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1 de dezembro de 2006

Margem bruta na reposição: o que mudou na pecuária?

O acompanhamento da evolução da taxa de reposição é largamente utilizada na avaliação da atratividade econômica do boi gordo em relação à reposição. Sabe-se, entretanto, que o pecuarista quando realiza a reposição, não vende um boi para comprar 2, 2,5 ou 3 bezerros, mas faz a reposição de acordo com os planos para o próximo ciclo, sobrando-lhe uma margem para investimento, contas, lucro etc, o que convencionamos chamar de margem bruta na reposição.

O acompanhamento da evolução da taxa de reposição é largamente utilizada na avaliação da atratividade econômica do boi gordo em relação à reposição. Sabe-se, entretanto, que o pecuarista quando realiza a reposição, não vende um boi para comprar 2, 2,5 ou 3 bezerros, mas faz a reposição de acordo com os planos para o próximo ciclo, sobrando-lhe uma margem para investimento, contas, lucro etc, o que convencionamos chamar de margem bruta na reposição.

De acordo com os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA/SP), 2004 teve a melhor taxa de reposição desde 1997. Os dados do IEA compreendem uma série bastante longa dos preços do boi e bezerro no estado de São Paulo, que é referência para o Brasil inteiro. Vale observar que os dados do IEA podem ter pequenas diferenças em relação a outras fontes, como o índice Esalq/BM&F, mas são importantes indicadores da evolução dos preços na atividade e a fonte mais antiga de preços que se tem disponível.

Para desconsiderar a seqüência de planos econômicos e seus reflexos na atividade, vamos nos ater de 1994, início do plano Real, até outubro de 2006. Nesse período, a relação de troca média em 2006 está um pouco pior que os dois últimos anos, mas bem próximo da média do período (1:2,79), de acordo com os dados do IEA.

Gráfico 1. Evolução da relação de troca, média anual


Já a margem bruta do pecuarista decresceu de forma bastante linear, principalmente após o plano Real em 1994. A margem bruta considera um boi de 16,5@, descontado o preço de compra do bezerro e deflacionada pelo IGP-DI (referência: outubro/06). Tomar como base padrões históricos longos não é uma boa referência, pois uma série de fatores (como rebanho, mercado, tecnologias, estabilidade macroeconômica etc) mudam a realidade da atividade, mas mesmo comparando 2006 com anos mais recentes, a conclusão é a mesma que vem sendo exaustivamente comentada: a margem na atividade nunca esteve tão apertada, mesmo sem se analisar os custos de produção.

Gráfico 2. Margem bruta na reposição, deflacionada pelo IGP-DI (referência: outubro/06)


Veja nos gráficos 1 e 2 que nos dois últimos anos, em que as taxas de reposição estiveram boas, a margem bruta na reposição esteve em queda. Os anos 2001 e 2002, com taxas de reposição bem abaixo da média, tiveram margens próximas à média (margem média de R$ 694,78/cabeça no período). Os anos de 1999 e 2000 foram muito bons para a pecuária de corte, quando a desvalorização do Real frente ao dólar e a conquista do circuito pecuário centro-oeste de zonas livres de aftosa com vacinação favoreceram um crescimento das exportações de carne bovina in natura.

Os anos de 2005 e 2006 foram os piores períodos para a pecuária, quando a margem bruta esteve 14,60% e, até outubro deste ano, 21,13% abaixo da média do período. Durante o período entre 1996 e 2004, os valores de margem bruta estiveram bem próximos da média. Entre 2004 e 2005, a margem caiu 13,35% e, entre 2005 e 2006 (até outubro), caiu 7,65%, e tende a cair mais se os preços do boi mantiverem a tendência iniciada em meados de outubro deste ano. Vale lembrar que a margem bruta da reposição é uma estimativa do que “sobra” ao invernista, ao vender um boi gordo e comprar um bezerro.

