Atacado – 18/12/08
18 de dezembro de 2008
Exportações: crescem vendas para a Venezuela
22 de dezembro de 2008

Mesmo temendo crise mundial, exportadores brasileiros estão otimistas com 2009

A ABIEC (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina) apresentou nessa quinta-feira, 18 de dezembro, suas expectativas em relação ao ano de 2009. Na comparação de janeiro a novembro de 2008 com o mesmo período de 2007, a receita aumentou 17% e o preço médio da carne bovina in natura exportada está 47% mais alto, "tivemos um crescimento surpreendente, 2008 foi um ano memorável", ressalta Giannetti. Quanto à 2009, "nunca tivemos um nível de incerteza tão grande quanto vivemos agora", disse Giannetti, ressaltando que este é um momento difícil para fazer previsões. A ABIEC espera recuperar a participação brasileira em dois importantes mercados, não atendidos em 2008: o Chile e a União Européia.

A ABIEC (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina) apresentou nessa quinta-feira, 18 de dezembro, suas expectativas em relação ao ano de 2009. Apresentou também dados preliminares do fechamento do ano de 2008. O BeefPoint participou da reunião, resumindo e analisando os destaques apresentados por Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da entidade.

Na comparação de janeiro a novembro de 2008 com o mesmo período de 2007, a receita aumentou 17% e o preço médio da carne bovina in natura exportada está 47% mais alto, “tivemos um crescimento surpreendente, 2008 foi um ano memorável”, ressalta Giannetti.

Em 2008, os preços subiram muito, pois a oferta esteve reduzida e a demanda cresceu muito, puxada por países em desenvolvimento, em especial os exportadores de petróleo.

Crise mundial 2009

O presidente da Abiec fez previsões de que este ano as exportações irão alcançar uma receita entre US$ 5,3 bilhões e US$ 5,4 bilhões, e um volume em torno de 1,3 milhão de toneladas. Isso representa uma redução nas expectativas para o ano que vem. A previsão anterior da ABIEC era que o Brasil iria exportar US$ 6,5 bilhões em 2009.

Em novembro o Brasil exportou menos carne bovina e os frigoríficos já sentem os efeitos da crise internacional. Segundo Giannetti, foi a primeira vez desde 2003 que receita e volume ficaram abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior.

Para Roberto Giannetti, o setor ainda não foi tão prejudicado como outros setores da economia – máquinas e bens duráveis, por exemplo – que dependem mais do crédito, e representam investimentos maiores para o consumidor. Segundo ele outro fator que colabora para minimizar o efeito da crise é que a cadeia produtiva da carne bovina consegue controlar melhor a oferta, diferente do setor de frangos e suínos. “É possível segurar animais no pasto para ajustar a oferta”, lembra Giannetti da Fonseca, o que não ocorre com outras carnes, como suínos e aves.

Em resumo, a crise mundial deve diminuir a demanda de todos os produtos, até mesmo dos alimentos (que devem sofrer menos). Por outro lado, a oferta também segue reduzida, o que deve impedir quedas muito acentuadas de preços.

A previsão da ABIEC é que em 2009, os abates se mantenham iguais aos de 2008, ou inferiores. O que indica uma oferta ainda mais apertada no ano que vem. O ano de 2008 foi marcado pela diminuição da oferta de gado gordo para abate, principalmente pelo menor abate de fêmeas.

Rússia

Ele comentou que a retração nas exportações para a Rússia é um ponto que preocupa bastante o setor. A Rússia foi o maior comprador da carne brasileira em 2008, importando 371.966 toneladas de carne bovina in natura (US$ 1,4 bilhão) nos 11 primeiros meses do ano. Este ano os russos compraram 38% de toda a carne exportada pelo Brasil.

Gráfico 1. Acumulado das exportações brasileiras para a Rússia (jan-nov)

Gráfico 2. Exportações brasileiras, por destino (jan-nov 2008)

Desta forma o recuo de 49,12% no volume e 58,25% na receita das exportações para a Rússia preocupam os frigoríficos brasileiros que estão sendo forçados a remanejar este volume que não está sendo embarcado para os russos.

Gráfico 3. Exportações brasileiras de carne bovina in natura para a Rússia

O que mais preocupa é que a Rússia cada vez mais dá sinais de crise causados pela queda do preço do petróleo, falta de crédito, redução da atividade industrial, aumento nos índices de desemprego e perda de confiança na estabilidade da moeda nacional, o rublo.

