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Mecanismos potenciais para as variações na eficiência alimentar em ruminantes

Há uma variação sistemática na eficiência de utilização dos nutrientes para manutenção e crescimento nos bovinos em função da quantidade e tipo de alimento consumido, sexo, grupo genético e condições ambientais. Essas variações constituem um importante fator de aplicação prática na nutrição animal e, conseqüentemente nos sistemas de simulação de exigências e produção.

Há certa restrição em aceitar que animais de mesmo grupo genético, com mesma alimentação tenham variações na utilização dos nutrientes, porém recentes pesquisas demonstraram que a seleção de animais que ingerem menos alimentos e apresentam mesmo peso vivo e ganho de peso (residual feed intake), geram progênies divergentes em relação a essa característica, explicitando haver variação genética para essa característica (Herd et al., 1997).

De maneira geral, podemos citar como os cinco maiores responsáveis pela variação na eficiência alimentar:

– Ingestão de alimentos
– Digestão dos alimentos (custo energético associado ao processo)
– Metabolismo (anabolismo e catabolismo associado à variação na composição corporal)
– Atividades
– Termoregulação

Diversos trabalhos científicos mostram que as variações genéticas observadas no fenótipo dos animais não são devido a um único fator genético, ou a expressão de um único gene.

Ingestão de alimentos

A variação na ingestão de alimentos, pura e simples, está diretamente relacionada com a variação nos requerimentos de mantença entre os diferentes grupos genéticos.

Com o aumento da ingestão, aumentam-se os gastos de energia para digestão, basicamente devido ao aumento do tamanho de órgãos. Além disso, a quantidade de energia gasta pelos tecidos também vão aumentar em relação à unidade de peso animal.

O incremento calórico relacionado à alimentação é conhecido há bastante tempo, e nos bovinos está ao redor de 9% da energia metabolizável ingerida. Portanto, nos casos de seleção de animais com menor ingestão, porém com mesmo desempenho, um dos pontos possivelmente interferentes seria menor gasto de energia na mantença e digestão.

Tabela 1. Possíveis fatores inerentes à variação na ingestão total de matéria seca (residual feed intake) em bovinos.


Digestão

Com o aumento da ingestão total de matéria seca ocorre queda na digestibilidade total da dieta. Outro ponto bastante importante em relação às variações ocorridas no trato digestivo total, em relação às diferenças na ingestão total de matéria seca, está relacionado ao suprimento de aminoácidos ao intestino, devido à variação na eficiência de produção de proteína microbiana no rúmen (Oddy, 1999).

Em ovinos, foi observada diferença de 10% na produção total de proteína microbiana e 30% no fluxo total de aminoácidos no sistema portal.

Composição corporal e metabolismo

O custo energético no deposito de uma mesma quantidade de tecido adiposo ou muscular é bastante diferente, sendo maior no caso do tecido adiposo. Com isso, variações ocorrendo na composição do ganho, e conseqüentemente na composição corporal, podem interferir na eficiência alimentar aparente e na utilização dos nutrientes.

A variação genética em relação à eficiência de utilização de energia foi observada em bovinos selecionados para crescimento, ou não, e variou em aproximadamente 20%. Grande parte dessa diferença é devido às diferenças de degradação e síntese de proteína no tecido muscular (Oddy, et al. 1998).

Essas conclusões puderam ser confirmadas com as diferenças observadas também para calpastatina, inibidor específico da protease calpaína.

Atividades

Termorregulação é o balanço entre a energia ingerida e, o total de energia utilizada pelo organismo. É possível que exista variação individual na produção de calor e, conseqüentemente, no total de energia disponível para mantença e crescimento.

Segundo Richardson (1999), animais que diferem em “residual feed intake” também diferem quanto às atividades, o que significa mais trabalho muscular e aumento nos gastos de energia. Um bovino de 350 kg, ganhando 1,3 kg/dia, se aumentarem as atividades de andar e permanecer em pé em 25%, terá um gasto extra de 3% na energia pra mantença.

O tempo gasto em alimentação, também pode ser um fator relevante nos gastos de energia pra mantença, sendo que animais que utilizem menos tempo se alimentando, pode ter uma vantagem em relação à energia gasta pra mantença.

Referências bibliográficas

ODDY, V.H.; HERD, R.M.; McDONAGH, M.B.; WOODGATE, R.; QUINN, C.A.; ZIRKLER, K. Effect of divergent selection for yearling growth rate on protein metabolism in hind-limb muscle and whole body of Angus cattle. Livestock Production Science, v.56, p. 225-231, 1998.

ODDY, V.H. Protein metabolism and nutrition in farm animals. In: Protein metabolism and nutrition. p. 9-23, 1999.

RICHARDSON, E.C.; KILGOUR, R.J.; ARCHER, J.A.; HERD, R.M. Pedometers measure differences in activity in bulls selected for high and low net feed efficiency. Proceedings of the Australian Society for the study of animal behavior, n. 26, p. 16, 1999.

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