Os gráficos 3 e 4 representam a evolução dos dois indicadores, de taxa de reposição e margem bruta deflacionada, mês a mês, portanto considerando os efeitos da sazonalidade, como em outubro deste ano em que a falta de bois levou ao pico de preços. Note que com o pico da relação de troca ocorrida no mês de outubro/06, em que o IEA cotou o preço médio do boi gordo em São Paulo a R$ 59,49/@, houve uma reaproximação da margem bruta à média dos últimos 7 anos, de R$ 662,41/cabeça.

Gráfico 3. Evolução da relação de troca em SP, mês a mês


Gráfico 4. Margem bruta na reposição, deflacionada pelo IGP-DI (referência: outubro/06), mês a mês


Abaixo, no gráfico 5, são representados os dados do indicador Esalq/BM&F sob a mesma abordagem. Este indicador, calculado pelo Cepea com base em levantamento diário das principais praças de comercialização do boi em SP e do bezerro no MS, tem uma série mais recente, e é atualizado diariamente, sendo possível traçar um panorama atual. É necessário ressalvar que não é diretamente comparável aos dados do IEA (nos quais o artigo se baseia) por terem especificações e metodologia de levantamento diferentes, mas há uma correlação no comportamento. Os dados do IEA resultam em uma margem mais elevada, dadas as especificações do bezerro (cruzado) mais barato que no caso do Esalq/BM&F (nelore).

Gráfico 5. Margem bruta na reposição, deflacionada pelo IGP-DI (referência: outubro/06), mês a mês com dados do indicador Esalq/BM&F


Os números mostram que a renda média por animal caiu nos últimos anos. Há diversos fatores pressionando a renda do pecuarista, como câmbio, aumento da concorrência com outras fontes de proteína no mercado interno, crescimento do rebanho etc. A aftosa, no geral, teoricamente não afetou a capacidade do setor de acessar mercados, visto que nossas exportações só têm aumentado, mas não permitiu a recuperação da margem bruta, iniciada antes da aftosa em outubro de 2005. Esse ano, com a recuperação dos preços do boi gordo a partir de final de julho, a margem bruta voltou a subir, chegando a R$ 658,26 em outubro desse ano, com a @ a R$ 59,49 e o bezerro a R$ 323,33, cotados pelo IEA.

O setor frigorífico exportador vem se organizando, aumentando sua eficiência e também seu poder de negociação na cadeia. Esse é um fator cada vez mais importante na formação de preços e descuidar disso terá efeitos negativos na lucratividade do setor produtivo.

O parecer da Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça sobre cartelização dos frigoríficos exportadores, publicado em 04/08/2006, concluiu que mesmo entre os frigoríficos, há uma clara distinção entre os exportadores, com elevado nível de organização, adoção de alta tecnologia e profissionalizados, e as indústrias que trabalham predominantemente com o mercado interno. O documento em PDF está disponível no site do Ministério da Justiça.

O setor produtivo aguarda a chegada de um novo ciclo da pecuária, com recuperação dos preços. No entanto, com o aumento da taxa de desfrute e novas tecnologias de produção, desde o início do plano Real, não há reversão de preços de forma sustentada.

Por outro lado, há alternativas de organização na pecuária onde pode-se explorar melhor a negociação com os frigoríficos, o uso de tecnologias de forma eficiente, as certificações e melhor remuneração pelo produto de qualidade. Veja a entrevista de Breno Barros, da Conexão Delta-G, em que o diretor técnico da Conexão afirma que entregar volume e regularidade é a melhor forma de se obter melhor negociação com o frigorífico, mesmo que seja para receber um diferencial pela qualidade (clique para acessar a entrevista).

Mesmo os frigoríficos teriam a ganhar no trabalho conjunto com pecuarista, desde que se consiga regularidade e volume necessários. Um bom exemplo disso são as certificações como o EurepGAP, que atestam as boas práticas agrícolas e segurança “da fazenda ao prato”, e que são essenciais para se acessar canais de comercialização mais restritos em mercados exigentes e que pagam melhor.

