qualidade são o caminho.
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?
Marcia Dutra de Barcellos: Uma das coisas que eu comecei a fazer, foi começar a trazer outros elementos de análise para o meu trabalho. Sou professora e pesquisadora e logo no início eu trabalhava com qualidade, mercado, questões técnicas. Aos poucos fui incorporando elementos ligados à inovação e sustentabilidade, dentro do que eu faço. São segmentos que têm se desenvolvido muito, não só na pecuária. O segmento da tecnologia da informação, por exemplo.
Eu acho importante ter uma visão multidisciplinar, cada vez mais agregando novos conhecimentos ao que fazemos. Tenho tentado incorporar novas ideias, novos conceitos, aprender mais. Ter um olhar mais amplo sobre todas as coisas, dentro principalmente das áreas de inovação e sustentabilidade e procurando incorporar isso à cadeia da carne.
BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Marcia Dutra de Barcellos: Eu acho muito importante conhecer outras realidades. Tenho tido muitas experiências no exterior. É importante ponderar tudo isso. Acho importante sair de uma zona de conforto para poder evoluir, abrir a cabeça, para amadurecer as ideias e trazer pontos positivos para a sua própria atividade.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porquê?
Marcia Dutra de Barcellos: Existe uma grande demanda em nosso país. Quero cada vez mais atuar em projetos que tragam benefícios para a cadeia toda, expandindo minha forma de atuar, não só no RS. Eu tenho procurado trabalhar com redes de varejo, fazer trabalhos mais próximos da indústria frigorífica. Eu sempre trabalhei muito com produtores e com indústriais locais. Eu tenho como plano expandir isso para beneficiar de forma mais ampla a cadeia toda.
BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?
Marcia Dutra de Barcellos: Acho que os pecuaristas do Brasil são muito sortudos. Eles têm uma condição muito difícil de se encontrar em outros lugares. Eles têm nas mãos uma atividade que é muito completa, em alinhamento com a natureza e com os animais, que são seres incríveis. Os bovinos transformam pasto em carne, que é um produto extremamente nobre.
Os pecuaristas precisam realmente se esforçar para trabalhar em conjunto, com toda a cadeia, para valorizar tudo aquilo que é feito dentro da propriedade. Eles precisam dessa valorização, para que se dêem conta de que o que eles fazem é extremamente importante para o mundo todo.
BeefPoint: Qual sua mensagem para a indústria frigorífica e varejo?
Marcia Dutra de Barcellos: Eles precisam aprender a trabalhar de forma mais integrada, compreender as dificuldades existentes na produção. A atividade não é fácil, está sujeita à condições como as diferenças de raça, clima. Eu acho que eles precisam tanto melhorar essa relação com o produtor, quanto abrir os olhos para o mercado. Entender que o consumidor não é único, hoje nós temos várias técnicas para entender as demandas e necessidades das pessoas.
É fundamental que eles estejam alinhados ao entendimento do mercado, que eles busquem na ciência, cada vez mais conhecimento, técnicas e ferramentas para entender cada vez mais esse mercado, melhorando o atendimento, com transparência. Transparência é a palavra final que eu deixo para eles.
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