A entressafra está chegando. Logo o mercado, principalmente em São Paulo e Estados vizinhos, deve reportar um aumento da demanda pelos chamados animais de cocho, garrotões e bois magros, acima de 11@.
A Scot Consultoria estima que em 2003 foram confinadas no Brasil pouco mais de 1,6 milhão de cabeças, aumento de 7% em relação a 2002. Cresce, principalmente, a prática do confinamento estratégico, quando o sistema é encarado como uma técnica de terminação, e não atividade isolada. A utilização do confinamento estratégico visa dar suporte ao aumento da lotação.
Mas tem aqueles que ainda se aventuram. Compram o boi magro, acabam no cocho, e vendem o boi gordo. Investimento de risco elevado, que exige acompanhamento diário dos mercados de animais para reposição, boi gordo e insumos. Conta muito a habilidade de negociação, saber a hora de comprar e a hora de vender.
Pois bem, a Scot Consultoria avalia que hoje, tomando como base o mercado paulista, o custo médio da engorda num sistema exclusivo de confinamento – animal (boi magro) entrando com cerca de 11 a 12@, permanecendo de 100 a 110 dias no cocho, com ganho de cerca de 1,2 a 1,5 kg ao dia, sendo negociado com aproximadamente 16,5@ – esteja variando entre R$59,00 e R$64,00/@.
O próprio animal, no caso o boi magro nelore, responde por pouco mais de 74% do custo total de produção. É o gargalo do sistema, conforme pode ser observado na figura 1.
Analisando de outra forma, o boi magro nelore é negociado a R$700,00/cabeça, ou aproximadamente 58,50/@, contra R$580,00/cabeça do boi magro mestiço, ou R$48,50/@. A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) vem apontando para o boi gordo em outubro algo próximo a R$67,00/@, pagamento à prazo.
É meio cedo ainda para iniciar o confinamento. Porém, só para fins de simulação, o produtor pode optar por uma arroba de entrada a R$58,50 (boi magro nelore), almejando saída de R$67,00, diferença de 14,5%. Ou, arroba de entrada a R$48,50 (boi magro mestiço), também com saída de R$67,00, diferença de pouco mais de 38%.
Voltando à simulação de custo, utilizando-se o boi magro mestiço, no mesmo sistema citado anteriormente, o desembolso oscilaria entre R$52,50 e R$56,50/@, hoje. Os animais passariam a responder por 70,6% do custo total.
Para quem acredita que o fraco desempenho dos mestiços pode inviabilizar o investimento, aí vai um dado interessante. Em experimento realizado no campus da UNESP – Jaboticabal, os zootecnistas Djalma de Freitas e Fábio Fregadolli, doutorandos em produção animal, observaram que, com relação ao ganho de peso em semiconfinamento, os animais mestiços apresentaram desempenho ligeiramente superior ao nelore. Já o rendimento de carcaça foi pior para os mestiços, mas nada que comprometesse a rentabilidade do sistema.
Uma análise preliminar dos resultados desse estudo mostrou que depois de deduzidos todos os valores gastos com alimentação (pasto e suplemento), mão-de-obra e produtos veterinários, os animais mestiços foram os que permitiram maior margem de lucro/animal no sistema analisado.
Provavelmente, resultados semelhantes seriam obtidos também no confinamento.
O problema maior seria a seleção praticada pelos frigoríficos. Existe um entrave na comercialização. Hoje, o deságio na compra do boi gordo mestiço fica entre R$2,00/@ e R$3,00/@. Alguns frigoríficos, principalmente exportadores, nem aceitam esse tipo de mercadoria.
Contudo, na entressafra, quando falta gado para abate, a seleção passa a ser menos criteriosa. O deságio diminui ou desaparece. Para correr menos risco ainda, em vez de se trabalhar somente com mestiços, seria interessante “mesclá-los” com os animais nelore. Aí sim praticamente se elimina o risco do comprador torcer o nariz.
Acompanhe a simulação abaixo, realizada com base no mercado atual.
Tabela 1. Simulação do custo do confinamento em São Paulo com base no padrão dos animais
A engorda de animais mestiços é uma boa opção para a redução dos custos, num sistema em que, tradicionalmente, o produtor já trabalha com margens bem reduzidas.