Surgiu mais um foco de raiva animal na área de abrangência da represa de Manso, agora numa fazenda de Água Fria, em Chapada dos Guimarães. O foco foi confirmado na última quarta-feira pelo Laboratório de Apoio à Sanidade Animal (Lasa) do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), por meio do exame do cérebro de um animal morto na propriedade, com sintomas de ser portador da doença.
É o terceiro foco de raiva animal que surge no entorno da represa num período de menos de quatro meses, de novembro até agora, e que já causou a morte de 800 animais, segundo fazendeiros da região. O Indea vai começar a trabalhar na área a partir de quinta-feira para debelar o foco.
Uma equipe do Indea passou quarta e quinta-feira à noite na Agropastoril Pirâmide, em Rosário Oeste, fazendo captura de morcegos que estão transmitindo a raiva animal ao rebanho bovino daquela região. Conforme o médico veterinário Edilberto Marques Lemes Pinto, que comandou a operação, foram coletados 34 morcegos, entre hematófagos, o hospedeiro natural do vírus da raiva, e frutívoros, que se alimentam de frutas.
Feita a identificação, foi passada uma pasta vampiricida nas costas dos hematófagos e devolvidos ao habitat para envenenar os grupos que se juntarem para fazer a higiene do companheiro de comunidade.
Acompanhou o pessoal do Indea uma equipe do Pólo de Saúde de Diamantino, que aplicou a vacina anti-rábica em pessoas que lidam diretamente com gado, incluindo açougueiros. As duas equipes estiveram também nas fazendas Campanário e Santo Antonio, na região de Matão.
O grupo percorreu inclusive uma caverna numa montanha na última fazenda, suspeita de ser o principal refúgio dos morcegos que estão atacando os animais de uma gigantesca área da hidrelétrica da represa de Manso. Todo o rebanho de um raio de 25 km da fazenda Pirâmide está sendo vacinado contra a raiva animal.
Doença causa prejuízos no oeste goiano
Na região de Iporá, em especial no município de Palestina de Goiás, a raiva bovina vem matando muitos animais e é um risco também à saúde humana. Além dos prejuízos, a polêmica em torno da situação é grande. Os fazendeiros garantem estar tomando as providências necessárias e acusam o escritório regional da Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário (Agenciarural) de omissão. Por outro lado, técnicos da Agenciarural garantem estar desempenhando seu papel e que vêm intensificando o controle da doença no Estado. A região de Iporá, que possui muitas grutas e serras, é um hábitat propício para os morcegos transmissores da doença.
O pecuarista e veterinário Adailton Leite afirma ter perdido seis animais, mesmo tendo vacinado o rebanho. Ele garante que alguns criadores tiveram perdas maiores e que a situação tende a piorar. Segundo ele, a região não está recebendo o atendimento necessário, e os prejuízos econômicos estão muito grandes. Adailton afirma que a doença vitimou, apenas no ano passado, cerca de 500 animais.
Notificação
Responsável pela equipe de controle de raiva da regional Caiapó (Iporá), a veterinária Neiva Alves Lima, garante que nunca deixou de atender nenhuma notificação. Entretanto, ressalta que os técnicos só agem mediante notificação, já que as equipes são reduzidas e o número de propriedades é muito grande. De acordo ela, apenas na região de Iporá são mais de seis mil. Neiva conta que em janeiro deste ano foram confirmados, oficialmente, dois focos da doença em Palestina de Goiás.
Em caso de presença de morcegos na propriedade ou de perda de animal supostamente vitimado pela doença, o produtor deve entrar em contato com um escritório regional da Agenciarural. A partir desse procedimento, os técnicos começam o trabalho de rastreamento e coleta de material, que só pode ser feito por profissionais habilitados.
A captura do morcego é o método utilizado para controle, mas Neiva salienta que ela não deve ser vista como principal medida de combate à doença, já que não soluciona o problema. A vacinação é imprescindível, tanto que é obrigatória em mais de 35 municípios goianos. O ideal é que ela tenha caráter preventivo, os animais devem receber a primeira dose e, após 30 dias, o reforço. Depois disso, devem ser vacinados uma vez ao ano.
Outra recomendação dos técnicos é que os animais, principalmente os bezerros, sejam recolhidos dos pastos à noite para que durmam em currais, próximo à sede, facilitando a observação. Segundo o coordenador estadual do Programa de Controle de Raiva dos Herbívoros da Agenciarural, veterinário João Alberto Rabelo, um dos sintomas de que o animal está com a doença é a dificuldade de deglutição. Ele também fica descoordenado e salivando muito. Outros sinais são restos de sangue no pêlo, isolamento, tremores musculares, falta de ruminação, olhos lacrimejantes e sonolência.
Fonte: Diário de Cuiabá/MT (por Nelson Severino) e O Popular/ GO (por Tatiana Cruvinel), adaptado por Equipe BeefPoint