Segundo Giannetti, os russos estão fazendo reservas em dólar e euro, o que desvaloriza a moeda russa. Com todos esses problemas, os importadores russos mostram menor disposição para comprar carne brasileira e forçam recuos nos preços e renegociação de contratos.

O titular da Abiec ressaltou que em novembro, a queda nas exportações à Rússia se deveu a falta de crédito, e não a queda na demanda, que ainda não ocorreu, para alimentos. A Rússia já gastou mais de US$ 190 bilhões de suas reservas (de um total de US$ 600 bilhões) para conter fuga de capitais e desvalorização do rublo.

Além disso, a Rússia tem sérios problemas internos. Corrupção, governo centralizador e que interfere muito nas empresas, muitas vezes de forma injusta. Tudo isso leva o país a ser considerado de risco elevado, diminuindo ainda mais a oferta de crédito, que se tornou escasso no mundo inteiro.

Para 2009, Giannetti acredita que a participação russa nas exportações brasileiras pode passar de 38% para 20%. Uma queda significativa, que precisará ser compensada por expansão nas vendas a outros países.

Chile e UE

Quanto à 2009, “nunca tivemos um nível de incerteza tão grande quanto vivemos agora”, disse Giannetti, ressaltando que este é um momento difícil para fazer previsões. A ABIEC espera recuperar a participação brasileira em dois importantes mercados, não atendidos em 2008: o Chile e a União Européia.

Desde o problema com a aftosa no MS e PR, em 2005, o Chile – que era um dos grandes clientes dos frigoríficos brasileiros – tem imposto restrições às importações do produto brasileiro e comprado um volume de carne bovina in natura muito baixo.

Giannetti lembrou que as decisões chilenas nessa área têm sido mais pautadas pela política, do que pela técnica. “O Paraguai está habilitado há mais de um ano para exportar para o Chile. Não é possível que o Brasil tenha um sistema de defesa pior do que o do Paraguai”. E completou, “Até o governador de SP, José Serra, que morou no Chile (no exílio, na época da ditadura), tem reclamado com a presidente chilena sobre essa situação”.

O Chile, já importou entre 70 e 100 mil toneladas de carne/ano, entre 2002 e 2005. Gianetti acredita que podemos exportar de 50 a 80 mil toneladas para esse país em 2009.

Gráfico 4. Exportações brasileiras de carne bovina in natura para o Chile (jan-nov)

Para a UE, Giannetti acredita que é possível dobrar as exportações em 2009, em relação a 2008, quando o Brasil exportou um volume irrisório, se comparado aos anos anteriores. Ele acredita que em mais dois ou três anos, o Brasil irá exportar novamente os mesmos volumes que em 2006 e 2007.

Na UE, que tem população com renda per capita alta, a demanda por alimentos não deve cair por causa da recessão. Um pequeno percentual da renda da população é destinado a alimentação. Em países mais pobres, esse efeito pode ser maior.

Outro fator é que a Irlanda, concorrente importante, está com problemas de imagem e acesso a UE, devido a recente contaminação de carne bovina e suína com dioxina.

Gráfico 5. Exportações brasileiras de carne bovina in natura para a UE (jan-nov)

1° trimestre de 2009

No 1° trimestre de 2009, a exportação deve ser bem menor, similar aos meses de novembro e dezembro de 2008. Giannetti acredita que a crise será mais forte apenas nesses primeiros meses. Com isso, as exportações devem se recuperar a partir do 2° trimestre.

Comentário BeefPoint

A mensagem principal da ABIEC foi de otimismo. Que talvez não se realize da forma apresentada. Foi dito que a participação da exportação, no total produzido em 2009, pode cair de 30% (2008), para 25%. Se isso ocorrer, com um abate em 2009 igual ou menor que 2008, as exportações irão cair significativamente em volume. É só fazer as contas.

Vale lembrar que o momento é de grande incerteza, a crise atual é comparada até com a crise de 1929.

Se a exportação em 2009 for igual a 2008, em volume e valor, será uma grande vitória para o setor, trazendo preços melhores. Como disse Giannetti, 2008 foi um ano excepcional. Especialmente até 15 de setembro.

Se essas previsões da ABIEC se concretizarem, o preço do boi em 2009 será firme, indicando preços melhores que os atuais. Um fator negativo para os exportadores será o crédito, mais escasso que em 2008, mas o dólar deve ajudar bastante. Em 2008, a moeda norte-americana chegou a valer R$ 1,56, levando a arroba do boi a valer cerca de US$ 60.