Como acontece com a maioria das comodities agrícolas em todo o mundo, a tendência de longo prazo é de diminuição da paridade entre preços pagos pelo produtor (custos) e preços recebidos (receitas). A compensação teria que vir do aumento da produção e eficiência produtiva. Ou seja, com uso de tecnologia e conhecimento, conseguir produzir cada vez mais com a mesma quantidade de insumos. Fábio Chaddad, professor do IBMEC, apresentou em agosto desse ano, uma palestra no evento AgriPoint Gestão Leite, dados dos EUA, onde em 90 anos (de 1914 a 2004) os preços pagos aumentaram mais de 17 vezes e os preços recebidos pelos produtos agrícolas aumentou apenas 7 vezes. Ou seja, a paridade entre os preços pagos e recebidos valia 43% em 2004 do equivalente em 1914.

A realidade da produção pecuária hoje é cada vez mais desafiadora para o setor produtivo, que precisa se adequar a pressões ambientais e sociais, aumentar sua eficiência, melhorar a qualidade de seus produtos e incrementar sua habilidade negocial e poder de barganha com frigoríficos. Os dados apresentados nesse artigo, mostrando o decréscimo da margem bruta da reposição ao longo dos anos confirma a necessidade de enfrentarmos esses novos tempos.

Aumentar poder de barganha, eficiência produtiva e gerencial, e qualidade do produto ofertado continuam sendo a tônica do mercado atual. Participe, dando sua opinião sobre que ações o setor produtivo deve fazer para aumentar a rentabilidade no atual cenário, no espaço para Cartas do Leitores, logo abaixo.

Esse artigo foi criado a partir de uma sugestão de um de nossos leitores. Convidamos você a fazer sugestões e comentários aqui.

0 Comments

  1. Julio M. Tatsch disse:

    Caro Miguel e Otavio,

    Cumprimento pela qualidade do artigo.

    Aqui no RS, temos insistido com os invernistas para que atentem aos preços da reposição (Terneiros á R$2,50/kg ou R$ 75/@ e machos com mais idade de R$1,85 a R$2,00/kg). As fêmeas estão trabalhando de pouco abaixo até acima dos valores dos machos, dependendo da qualidade, porém os criadores estão pagando mais que os invernistas de fêmeas. Neste quadro, os R$ 60 a R$58,50/@ pagos aos gordos, deixam o resultado econômico aos invernistas apertado ou negativo, agravado pelas pequenas escalas de produção. Portanto se os invernistas aceitarem as baixas propostas ou “impostas” por frigoríficos, a probabilidade é baixa de repassar aos criadores. Além do que seria ignorância, pois agravaríamos o quadro da oferta futura.

    O atual desequilíbrio nas oferta de reposição se deve a anos de preços aviltados, resultando em alto índice de abate de fêmeas, somado a secas continuadas com implicação na natalidade e crescimento de outras culturas sobre áreas de pecuária.

    O lado positivo desta situação é a “necessidade” da negociação firme com os frigoríficos, que não entendem outra linguagem a não ser a redução da oferta. Um amigo me disse que os pecuaristas não compreendem que aguentamos 30 dias sem vender (ou reduzindo sensivelmente a oferta), e neste período o frigorífico é obrigado a negociar ou fecha (logicamente antes haverá boatos de aftosa, sorologia positiva, devolução de carnes, derrubada da bolsa,….guerra de informações). Porém o lado mais sensível deles também é o bolso, e sabem fazer contas melhor do que nós.

    Nesta crise uma coisa que nos surpreendeu, foi a derrubada nos preços de SP, sem aftosa, sem cataclisma…! O estrago foi tal, que custamos a aceitar a “profecia de baixa auto-realizável”, pois pelo que sabemos os pecuaristas realmente vendem a estes preços. Aqui no RS já houve casos no passado de soltarmos bovinos gordos de volta a pastos de qualidade inferior…deixando que perdessem peso, quando os preços foram reduzidos de forma artificial e somado a reposição cara.

    Obs.: Uma grande rede atacadista/varejistas, no centro do RS, está recebendo carnes desossadas e maturadas, produzidas no Brasil central (Vilhena, Cacoal-RO á 3100Km; MG;GO;MT), porém a preços finais superiores a carne gaúcha.

