Em março, o avanço da safra e o fraco desempenho do mercado atacadista levaram ao início de um movimento de baixa. Os compradores pressionaram, e de fato a cotação do boi gordo chegou a recuar em algumas praças, porém, onde ocorreu, o ajuste raramente foi superior a R$1,00/@.
Até o dia 27, a cotação do boi gordo, na média das 25 praças pesquisadas pela Scot Consultoria, havia acumulado baixa de 2% no decorrer do mês. Os destaques negativos foram a região de Goiânia (GO) e a Bahia, ambas pontuando recuos de 6%.
De fato, nessas praças, sobretudo em Goiás, foi observado um aumento expressivo na oferta de animais terminados, sustentando as correções. Em geral, porém a oferta ainda era irregular, impedindo que a pressão baixista ganhasse força.
Mercado atacadista
Apontado como o vilão da história, o mercado atacadista operou em ambiente frouxo durante praticamente todo o período. As vendas de carne para o mercado interno eram consideradas insatisfatórias, fruto do reduzido poder aquisitivo da população.
No final de março, a defasagem entre o equivalente físico (48% traseiro + 39% dianteiro + 13% ponta de agulha), R$45,50/@, e a cotação da arroba do boi gordo paulista, R$57,00, era de aproximadamente 20%. No mesmo período de 2002, essa diferença era significativamente menor, cerca de 13%.
Tal comportamento, entre outros fatores, salienta o importante papel das exportações de carne bovina na sustentação dos preços do boi gordo.
Mercado externo
Felizmente o ano começou bem para os exportadores. Em janeiro, a receita com as vendas de carne bovina ao mercado externo chegou a US$100,63 milhões.
Pela sexta vez na história o faturamento com as exportações de um único mês superou a casa dos US$100,00 milhões, sendo a primeira vez que isso acontece em janeiro, período em que tradicionalmente o volume de embarques diminui.
Em fevereiro, novo recorde, US$110,70 milhões, mesmo com o valor médio da tonelada da carne in natura voltando a cair. Os números são animadores, porém alguns fatores passaram a preocupar.
Problemas
Em visita a frigoríficos e propriedades no Mato Grosso do Sul, técnicos da União Européia (UE) mostraram-se bastante insatisfeitos com os rumos do sistema de rastreabilidade bovina implantado no Brasil.
De fato, até o próprio governo concorda que ainda é preciso avançar muito. O que se tem hoje é praticamente uma identificação, poucos animais são rastreados de fato.
Segundo estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), aproximadamente 1,3 milhão de cabeças bovinas estão cadastradas no SISBOV – Sistema Brasileiro de Identificação de Origem Bovina e Bubalina. Isso equivale a 0,75% de um rebanho de cerca de 170 milhões de cabeças, o que é muito pouco.
A UE, importador que exige a certificação de origem do produto, é o destino de aproximadamente 50% das exportações brasileiras, que no ano passado geraram uma receita de US$1,096 bilhão.
Muito foi conquistado, portanto também há muito a perder. Não podemos deixar a “peteca cair”, é preciso pensar em cadeia.
Agora, independente do trabalho e da vontade brasileira, o embate entre Estados Unidos e Iraque também gera preocupação.
Os países do Oriente Médio respondem por aproximadamente 20% do mercado de carne bovina brasileira no exterior, o que gerou, ano passado, cerca de US$200,00 milhões.
Um conflito prolongado pode levar a um atraso dos negócios. Na verdade já se especula sobre a ocorrência de problemas, como o aumento do frete dos navios e a dificuldade destes em atracarem nos portos da região, que estariam ocupados por embarcações militares.
As informações ainda são desencontradas, porém já influenciam a evolução do mercado. Só nos resta esperar por um desfecho rápido.