Em 2008 (2 de janeiro a 18 de dezembro), a média do indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista foi de R$ 84,37/@, valor 38,7% superior à média de 2007 que foi de R$ 60,82/@. Se adotarmos 15 de setembro de 2008 como o momento em que crise financeira tomou proporções maiores e seus reflexos começaram aparecer em todas as economias do mundo, temos que a média do preço da arroba antes do agravamento da crise (janeiro a setembro) foi de R$ 83,02/@. Desta data (15/09) até o momento a média é de R$ 87,94/@.

Analisando-se esses números, é mais provável esperar preços em patamares mais altos em 2009, do que os atuais. O 1° trimestre do ano será provavelmente o de maiores incertezas, especulação, e preços mais baixos.

A demanda mundial por carne bovina deve ser menor que em 2008. A oferta de gado gordo também deve ser menor. O dólar mais valorizado ajuda nas exportações. A falta de crédito atrapalha. O ano de 2009 ainda não está definido. Se o otimismo da ABIEC se confirmar, será um bom ano para os pecuaristas.

0 Comments

  1. Alberto Baggio Neto disse:

    Meu caro Evándro, suas acertivas ao longo do tempo tem se realizado. Venho acompanhando seus comentários valiosos neste site. Acho também que já [passou] é hora de se preocupar com o mercado interno: Mais qualidade, Mais quantidade, preços justos. No mais é só deixar o mercado agir.

    Aproveito o espaço para desejar um Feliz Natal! e um 2009 bem melhor que o finalzinho desse [último trimestre].

    Saudações!

  2. Jose Eduardo da Silva disse:

    Se o mercado interno esta pagando bem, consomem 75%, que mal tem.

  3. Louis Pascal de Geer disse:

    O recado mais claro, no meu ver, é que temos que usar os nossos pontos fortes tanto na produção como na industrialização da carne e seus derivados.

    Somos praticamente imbativeís no produção de carne em regime de pasto usando as vezes um curto periodo de confinamento de terminação.

    O importante é baixar o custo de produção que permite trabalhar com preços menores do que temos hoje, mas com possibilidades de melhorar quando tem um tipo efetivo de fidelização com uma industria.

    Veja que nas industrias o processo de nivelar preços de cortes já está começando a andar e somente a picanha ainda esta fugindo dos demais cortes porque aumentou muito; o filet mignon está barato e o musculo caro e reflete a politica dos preços onde carne de segunda para o mercado interno subiu muito de preço como também os cortes de alcatra, contrafile, mas com mais carne indo para industrialização a competição dos cortes de segunda vai fazer com que os preços subam possibilitanto, em tese, melhor e mais sustentavel renumeração para os produtores classificados como clientes fiéis da indústria.

  4. Enrico Lippi Ortolani disse:

    Prezados Miguel, André e leitores do BeefPoint,

    Parabéns pelo artigo, que aborda de maneira precisa as expectativas das exportações de carne para este ano de 2009. Concordo que embora tenhamos incertezas temos que trabalhar para que não ocorrer queda no consumo interno, que funcionará como uma âncora para as dificuldades na exportação para os grandes Frigoríficos.

    Tenho recebido muitas notícias não tão animadoras da Europa e Estados Unidos. As pessoas comuns estão receosas e logicamente diminuindo seu consumo de alimentos (carnes) mais caros, ou substituindo estes por carnes mais baratas.

    Temos agora que torcer para que o preço do real mais desvalorizado em relação ao dólar se mantenha, para estimular nossos importadores a aumentarem o volume de compras. Em relação à exportação de carne bovina para o Chile creio que a diplomacia e o chefe de governo brasileiros têm que trabalhar de forma mais eficiente, jogando todo prestígio político e barganhando muito com os dirigentes chilenos, dizendo que continuamos a comprar muito vinho, salmão e frutas temperadas deles e que em contrapartida eles tem que aumentar a compra de carnes.

    Em relação à Rússia o quadro é mesmo indefenido, com viés de baixa, pois o preço do petróleo continua baixo. A compra de carne por muitos pequenos países que ainda não adquirem do Brasil também será muito bem vinda.

    Torço para que a projeção feita por vocês sobre a manutenção de patamares altos e mais aceitáveis do preço interno pago pela arroba aos criadores se concretize.

    Afinal de contas estamos no mesmo barco.

    Boa sorte para todos e muito trabalho e eficiência para vencermos esta crise financeira!

    Um forte amplexo!

    Enrico Lippi Ortolani
    Prof. Titular da Fac. Med. Vet. Zoot. USP