    Outra constatação, desconhecemos manifestação da CNA a respeito do aumento das margens dos varejistas. Pelo que sabemos a baixa de mais de 15% aos pecuaristas do Brasil central não chegou aos consumidores. Com o agravante de que provavelmente a pecuária seja a atividade responsável pela maior parte da arrecadação da CNA e federações, portanto merecedora de maior atenção e retornos.

    Julio Tatsch – Agropecuarista e pres. do sind.rural de Caçapava do Sul – RS.

  2. Carlos Henrique Ribeiro Do Prado disse:

    Caros amigos, Dr. Miguel e Dr. Otavio, concordo com as análises: o maior inimigo do produtor é a tecnologia, ou seja, a alta produtividade dos tempos modernos. Além disso, a vida moderna oferta menos tempo dedicado à alimentação, o que exige alimentos processados (industrializados), o que agrega valor à indústria alimentar.

    Mas o que eu acho que mais pressiona o produtor é a diferença do tamanho financeiro do produtor e da indústria, fazendo com que a pressão financeira da indústria sobre o produtor seja muito grande, deslocando a maior parte do lucro no processo para a indústria.

    Quando se fala em aves, a indústria é dona de todo o processo produtivo, restando ao produtor apenas a locação dos galpões para a indústria. No caso da pecuária de corte a grande diferença é que os frigoríficos não conseguem comprar terras e matrizes suficientes para produzir a quantidade de bois para abastecer os abates, como agora, mesmo com os confinamentos, é preciso comprar bois magros.

    Portanto acho que se os produtores se organizassem, teriam como pressionar a indústria e aumentar a lucratividade, mesmo montando cooperativas e outras indústrias concorrentes. O valor das matrizes, gado de recria, terras necessárias, mão de obra e tempo são inimigos da indústria e armas na mão do produtor.

    Carlos Henrique Ribeiro do Prado
    Goiânia/GO

  3. JOSÉ SALGUEIRO disse:

    Existe um outro fator causal do valor baixo da @, o excesso de oferta de boi gordo pelos produtores ocasionais, ou sazonais, que se tornaram grandes produtores. Estou me referindo aos lavoureiros da Região Centro-Oeste. Esses produtores ocasionais, não se preocupam com o preço recebido dos frigoríficos, pois esta não é sua atividade principal, mas contribuem com a baixa dos preços (nestes últimos 10 anos, dezenas de milhares de bovinos gordos foram vendidos por este segmento).

    José Salgueiro
    Invernista – Pedra Preta – MT

  4. Dirceu Alves Vieira disse:

    Caros amigos coordenadores e participantes do BeefPoint, os dois comentários são a mais pura das realidades, nós produtores de gado de corte, precisávamos de mais união, coordenação para nos auto avaliarmos, e reagirmos contra ao cartel dos frigoríficos de manipulação dos preços.

    Caros Carlos Henrique e Júlio Tatsch o comentário de vocês realmente foi espetacular e gostaria se fosse possível compartilhar de mais alguns comentários.

    Dirceu Alves
    Gerente de Confinamento
    Vera Cruz Agropecuária Ltda.

  5. Luciano Andrade Gouveia Vilela disse:

    Muito bom o trabalho apresentado, parabéns.

    Tenho dito muito sobre esse assunto por que pessoas que insistem em rir da crise (frigoríficos e compradores de boi gordo por exemplo) faz dois anos que só falam que está boa a reposição. Ora o dinheiro do boi não paga só bezerro, ele tem que pagar o pro labore do proprietário (Seguro saúde, prestação do carro, telefone, energia, e diversos outros componentes do custo de vida; além do custo de produção – horas de trator, mão de obra, arame, remédios, herbicidas, sal, ração, adubo semente etc.) será que a relação de troca destes insumos está tão boa quanto comprar um bezerro?

    Os atuais R$ 500,00 da margem bruta da reposição é do boi gordo para o bezerro, então a grosso modo deve se dividir esse valor por 2 anos, tornando-se R$ 250,00 por ano. Vai depender do custo de produção de cada pecuarista, mas quem estiver fazendo reforma de pastos, sub-divisão de pastos e dando uma pincelada na fazenda gasta aproximadamente isso por boi por ano. E agora José? Viver de quê?

