A aprovação da venda de parte do negócio de carnes bovina e ovina da Marfrig para Minerva deve injetar cerca de R$ 5,7 bilhões ao caixa da companhia. O capital, segundo a direção do frigorífico, será usado para reduzir a alavancagem da Marfrig de 3,38 vezes reportado no segundo trimestre de 2024 para abaixo de três.
“A prioridade da Marfrig é reduzir alavancagem, estoque de dívida bruta e, assim, reduzir a despesa financeira. Esse combo gera valor para o acionista e vamos seguir nessa trajetória”, comentou o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Marfrig, Tang David. A previsão é de que a transferência dos ativos, totalizando 13 unidades industriais, seja concluída até o final do próximo mês.
Segundo o executivo, a redução da dívida permitirá à Marfrig avançar em seu projeto de expansão no segmento de produtos industrializados e de marca, onde a companhia tem obtido melhores margens quando comparado à venda de carne in natura.
“Nós lembramos sempre que essa otimização do portfólio e de complexos industriais busca operar unidades com o maior número de habilitações e melhor localização e com isso temos um menor custo, maior eficiência, garantindo principalmente margens maiores e mais resilientes”, detalhou o presidente da companhia para a América do Sul, Rui Mendonça.
Dentre os projetos de expansão da companhia, o executivo destaca a meta de aumentar os abates de gado próprio mantido em confinamento pela empresa e que foi anunciado no início deste ano. A perspectiva, conta, é que a operação com animais criados pela própria Marfrig permitam à empresa trabalhar com ocupação total de suas unidades de abate com produtos habilitados para exportação para mercados mais exigentes, como o europeu.
“Somando-se a operação em complexos industriais, o apoio dos confinamentos e a manutenção de todas as operações de industrializados, nós vamos caracterizar a Marfrig como essa empresa de alimentos que é o nosso projeto de futuro”, detalhou Mendonça
A venda de ativos da Marfrig para Minerva, aprovada nesta quarta-feira (25/9) pelo Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), deve ser concluída até o final de outubro deste ano, segundo informações divulgadas por ambas as companhias em Fato Relevante ao mercado.
Avaliada em R$ 7,5 bilhões, a transação prevê a transferência de seis plantas da Marfrig para a Minerva na América no Sul, sendo 11 no Brasil. Como parte das medidas de proteção concorrencial impostas pelo Cade, a Minerva aceitou alienar planta produtiva em Pirenópolis.
Segundo a Minerva, a unidade de Pirenópolis encontra-se desativada desde 2010 sem perspectiva de reabertura. Por determinação do Cade, a venda deve ocorrer em no máximo 12 meses ou ir a leilão caso não surjam compradores interessados dentro do prazo estipulado.
A aprovação da compra de ativos da Marfrig por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) “deve trazer o debate dos investidores sobre a Minerva de volta aos fundamentos de mercado, já que remove a pressão do acúmulo de juros sobre o valor de aquisição divulgado”, aponta relatório do Goldman Sachs.
Os analistas Thiago Bortoluci e Nicolas Sussmann avaliam como positivo, mas ainda apontam que a parte uruguaia possa trazer “alguma incerteza”.
O relatório pontua que, apesar de ser obrigada a se desfazer de uma das plantas adquiridas, na cidade de Pirenópolis, a companhia não deve sofrer efeitos materiais na economia da operação, uma vez que ela atualmente não está operando.
Na estimativa do banco, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) dos ativos que a Minerva está adquirindo é de R$ 905 milhões por ano antes das sinergias, implicando em um preço final de aquisição de 6,3 vezes o valor de mercado da empresa pelo Ebitda. Atualmente, a proporção é de 5,1 vezes, enquanto a média do setor é de 5 vezes.
O Goldman Sachs estima que, ao incluir o capital de giro mínimo necessário para impulsionar a operação, a alavancagem da Minerva será de 4,5 vezes o Ebitda. No segundo trimestre de 2024, a alavancagem não ajustada foi de 3,6 vezes.
“As perspectivas para o ciclo do gado no Brasil em 2025 estão melhorando progressivamente”, aponta a análise. No entanto, os analistas apontam como principais riscos para os investimentos a integração relacionada ao acordo pendente com a Marfrig, futuros dividendos e novos embargos de exportação. O relatório cita ainda como fatores a serem observados a volatilidade cambial, uma possível desaceleração da demanda chinesa, um aumento da competitividade do mercado e a instabilidade política e macroeconômica na Argentina.
O Goldman Sachs mantém sua recomendação de compra para a Minerva, com preço de R$ 7,55 por ação.
Fonte: Globo Rural.