No trimestre em que a pandemia derrubou a produção americana de carnes, suscitando preocupações sobre o abastecimento de alimentos nos Estados Unidos, a brasileira Marfrig Global Foods ganhou dinheiro como nunca. Entre abril e junho, o grupo lucrou R$ 1,6 bilhão, um desempenho recorde e mais de 17 vezes superior aos R$ 87 milhões de igual período de 2019.
No segundo trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado mais do que triplicou, chegando a R$ 4 bilhões. Com isso, a margem Ebitda ajustada bateu recorde – saindo de 9,1% para 21,5%.
O resultado foi catapultado pela oferta reduzida de carne nos EUA. Em meio ao espalhamento do vírus entre funcionários, dezenas de frigoríficos fecharam temporariamente, o que provocou uma disparada nos preços da carne bovina no país.
Nesse cenário, a Marfrig se beneficiou da estratégia adotada no primeiro trimestre, ao segurar as vendas para fazê-las quando os preços praticamente dobraram em comparação ao pré-pandemia. Nos Estados Unidos, o grupo é dono da quarta maior indústria de carne bovina – a National Beef. No segundo trimestre, as operações americanas foram responsáveis por 77% do faturamento da empresa brasileira.
Embora os negócios nos EUA tenham sido os principais responsáveis pelo desempenho positivo da Marfrig, o resultado na América do Sul – e particularmente no Brasil – também foi recorde, impulsionado pelo aumento da exportação e pela apreciação do dólar ante o real. Ganhos de produtividade, com maior rendimento de carne bovina na desossa, também contribuíram com a rentabilidade entre abril e junho.
Globalmente, a receita líquida da Marfrig atingiu R$ 18,9 bilhões no segundo trimestre, crescimento de 54,2% na comparação anual. Na América do Sul, as vendas renderam R$ 4,4 bilhões, incremento de 27,7%.
Nas operações americanas, o câmbio ajudou a impulsionar a receita em reais – R$ 14,4 bilhões, aumento de 64,6%. No entanto, as vendas também aumentaram em dólar. Entre abril e junho, a receita líquida da National Beef chegou a US$ 2,7 bilhões, alta de 19,3% na comparação anual. De acordo com o executivo Tim Klein, responsável pelas operações da Marfrig nos Estados Unidos, a companhia conseguiu um dos melhores desempenhos do setor.
Quando comparada ao resultado de concorrentes como a americana Tyson Foods, que divulgou recentemente o balanço do período, a estratégia adotada pela Marfrig de segurar as vendas mostra o êxito. Entre abril e junho, a receita do negócio de carne bovina da Tyson recuou 11,5%, enquanto o volume caiu 23,8%. No caso da Marfrig, a operação americana teve aumento da receita e redução de volume de 7%, abaixo da concorrência.
De acordo com Klein, a paralisação de frigoríficos por causa da covid-19 e o maior nível de absenteísmo provocado pela doença acabou se refletindo positivamente sobre a margem. De um lado, o preço do gado na região de Kansas, onde ficam os principais abatedouros do grupo, recuaram 9%. Do outro lado, o preço da carne bovina aumentou.
Com isso, a margem Ebitda ajustada do negócio da Marfrig nos EUA atingiu níveis sem precedentes. No segundo trimestre, o Ebitda da National Beef cresceu 170,4% ante igual intervalo do ano passado, atingindo US$ 631 milhões. A margem Ebitda chegou a 23,7%, alta de 13,2 pontos.
Segundo Klein, o Ebitda já inclui despesas de mais de US$ 50 milhões em medidas contra a covid-19, o que inclui bônus para desestimular o absenteísmo e investimentos em segurança. No terceiro trimestre, esses gastos devem cair para cerca de US$ 20 milhões. No segundo semestre, acrescentou ele, a margem deve voltar para patamares normais – a produção de carne já foi regularizada.
Na América do Sul, a rentabilidade também foi positiva, com margem Ebitda de 13,9%, avanço de 10,6 pontos. O resultado da região foi puxado pelas vendas à China e Hong Kong, que absorvem 68% das exportações de carne bovina da empresa.
Com o bom resultado operacional, o grupo gerou mais de R$ 3 bilhões em caixa e reduziu o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) de 3,56 vezes em março para 2,07 vezes em junho.
Fonte: Valor Econômico.