A Marfrig, uma das maiores companhias de proteína animal do país, está testando uma tecnologia que usa inteligência artificial na análise de solos, uma iniciativa que faz parte dos esforços da empresa para atingir a meta de neutralizar suas emissões de carbono até 2050. E, na primeira fase, os testes têm ocorrido nas fazendas de gado bovino de Marcos Molina, sócio controlador da companhia.
A tecnologia permitirá avaliar em segundos o teor de carbono e outros nutrientes no solo. A partir deste ano, a Marfrig vai oferecer a novidade também a pecuaristas que fornecem gado à empresa.
Fruto de uma parceria com a Agrorobótica, a tecnologia faz uso de laser e inteligência artificial para analisar o solo. “Essa medição é importante para criar uma linha de base que servirá de parâmetro para geração de créditos de carbono a partir das boas práticas que estão sendo adotadas por esses produtores”, explica Fábio Angelis, diretor da Agrorobótica.
O desenvolvimento da tecnologia incluiu a coleta de 890 amostras de solo ao longo de 2024. Com isso, foi possível medir o impacto da adoção de novas práticas de manejo para o balanço de carbono da companhia.
Desenvolvida em parceria com a Embrapa, a tecnologia é uma adaptação do sistema que a Nasa adotou para avaliar o solo de Marte em 2005. Foi com esse sistema que a agência espacial americana conseguiu constatar a presença de elementos químicos que indicam a presença de vida no planeta vizinho à Terra.
Foram necessários cinco anos de desenvolvimento para adaptar o sistema da Nasa para que ele passasse a analisar solos na agricultura e informasse os níveis de nutrientes efetivamente disponíveis. A tecnologia permitiu reduzir de 20 dias para 20 segundos o prazo para obtenção dos resultados. “A nossa técnica é limpa, sem uso de químicos, e rápida. Além disso, também atende à demanda do mercado voluntário de crédito de carbono”, detalha Angelis.
A medição tem reconhecimento da Verra, a principal certificadora de crédito de carbono do mundo. Essa chancela permitirá aos pecuaristas parceiros da Marfrig obter ganhos de US$ 20 a US$ 30 por tonelada de carbono sequestrado.
“A maior capacidade de sequestro de carbono está justamente em pastagens de boa qualidade, mais até do que sistemas integrados ou lavouras em plantio direto. É um potencial enorme”, destaca Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig.
A partir dos resultados que já obteve nas primeiras análises, a previsão da companhia é de que cada hectare de pasto gere créditos de cerca de 1,5 tonelada de carbono equivalente ao ano. A estimativa considera as práticas das duas propriedades testadas.
Após uma primeira medição, as propriedades serão avaliadas novamente após quatro anos para determinar a diferença que resultará na geração do crédito de carbono. Dentre as práticas que têm sido usadas, Pianez menciona a integração lavoura-pecuária e o manejo de pastagens.
“Essas práticas têm foco na redução de emissões, contribuindo para a meta da Marfrig de neutralizar as emissões da empresa até 2050”, observa o executivo. A expectativa, conta, é de que a tecnologia seja bem recebida pelos pecuaristas, já que ela pode aumentar os ganhos com a atividade graças à geração de créditos de carbono e também ao aumento da produtividade.
“Quando falarmos com os produtores, não vamos falar em sistemas de baixa emissão, mas sim de novas formas de o produtor rentabilizar o negócio dele. Com isso, normalmente temos uma facilidade grande de engajar esse produtor”, avalia Pianez.
Fonte: Globo Rural.