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Maximização do desempenho de gado de corte em pastejo

Antonio Gesualdi Júnior e Ana Cristina Ladeira de Souza Gesualdi

As estratégias de alimentação e os dados sobre requerimentos nutricionais dos bovinos estão em constante aperfeiçoamento por causa das mudanças que ocorrem nas tecnologias, nos obstáculos ambientais e devido à melhoria nos padrões genéticos dos animais.

Nas pastagens, os animais estão sujeitos a uma grande variedade de condições de alimentação, manejo e stress ambiental. A produção animal a pasto requer conhecimento sobre controle e manejo que atenda aos requerimentos nutricionais para o nível desejável de produção. Um dos principais problemas é a dificuldade para associar crescimento e qualidade das forragens com a demanda de alimentos pelos animais (NOLLER 1997).

Devido ao fato de animais em pastejo caminharem distâncias maiores do que os estabulados, o gasto de energia para o trabalho muscular é maior. O gasto de energia dos bovinos em pastejo é influenciado pela qualidade e disponibilidade de forragem na pastagem, pela topografia, clima, distribuição de água, tipo genético e interação entre esses fatores (NRC 1996). Animais a pasto podem apresentar acréscimos de 25-100% nas exigências energéticas de mantença devido a gastos energéticos adicionais pela procura de alimentos no pasto ou devido ao tempo gasto na alimentação e ruminação, dependendo da maturidade e qualidade da forragem. Outros estudos mostram que o aumento nos requerimentos de energia de mantença de bovinos em pastejo, comparado com estabulados, pode ser de 10 a 20% nas melhores condições de pastagens e pode ser de aproximadamente 50% para bovinos em sistemas extensivos com áreas montanhosas em que sejam necessárias grandes caminhadas para obter alimento e água.

Estudos de desempenho com animais em pastejo, são escassos na literatura brasileira. ZERVOUDAKIS (1999), trabalhando com engorda de mestiços Holandês-zebú castrados, em pastagem de Brachiaria decumbens no período chuvoso e com suplementação (cinco tratamentos conforme Tabela 1), não encontrou diferenças, inclusive em relação ao tratamento controle (SAL). Os animais que receberam concentrado (MFS ou FTFS), tiveram acesso ao mesmo sal mineral do tratamento só de sal.

Tabela 1 – Composição dos suplementos (%), com base na matéria natural

Tabela 1

Os ganhos de peso vivo/cabeça/dia dos animais, foram de 0,89 kg para SAL; 0,94 kg para MFS (1kg); 1,05 kg para MFS (2kg); 0,94 kg para FTFS (1kg) e 1,01 kg para FTFS (2kg). Provavelmente, os animais neste estudo atingiram o seu limite genético devido à grande oferta de capim de boa qualidade e mesmo aqueles que consumiram somente pasto e mistura mineral (SAL), apresentaram ótimo desempenho (0,89 kg/cabeça/dia). As misturas com farelos provavelmente ocasionaram efeito substitutivo do pasto pelo concentrado, devido ao fato de serem de caráter energético. Nota-se que o desempenho alcançado por estes animais, engordados a pasto, é bem próximo a resultados atingidos em muitos confinamentos. A engorda a pasto visando alto desempenho precisa ser praticada com baixa taxa de lotação, para que os animais encontrem boa oferta de forragem e possam selecionar a dieta. Em algumas épocas do ano, por exemplo na seca, será necessário a inclusão do suplemento múltiplo, ou seja, mistura que contém não apenas o sal mineral, mas também farelados. A diferença é que, tanto na seca quanto nas águas, os gastos com mão de obra e maquinário para alimentação do gado são inferiores àqueles necessários num confinamento. Isto porque o boi colhe o capim sem auxílio de ninguém.

O consumo de alimentos desempenha um papel fundamental sobre a nutrição. Mudanças no consumo, exercem um impacto maior sobre a produção animal do que mudanças na composição química ou disponibilidade de nutrientes do alimento. Aumentos na digestibilidade da forragem ocasionam variações de cerca de 2,5% sobre o desempenho de bovinos em pastejo. Por outro lado, o consumo pode ocasionar variações na ordem de 50% ou mais sobre o desempenho. Isto indica que os técnicos e produtores devem se preocupar em aumentar ao máximo o consumo de pastagem pelos animais e corrigir as deficiências de proteínas e minerais dessas pastagens, através de suplementos múltiplos.

A característica do manejo adotado sempre se mostrou a variável mais efetiva no que diz respeito ao resultado da produção e qualidade da forrageira nas pastagens. Estratégias de suplementação, somente trarão benefícios econômicos ao sistema, se forem precedidas de adequado manejo dos pastos. Basicamente a alternativa mais comum é a reforma de pastagens nativas, com introdução de espécies que proporcionam melhor performance animal. O emprego dessa técnica demanda investimentos por parte do pecuarista, mas isto é indispensável no contexto atual da atividade pecuária. A outra alternativa de manejo, é o uso da forragem em pastejo, nos estágios imaturos, em que ela se encontra mais folhosa (MINSON 1990). Entretanto, existe o compromisso de conviver com o paradoxo qualidade e produtividade, além da necessidade de manutenção/conservação da pastagem.

