Em abril, a forte valorização do Real e o fraco desempenho do mercado atacadista alimentaram pressões baixistas. Em apenas 20 dias a cotação do dólar caiu mais de 10%, reduzindo a margem dos exportadores.
Além do mais, com a defasagem entre equivalente físico (48% de traseiro + 39% dianteiro + 13% ponta de agulha) acima de 20%, os frigoríficos alegavam que não havia como repassar à carne os custos de aquisição do boi.
Porém, o boi balançou, mas não caiu. As desvalorizações restringiram-se a poucas praças e, onde ocorreram, não foram superiores a R$1,00/@.
Os produtores seguiram retendo os animais em engorda, cadenciando as vendas e mantendo os preços firmes. A verdade é que o dólar caiu, mas os custos de produção não.
Na média das 25 praças pesquisadas pela Scot Consultoria, a baixa acumulada foi de apenas 0,5%, ou seja, praticamente não houve variação.
Essa queda de braço frigoríficos x produtores deverá se estender ao menos até que algum novo fator – como estiagem, geadas etc. – leve ao aumento da oferta de animais terminados.
Alguns pontos, porém podem amenizar a desvalorização do boi gordo, caso essa realmente venha a acontecer.
Há um visível aumento das áreas de lavoura em detrimento das áreas de pastagens, resultando na redução da oferta de gado.
Só no Rio Grande do Sul, segundo dados da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), a soja invadiu, nos 2 últimos anos, 262,6 mil hectares de áreas antes destinadas à pecuária.
Outra constatação interessante é o aumento da adoção de práticas de suplementação no período seco, como o uso de sais proteinados ou sais com uréia.
A utilização desses suplementos permite ao produtor adiar a venda do gado, aguardando o momento mais favorável (melhor remuneração).
Por fim, as exportações seguem de vento em popa, e também dão a sua contribuição para a sustentação do preço do boi.
Em março foram embarcadas 96,6 mil toneladas em equivalente carcaça de carne bovina, resultando num faturamento de US$107,00 milhões, um novo recorde para o período.
Resta saber como ficará o desempenho das vendas externas agora com o dólar próximo a R$3,00 por US$1,00, fazendo com que a arroba do boi gordo brasileiro fique entre as mais caras da América do Sul.
Consumo
O consumo brasileiro de carne bovina está estagnado em algo próximo a 37 kg por habitante ao ano, e dá sinais de que, ao menos no curto prazo, não deverá sair disso.
Esse é o grande gargalo da pecuária de corte nacional, pois aproximadamente 85% da carne aqui produzida tem como destino o mercado interno.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Brasil produzirá, em 2003, 7,3 milhões de toneladas de carne bovina, das quais cerca de 6,2 milhões permanecerão no país.
Nesse quesito, o começo de ano não foi nada animador. A renda média do brasileiro está em queda e o desemprego na grande São Paulo (maior centro consumidor do país) chegou a 19,1% da população economicamente ativa.
Como o consumidor brasileiro responde primeiramente a preços, o que, pelo que foi exposto, é plenamente justificável, a carne bovina vem perdendo espaço para carne de frango, e o processo corre rápido.
Nos últimos 8 anos o consumo de carne de frango no Brasil cresceu 45,7%, chegando a quase 34 kg por habitante ao ano.
Mantendo esse ritmo, em 2 anos o mercado reportará algo inédito, a carne de frango passará a ser a proteína de origem animal mais consumida no país.
É lógico que o aumento da demanda por carne vermelha depende intrinsecamente de uma melhor distribuição de renda, algo superior a 20% de ajuste no salário mínimo.
Contudo, trabalhos de marketing e promoção também ajudam. O que não vale é ficar parado.
Reposição
O mercado de animais para reposição, que vinha operando estável, começou a registrar as primeiras alterações significativas com a chegada da safra de bezerros e proximidade da entressafra do capim.
Por enquanto, a boa condição das pastagens ainda sustenta a demanda por animais jovens, e atrasa o fechamento dos confinamentos, porém a demanda pelo boi magro já se destaca.
Na média brasileira, hoje é possível comprar 1,42 boi magro com a venda de um boi gordo. O poder de compra do invernista aumentou 7,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Boa notícia, uma vez que a aquisição dos animais de reposição responde por cerca de 73% dos custos da atividade de engorda.
Mesmo assim, o número de cabeças confinadas não deverá aumentar em 2002. Nos últimos 13 meses, a valorização dos insumos agrícolas, notadamente os concentrados, foi significativamente superior à valorização do boi gordo, 70% contra 29%, tomando como base o mercado paulista.
O caixa exigido para o investimento na engorda é bastante elevado.