    Abraços a todos

  6. Hélcio Sena Pinto disse:

    Caros colegas;

    Sou produtor e acho que o grande diferencial no nosso negócio em relação aos demais é que na grande maioria das atividades econômicas quem fixa o preço do seu produto é o proprietário da mercadoria (caso de imóveis, veículos, peças, materiais de construção e outros) e infelizmente no caso do nosso produto, que é o boi, isso não ocorre.

    A saída é uma união dos produtores em associações ou centrais de comercialização com o objetivo de melhorar a barganha com os frigoríficos regulando a oferta do produto final, que é o boi gordo.

    Enquanto o produtor estiver desorganizado neste aspecto da venda do seu produto estaremos em desigualdade na negociação e no sistema capitalista o outro lado sempre quer mais (obviamente).

    Infelizmente na época do boicote que os pecuaristas montaram em relação aos frigoríficos, esta idéia da união por ocasião da venda do nosso produto não tenha prosperado como deveria.

    Abraço a todos

    Hélcio Sena Pinto

  7. Luiz Antonio Guido Rios disse:

    A análise é muito objetiva .Mas eu pergunto , os criadores que produzem bezerros para vender não são considerados pecuaristas? Pelo seu artigo parece que os criadores são de outro grupo!

    Acho um absurdo o “invernista ” (este é o verdadeiro pecuarista?) querer descarregar sua ineficiência nas “costas” do criador, mas é isto que está ocorrendo. Será que os articulistas acham que bezerro nelore cai do céu? Vossa avaliação é perfeita sob o ponto de vista dos “engordadores de boi ” mas registro meus protestos por não ter nem sido considerado a parte dos criadores.

    Apesar de tudo somos parte da cadeia produtiva e não temos a quem repassar nenhuma ineficiência. Volto a alertar aos articulistas e formadores de opinião, bezerro nelore com 7,5 @ na desmama não cai do céu. Sua avaliação é muito primária e carece de consistência quando avaliada toda a cadeia produtiva . Considero inclusive que este artigo deve ser reescrito para fazer jus a realidade . Uma sincera auto crítica também acho que seria bem-vinda.

  8. José Luiz Martins Costa Kessler disse:

    Prezados Miguel e Otavio,

    Parabéns pelo excelente trabalho. As informações que vocês repassaram são de grande validade e servem de parâmetro para análise da atividade em qualquer local que se produza carne bovina.

    Os dados estão muito bem interpretados e são dignos de merecido aplauso. Ficou muito claro que a análise da margem bruta da reposição é mais importante que a relação de troca. O comentário do colega Luiz Antonio Rios é parcialmente procedente, mas o texto está dirigido a análise da reposição e não de todo o conjunto da produção da carne bovina. Mesmo assim, o produtor de terneiros poderá analisar as informações passadas e verificar o melhor momento para intensificar ou desacelerar seus investimentos.

    A carta do colega Julio Tatsch demonstra como a situação tornou-se, momentaneamente, favorável ao gado de cria no RS. Para finalizar agradeço ao BeefPoint que firma-se como a grande ferramenta de informação e ponto de encontro dos produtores da carne bovina. Cordiais saudações, José Luiz Kessler.

  9. Ruy Armelin disse:

    A análise dos articulistas por sua tecnicidade resta pouco a acrescentar por sua precisão na evolução (negativa) de margem bruta do invernista. Note-se a repercussão pela quantidade de aposições.

    Mas concordo com o paulista de fazenda em Pedra Preta e acrescento o que digo sempre: tragicamente para nós que vivemos da pecuária ela ainda é a melhor atividade para se colocar dinheiro do caixa 2,3,4 etc. que naturalmente é tão pecuarista quanto nós dentro da fazenda mas sem nenhum compromisso com lucro.

    Tenho acompanhado a combatividade dos gaúchos em especial do Júlio Tatsch e sorte de vocês que no momento tem preços bem melhores que os de cá.