Quando o bovino encontra um relvado com grande quantidade de plantas amadurecidas, a proporção de folha na dieta poderá ser alta, mas isso se deve à oportunidade de seleção por parte dos animais. Manejar pastagens com menor taxa de lotação, tendo o objetivo de maximizar o desempenho animal, tem mostrado resultados econômicos desejáveis em regiões onde a terra não é fator limitante. A Tabela 2, mostra que menores taxas de lotação ocasionam um período menor de dias para o abate.Consequentemente, ficando menos tempo na propriedade, o bovino necessita de menos matéria seca e proteína para atingir o peso de abate.

Tabela 2 – Requerimento de matéria seca e proteína por um novilho para recria e engorda, dos 150 aos 450 kg de peso vivo.

Tabela 2

Neste contexto, a pastagem deverá apresentar mais que os 2500 kg de matéria seca/ha recomendados atualmente pela literatura. Porém, estudos sobre essa questão ainda são escassos no Brasil. Se esse manejo for empregado, cerca de 50% do recurso forrageiro estará disponível para o animal, que obviamente irá selecioná-lo, e os 50% restantes ficam para o sistema solo-planta.

Apesar da capacidade dos ruminantes de utilizar alimentos fibrosos e subprodutos, o acesso a partes selecionadas e de melhor qualidade das forrageiras proporciona menor tempo de retenção da digesta no rúmen e maiores taxas de consumo. As partes das plantas que apresentam melhor qualidade, atingem os pontos finais de digestão rapidamente, minimizando a limitação de consumo pelo enchimento e permitindo maior consumo animal.

Novamente ressalta-se que os resultados sofrem influência também da disponibilidade de capim no pasto e não somente do valor nutritivo da gramínea. Os ganhos médios obtidos no experimento de ZERVOUDAKIS (1999) de 0,960 kg/d, numa pastagem contendo entre 5771 a 7739 kg de matéria seca/ha, foram superiores aos de EUCLIDES et al. (1998), que relataram ganhos de 0,417 kg/d, para bovinos utilizando a mesma espécie de gramínea, com massa de 2000 kg de matéria seca/ha e uma suplementação com 75% de MDPS e 25% de farelo de soja, fornecida na quantidade de 0,8% do peso vivo do animal. A melhor qualidade da pastagem, aliada à sua elevada disponibilidade encontrada no primeiro estudo, possivelmente possibilitou maior seletividade da forragem ingerida pelos animais, propiciando assim, melhor desempenho dos mesmos.

Para reduzir a queda da qualidade das forrageiras tropicais, que ocorre na medida em que há acúmulo de massa no campo, basta promover o pastejo intensivo a intervalos regulares de tempo, visando a eliminação do resíduo e melhoria da qualidade das plantas.

Concluindo, a falha dos animais para expressar seu pleno potencial genético sob condições de pastejo, se deve a inabilidade para consumirem uma adequada quantidade de nutrientes a partir da pastagem mal manejada e sem correção de suas deficiências, que deveria ser feita de forma estratégica. Assim, é necessário buscar alternativas de manejo para conviver com o paradoxo: fornecimento de alimento em pastejo versus qualidade do alimento consumido pelos bovinos.

Referências Bibliográficas

BLASER, R.E., Manejo do complexo pastagem – animal para avaliação de plantas e desenvolvimento de sistemas de produção de forrageiras. In: pastagens. Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba/SP, 1990. p. 157-205.

EUCLIDES, V.P.B., EUCLIDES FILHO, K., ARRUDA, Z.J. et al. 1998. Desempenho de novilhos em pastagens de Brachiaria decumbens submetidos a diferentes regimes alimentares. R. Bras. Zootec. , 27(2): 246-252.

MINSON, D.J. Forage in ruminant nutrition. New York: Academic Press, 1990. 483p.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. 1996. Nutrients requeriments of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C. 244p.

NOLLER, C. H. Nutritional requirements of grazing animals. INTERNATIONAL SIMPOSIUM ON ANIMAL PRODUCTION UNDER GRAZING. Viçosa, 1997. p. 145-172.

ZERVOUDAKIS J. T. Cromo e constituintes da forragem como indicadores, consumo e parâmetros ruminais em novilhos mestiços, suplementados durante o período das águas. Viçosa, MG: UFV, 1999, 115p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, 1999.
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Antonio Gesualdi Júnior é Zootecnista, Doutorando em Nutrição de Ruminantes, Departamento de Zootecnia, UFV – Viçosa, MG

Ana Cristina Ladeira de Souza Gesualdi é Zootecnista, Mestre em Nutrição de Ruminantes, CCTA, UENF – Campos, RJ

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