Diferente do que vinha acontecendo nas últimas semanas, quando os frigoríficos estavam pressionando o mercado - devido ao maior volume de animais confinados que estavam sendo enviados ao abate - e as cotações recuando, nesta semana o mercado virou e os negócios travaram. Assim quem precisou comprar boi teve que pagar mais pela arroba e o mercado do boi gordo teve uma semana de alta.
Diferente do que vinha acontecendo nas últimas semanas, quando os frigoríficos estavam pressionando o mercado – devido ao maior volume de animais confinados que estavam sendo enviados ao abate – e as cotações recuando, nesta semana o mercado virou e os negócios travaram. Assim quem precisou comprar boi teve que pagar mais pela arroba e o mercado do boi gordo teve uma semana de alta.
Apesar da valorização da arroba, nesta quarta-feira o preço divulgado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), para os negócios à vista no estado de São Paulo, ainda é 3,86% inferior ao valor apurado há um mês.
O indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista foi cotado a R$ 88,76/@, registrando alta de 1,50% na semana. O indicador a prazo teve valorização de 1,6%, sendo cotado a R$ 90,02/@, em relação ao mesmo período de 2007 esta cotação está 47,79% mais alta.
Hoje, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados da Pesquisa Trimestral de Abates, referentes aos abates de bovinos nos meses de abril, maio e junho. Segundo a pesquisa, no 2º trimestre os frigoríficos inspecionados abateram 7,576 milhões de cabeças, indicando aumento em relação ao 1º trimestre de 2008, quando foram abatidas 7,239 milhões.
Porém quando comparamos a informação divulgada hoje, com o número de abates no mesmo período de 2007, temos uma redução de 2,2% no volume abatido.
Gráficos 1. Abate total de bovinos
Ao analisar o acumulado no semestre, o volume total de abates em 2008 foi de 14.608.289 cabeças, ou seja, os frigoríficos brasileiros abateram 5,6% menos animais do que nos 6 primeiros meses de 2007. Esses dados confirmam a escassez de oferta de animais disponíveis para abate, que vem fazendo os preços da arroba subirem e causando dificuldades para a maioria das indústrias frigoríficas.
Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio
Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo
Na semana, a moeda americana apresentou recuo de 1,2%, sendo cotada na quarta-feira a R$ 1,8437. Apesar da desvalorização semanal, se compararmos com o mesmo período do mês de agosto o dólar acumula alta de 13,34% (em 25/08/08 o dólar compra era cotado a R$ 1,6267). Essa depreciação da moeda brasileira tem agradado as empresas exportadoras, que acreditam que com o dólar mais alto a carne brasileira terá maior competitividade no mercado internacional, consequentemente, aumentando o volume de vendas ao exterior.
Ontem o presidente dos EUA, George W. Bush, fez um discurso à nação, alertando para o perigo de uma profunda recessão caso o pacote econômico de US$ 700 bilhões não seja aprovado. “Toda a economia americana está em perigo”, disse o presidente, que anunciou durante o pronunciamento o convite aos candidatos presidenciais, o republicano John McCain e o democrata Barack Obama, para uma reunião na Casa Branca para discutir a aprovação do plano.
No discurso de 15 minutos, Bush se disse um defensor do livre mercado e lamentou que o governo tenha de intervir na economia. “Normalmente, defendo que as empresas que tomam decisões ruins sejam varridas do mercado. Mas esses não são tempos normais. A falta de ação pode levar os EUA ao pânico financeiro”, afirmou. “E não podemos correr o risco de uma catástrofe econômica.”
Segundo o InfoMoney, o clima de tensão segue um pouco mais amenizado e acalma os ânimos dos investidores. Seja por causa da pressão maior após o pronunciamento de Bush ou não, a percepção agora é de que o plano elaborado pelo Federal Reserve e pelo Tesouro dos EUA de adquirir ativos contaminados está perto de ser aprovado pelo Congresso. Na manhã desta quinta-feira, Ben Bernanke discursou mais uma vez aos legisladores, pedindo pressa na liberação dos US$ 700 bilhões necessários à medida.
Hoje, o jornal Financial Times publicou matéria onde alerta para possíveis problemas no Brasil. O jornal inglês diz que, nos últimos meses, a economia brasileira corria o risco de superaquecer devido ao aumento de consumo. Com a crise financeira, a economia brasileira pode esfriar sem reduzir demais o crescimento.
Esses seriam alguns dos sintomas da “sorte” brasileira. Porém, ao mesmo tempo, o país estaria acumulando problemas. “Com o aumento da inflação nos últimos meses, mantê-la sob controle ficou aos cuidados do Banco Central. Mas o papel da política fiscal, que continua sendo altamente expansionista, tem sido ignorado”, escreve o FT.
Segundo o economista Sérgio Vale, os gastos públicos podem abrir espaço para “coisas ruins”. “O governo não vê os gastos públicos como um fator na inflação. Ele os vê como contribuição para o crescimento”, disse o economista.
Ao contrário do que tem ocorrido com outros produtos agrícolas, o mercado de carne tem sido pouco afetado pela crise financeira internacional. De acordo com analistas do setor, nem mesmo a valorização do dólar tem influenciado as cotações.
Isso ocorre porque o mercado de carne ainda tem sido bastante influenciado pelos fundamentos econômicos (a relação entre oferta e demanda). Assim, é a expectativa de baixa oferta para o ano que vem que condiciona as cotações, que permanecem com tendência de alta.