    Mas permitam-me uma brincadeira de fim de semana: vamos propor ao “nosso” presidente a criação do Bolsa-carne (ou Vale-carne?) para alimentar todo o povão e alavancar nossos preços.

  10. Antonio Luiz Junqueira Caldas Filho disse:

    Engraçado! Só a iniciativa privada tem que ter desenvolvimento tecnológico, aumento de produtividade e redução de custos. Poxa! Acho que o empresário brasileiro está cansado disso! Para o governo, melhorar o poder aquisitivo do povo, significa aumentar o salário mínimo, para nós, significa mais custo.

    Por que o governo não pode trabalhar para ser mais eficiente? Alguém aí já sentiu alguma diferença na economia com essa queda de juros? Queda de juros? Onde? Eu senti que meu dinheirinho aplicado está rendendo bem menos…Vamos criar um GUT ou GEE para eles também.

    Eu sempre chamo a atenção para o Custo Brasil! Temos muita oferta! Vai reduzir seu rebanho abaixo dos índices mínimos para ficar passível de desapropriação! Isso está ficando complicado. Tenho 35 anos e desde criança lido com fazenda e nunca vi o negócio tão enroscado. Vou sugerir também o bolsa vermífugo, bolsa diesel (esse vai ser jóia), bolsa arame etc…

  11. Hans Nagel disse:

    Boa Noite

    Muito bom o artigo dos senhores Cavalcanti e Negrelli. Também os caros companheiros e leitores se expressaram muito bem nas suas cartas.

    Durante 15 anos tentei de formas diversas convencer os nossos colegas pecuaristas que devemos formar uma organização nossa, que apresenta credibilidade profissional e representatividade, para não acontecer o que hoje vivemos. As minha propostas foram consideradas utopias num país como Brasil.

    Considerando que eu estava certo, que chega o dia que arrependemo-nos da nossa falta de ação, eu ainda não presenciei uma proposta concreta de ação para sairmos desta situação catastrófica.

    Eu já tenho 70 anos e sustento a minha família da pecuária, pois não me sobra forças para sair e pregar de novo o nosso latim.

    Caros jovens se pretendem ficar no negócio, é agora que é tempo de agir. Por favor, mexam-se.

    Cordialmente
    Hans Nagel

  12. Renata Erler disse:

    Sou zootecnista e estou no mercado há pouco tempo.

    A pecuária brasileira tem grande poder e está em franco crescimento quanto à produção, porém a falta de informação por parte da maioria dos produtores (que são de pequeno porte), e a não adoção de tecnologias, tem prejudicado o desenvolvimento do setor, pois produzimos em quantidade, mas não em qualidade.

    Essa resistência do produtor é cultural, mudar a cultura das pessoas é difícil, mas isso cabe á capacidade dos técnicos em provar o que é melhor para uma propriedade.

    Será que é difícil entender que o setor é formado por uma cadeia produtiva? Uma cadeia é formada por vários elos, onde um depende do outro, e quando um desses não funciona bem todos os outros são prejudicados á médio e longo prazo.

    Por isso vai um recado para os frigoríficos: a culpa não é apenas do governo, é nossa também. O produtor rural (pecuarista) é o detentor da matéria prima utilizada por vocês. Como o produtor é sempre o maior prejudicado, será que o setor vai conseguir a evolução desejada?

    São vocês que dependem do produtor, e não o contrário.

  13. Moacy Guilherme Botelho Coelho disse:

    Boa noite, comentaristas de pecuária! Li todos os artigos gostei muito e quero comentar em outro momento, agora, quero parabenizar a Renata Erler por sua participação, visto que estamos mais ou menos na mesma região e temos mais ou menos os mesmos problemas.

    Vamos trabalhar para melhorar esta cultura, mostrar custo de produção para nossos pecuaristas,e este é realmente um compromisso para os técnicos.

