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Mercado de julho – preços firmes

O mercado físico do boi gordo trabalhou em ambiente bastante firme no decorrer de julho.

Com a chegada da entressafra, as ofertas de animais para abate reduziram-se sensivelmente, levando à formação de escalas curtas, de no máximo 4 dias.

A dificuldade de compra se acentuou a partir do dia 15, quando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) passou a exigir 40 dias de rastreabilidade para os animais cuja carne teria como destino a União Européia.

Como a adesão ao SISBOV, o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina, até então era pequena, iniciou-se uma “caçada” pelo gado rastreado.

Num primeiro momento os frigoríficos optaram por arcar com o custo do processo, oferecendo um ágio entre R$2,00 e R$5,00/cabeça na compra do boi rastreado. Ainda assim, os negócios não evoluíram, pois quem tinha gado rastreado pressionava por preço bem diferenciado.

Diante disso algumas plantas frigoríficas, alegando não haver mercadoria, paralisaram as atividades. O ato, que não durou mais que 2 dias, foi classificado como cartel por representantes do governo e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

Após várias tentativas frustadas em adiar a regulamentação da “quarentena”, os compradores retomaram as atividades normais, mas com uma nova estratégia: deságio de R$1,00 a R$3,00/@ na compra de animais não rastreados.

Logicamente os negócios, que já eram poucos, travaram. O deságio foi mantido, mas para isso foi preciso reduzir o volume de abates diários em mais de 50%. Algumas unidades passaram a abater apenas 3 dias por semana, outras decretaram férias coletivas.

Apesar da turbulência inicial, é visível o aumento do número de animais rastreados no país. No começo do ano acreditava-se em 1,5 milhões de cabeças cadastradas no SISBOV, e hoje já se fala em 6 milhões, com estimativa de 10 milhões até o final do ano.

É verdade que o mercado está envolto em especulações. Muitos já não acreditam que a cotação do boi gordo supere os R$60,00/@ registrados no ano passado.

Porém, caso os problemas com a rastreabilidade se resolvam, e tudo aponta para esse caminho, o mercado deve voltar a fluir normalmente, com as exportações quebrando recordes e impulsionando os preços internos.

Considerando esse cenário, e com base na evolução dos preços nos últimos anos, as estimativas apontam algo entre R$63,00/@ e R$65,00/@ para o boi gordo em outubro/novembro.

Atacado

Como consequência da redução do volume de abates, o atacado enxugou, passando a trabalhar em alta, ainda diante de consumo muito fraco, em função do reduzido poder aquisitivo da população. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego atingiu 13% da população brasileira, o maior índice desde outubro de 2001.

Apesar de toda essa poeira levantada, a cotação da carne com osso começou a subir. A defasagem do equivalente físico (48% traseiro + 39% dianteiro + 13% ponta de agulha) para a cotação do boi gordo paulista, que no começo do mês era de 14,4%, caiu para 12,6%.

A defasagem do Equivalente Scot (87,94% equivalente físico + 10,29% couro +1,77% sebo) para a cotação da arroba passou de 4,4% para 3% no mesmo período. Há muito tempo não era tão baixa.

Gráfico 1: Equivalente Scot x cotação da arroba do boi gordo paulista em julho/03


A margem dos frigoríficos melhorou, ajudando na sustentação e na valorização da arroba.

Diante da reduzida disponibilidade de carne, a expectativa é que o atacado volte a operar em alta na virada do mês. Além do pagamento dos salários, é período de volta às aulas, e a demanda por comida, de maneira geral, deve aumentar.

Couro

As vendas de couro, tanto para o mercado interno como externo caíram em relação ao início do ano.

Internamente, o fraco poder aquisitivo afasta o consumidor dos artigos de luxo. Externamente, o setor enfrenta problemas com três dos principais mercados: férias na Europa, SARS (Síndrome Respiratória Aguda Severa) na China e recessão norte-americana.

Contudo, a exemplo do que aconteceu com a carne, a redução das ofertas de gado para abate enxugou o mercado, interrompendo um movimento de baixa que já avançava para quase três meses.

É interessante atentar para o desempenho das exportações. No segundo semestre deste ano, o volume de couro exportado caiu 8% em relação ao primeiro trimestre. Em contrapartida, o faturamento aumentou 7% no mesmo período.

Isso só foi possível graças ao crescimento das vendas dos couros tipo crust e acabado, de maior valor agregado. Veja a tabela abaixo:

Variação no volume das exportações, por tipo de couro, no primeiro semestre de 2003


O preço médio do quilo do couro brasileiro vendido no mercado internacional reagiu 23% no acumulado do primeiro semestre.

Mantendo esse ritmo de crescimento, o couro tipo acabado pode ocupar o lugar do wet blue, como campeão de vendas, dentro de aproximadamente 1 ano.

Reposição

Em julho, o mercado de animais para reposição trabalhou em ambiente morno, como aliás, já vinha acontecendo ao longo do ano.

O avanço das áreas de agricultura em detrimento das áreas de pastagens é tido como o principal fator responsável por essa morosidade.

Estima-se que cerca de 3 milhões de hectares de pasto cederam espaço à lavoura nos últimos anos. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) acredita que esse número possa chegar a 10 milhões a médio/longo prazo.

Esse crescimento favorece a valorização do boi gordo, em função da redução do volume de gado disponível para abate e do encarecimento da terra. Contudo, em curto prazo, prejudica criadores e recriadores.

Para os criadores, a situação piorou com a chegada da entressafra, trazendo frio (ainda não muito intenso) e seca. A demanda migrou toda para os animais de cocho, garrotes e boi magros.

As relações de troca estão entre as mais altas dos últimos 7 anos, uma vez que a cotação dos animais magros não acompanhou a evolução dos preços do gado gordo.

Em São Paulo, por exemplo, é possível adquirir hoje 2,17 bezerros nelore de ano com a venda de um boi gordo, aumento de 6,4% no poder de compra em relação ao mesmo período do ano passado, e 10,2% em relação a julho de 2001.

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