Mercado físico
Nesta semana o mercado travou em muitas regiões e os frigoríficos só conseguiram adquirir bom volume animais para abate quando aceitaram pagar valores acima dos que estavam sendo praticados. Parece que o volume de bois de cocho, provenientes do primeiro giro dos confinamentos, já começa a diminiur substanciamente e os frigoríficos que não possuem quantidade suficiente de animais próprios e contratos a termo começam a ter dificuldade para manter as programações de abate.
As escalas giram em torno de uma semana, mas não é difícil encontrar frigoríficos comprando para a terça-feira da próxima semana e plantas trabalhando com ociosidade. Esse volume menor de abates pode ser explicado pela escassez de oferta de boi gordo e também pelo sentimento de que o consumo não está lá essas coisas. Assim as indústrias não fazem questão de trabalhar com escala completa, pois conseguem evitar uma “enxurrada” de carne no mercado, que poderia causar uma retração nos preços do atacado.
Em quase todos os estados, compradores reclamam da dificuldade em efetivar negócios, como todos sabem a oferta está relativamente enxuta e quem tem animais terminados segura o máximo que pode na expectativa de preços melhores. É o caso do estado de Rondônia, onde está complicado alongar as escalas com os atuais preços prospostos pelos frigoríficos.
Em São Paulo e no Mato Grosso do Sul a situação não é muito diferente. No mercado paulista, cada vez mais escutamos relatos de lotes vendidos a R$ 90,00/@ ou até acima, e frigoríficos já começam a pensar em abrir novos preços de balcão.
De Pelotas/RS, o leitor do BeefPoint, José Luiz Martins Costa Kessler comenta que os frigoríficos estão ofertando R$ 84,00/@, para pagamento em 30 dias. “Mesmo com pouca oferta de boi gordo no RS, a indústria força a baixa no preço com justificativa de excesso de carne barata proveniente de outras unidades da Federação. O frigorífico Mercosul aponta desova de bois da região do planalto gaúcho em época de preparo de solo para soja. Esta informação não procede uma vez que ocorreu forte redução da invernada naquela região que plantou grande área de trigo”, ressalta.
Acesse a tabela completa com as cotações de todas as praças levantadas na seção cotações.
Reposição
O mercado de reposição esfriou, influenciado pelo recuo no preço do boi gordo e pela seca que atinge a maioria das regiões produtoras. O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista foi cotado, nesta quarta-feira, a R$ 719,30/cabeça recuo de 0,39% semana. Mesmo com o preço do bezerro caindo desde a metade do mês de julho, a cotação atual está 55,09% mais cara doque no mesmo período do ano passado, quando o bezerro desmamado era negociado a R$ 463,81/cabeça.
A relação de troca se encontra em 1:2,04., abaixo da média dos últimos 12 meses que é de 1:2,27.
Sérgio Paschoal do escritório Pantaneiro, em Campo Grande/MS, comenta que a oferta de animais de reposição aumentou, em função dos pastos que estão bem secos, fazendo os preços recuarem e facilidado a compra de reposição na região. Mas ressalta que os preços ainda são bastante altos se comparados aos anos anteriores.
Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)
Mercado Futuro
A BM&F teve uma semana de alta, com todos os vencimentos acumulando valorização. O contratos que vencem em setembro/08 fecharam a R$ 89,14/@, nesta quarta-feira, com alta acumulada de R$ 1,55. Outubro/08 foi o vencimento que registrou a maior variação, R$ 3,06, fechando a R$ 92,43/@, seguido dos contratos para novembro/08 que fecharam a R$ 94,60/@ (+ R$ 2,33).
Segundo Rodrigo Brolo, broker da TradeWire Brazil, “a semana fecha firme no mercado futuro de boi gordo da BM&F. Com o encurtamento das escalas no físico e consequente alta nos preços da carne no atacado, os frigoríficos tiveram que sair as compras e só encontraram boi pagando mais. O contrato outubro/08 saiu da casa dos R$ 90,00 para perto de R$93,00. Daqui para frente o mercado deve esperar para ver se as escalas alongam semana que vem ou não”.
Gráfico 4. Indicador Esalq/BM&F e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 17/09/08 e 24/09/08
Atacado
O atacado da carne bovina, segundo o Boletim Intercarnes, confirma as expectativas e sinaliza para ofertas mais escassas, o que na realidade não seria uma situação normal para a época do mês. A procura por parte dos distribuidores se encontra ativa e bem especulativa. Os preços seguem firmes e novas altas devem acontecer.
As cotações tiveram valorização, com o equivalente físico sendo calculado em R$ 82,41/@ e acumulando valorização de 2,35%. Nesta quarta-feira, o traseiro foi cotado a R$ 6,30, o dianteiro a R$ 4,90 e a ponta de agulha a R$ 4,30. O spread (diferença) entre indicador de boi gordo e equivalente recuou para R$ 6,35, ficando abaixo na média dos últimos 12 meses que é de R$ 8,04.
Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina
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Prezado André,
Parabéns pelo excelente artigo.
Apesar de uma situação totalmente atípica, principalmente em tratando-se de final de mês, na verdade a expectativa já vinhamos comentando a tempos atrás, isto com relação a preços a nível de atacado, e consequentemente não será nenhuma surpresa a manutenção de alta, visto a redução que verifica-se nas escalas de abate, principalmente nestes três ultimos meses do ano, mais especificamente para traseiros.
Prezado André,
Belo artigo. Esclareceu como está o mercado, tenho bois quase finalizados, vou pensar o momento e comercializar.
Abraço
Muito Bom. Parabens pelo artigo.