    Falamos em custo de produção, onde temos @ em dólar, de C$ 2,20 e todos os produtos adquiridos também em dólar antes de Fernando Henrique, em torno de C$ 3,90, e tudo sobe cada dia, portanto fica muito difícil fazer custo de produção.

    A menos que exigirmos, como disse o Antonio Luiz Junqueira Caldas filho em seu artigo Bolsa arame, vermífugo, mineral, e daí por diante.

  14. Felipe Sangalli Dias disse:

    Caros Miguel e Otávio, venho cumprimentar vocês por mais este artigo brilhantemente escrito.

    Admiro o fato de o Brasil Central possuir indicadores tão precisos do preço do boi, como o BM&F, por exemplo. Aqui no Sul o mercado do boi magro é balizado por parâmetros especulativos, onde os pecuaristas comparam a que valor está sendo negociado o boi na região, para depois colocar o preço no seu gado.

    Cumprimento também o colega Julio Tatsch pela contribuição, apesar de concordar parcialmente com o que foi postado pelo mesmo.

    O que vem definindo qual vai ser a rentabilidade da pecuária na nossa região, certamente é o preço do boi magro e não o do boi gordo. Em 2006 o preço do boi/vaca de invernar oscilou muito mais que o preço do boi gordo. O fato é que durante uns dois anos vamos amargar uma rentabilidade insatisfatória (e não negativa, como afirmam os pessimistas), se compararmos aos anos de 03, 04, 05 e metade de 2006, pelo simples fato de que atravessamos um momento de reposição escassa.

    O próprio Sr. Júlio mencionou que o criador está pagando mais pela vaca do que o invernador. Isto sinaliza que o ciclo novamente inverterá, haverá novamente alta quantidade de bois para reposição, e quando isso ocorrer, independentemente do o “mercado” estiver pagando pelo boi gordo, o invernador vai rentabilizar melhor seu rebanho, pois a relação de troca entre boi magro e gordo será bem maior, se compararmos aos dias atuais.

    O fato do pecuarista não conseguir ficar 30 dias sem vender gado gordo, é uma questão de fluxo de caixa e planejamento. Também não acho que se deva segurar o boi gordo no pasto. Boi gordo… “tem matar” para que seja aberto espaço na pastagem (seja ela nativa ou cultivada) para outros animais. Seria como: “ganhar menos em mais”.

    Após anos no mercado de assessoria, temos a certeza que o aumento de produtividade impacta mais no resultado do sistema, do que uma melhor comercialização. Não estou dizendo que não temos que agregar valor no nosso produto, mas estou certo que a valorização do boi e o aumento de produtividade devem ser uma busca constante do produtor.

    Entendo que aqui no Sul a escala de abate por produtor é baixa. Mas este problema de escala só pode ser resolvido com verticalização de produção, ou seja, aumentar o ganho por unidade de área.

    Agradeço por poder participar deste espaço democrático. Um abraço a todos,

    Eng. Agr. Felipe Sangalli Dias
    Assessoria Agropecuária Marcon S/C Ltda.

  15. Antonio Pereira Lima disse:

    Parabéns Miguel e Otávio e a toda equipe BeefPoint,

    Vocês estão tendo um papel fundamental, dando condições para que o produtor possa se manifestar.

    No caso da reposição, nós não podemos esquecer, que nos últimos anos a pecuária vem passando por um processo de melhoramento genético, sendo assim, todos os bois abatidos tem qualidade inferior aos bezerros de reposição, neste caso, número e qualidade tem o mesmo peso.

    Tanto é verdade, que nos últimos anos já comemos duas eras de bois e estamos produzindo muito mais.

    No caso dos frigoríficos, eles têm uma fôrça danada para comprar, mais são muito mais fracos do que nós na hora de vender,e muito mais desunidos. E nós podemos ter a mesma estratégia,e coitado dos vendedores de arames,sal mineral,vacina anti-aftosa, vermífugos, tratores etc… No dia que perceberem que eles só têm um cliente: o produtor rural.

    Não desanime Sr Hans, o que nós mais precisamos é de liderança,mas líderes que tenham compromissos com a classe e não somente com as suas vaidades.

    um abraço a todos,