A Minerva Foods está de malas prontas para a Austrália. A companhia dos Vilela de Queiroz está prestes a fechar a compra de dois frigoríficos de cordeiro no país dos cangurus, numa aposta que poderá gerar mais de R$ 1 bilhão em faturamento, apurou o Pipeline.
A aquisição é resultado de uma joint venture com a Salic, gestora ligada ao reino da Arábia Saudita que também é a maior acionista da Minerva, com 33,7% do capital. A família Vilela de Queiroz possui 17,25% da companhia brasileira, mas mantém o controle por meio de um acordo de acionistas.
Com uma posição majoritária de 65% na JV, a Minerva vai desembolsar cerca de US$ 20 milhões – o equivalente a R$ 105 milhões – para adquirir os frigoríficos Sharke Lake e Great Eastern Abattoir, localizados na costa oeste da Austrália. Considerando o aporte da Salic, o investimento no projeto é de US$ 35 milhões.
Quando os ativos estiverem maduros, o que pode levar alguns anos, a Minerva será capaz de abater mais de 1 milhão de cordeiros por ano na Austrália, o que pode gerar uma receita anual de US$ 200 milhões a US$ 250 milhões. Atualmente, a receita anual do grupo brasileiro gira em torno de R$ 24 bilhões.
A transação materializa uma sutil mudança de estratégia que começou a ser comunicada ao mercado em 2020, quando a Minerva ensaiou listar a subsidiária Athena Foods – que reúne as operações na Argentina, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Chile – na bolsa de Nova York em um acordo com um Spac.
Em apresentação a investidores na época das negociações com a Spac, a Minerva já citava oportunidades de investimentos na Austrália. Em fevereiro, a companhia formalizou a criação de joint venture com a Salic, veículo que será usado para as duas compras na Austrália.
O negócio significa não só a estreia da Minerva na Austrália – historicamente, o grupo preferiu a América do Sul como plataforma de produção, enquanto concorrentes como JBS e Marfrig foram para outras regiões do globo -, mas também a entrada em carne de cordeiro.
Até então, a Minerva era uma indústria de carne bovina puro sangue, trabalhando com outras proteínas como distribuidora para o pequeno e médio varejo e food service. Nos negócios de trading de proteína, o grupo brasileiro já atuava com a compra e venda de carne de cordeiro a partir do escritório comercial de Brisbane, na Austrália.
A Minerva poderá chegar a algo entre 20% e 25% dos abates de cordeiros na costa oeste da Austrália no médio prazo. Na região, a própria Salic será uma importante fornecedora. Os sauditas já possuem uma fazenda na região. Com investimentos voltados para segurança alimentar, a gestora garante o rebanho para exportar ao Oriente Médio.
Na Austrália, a JBS é a maior indústria de ovinos, com uma capacidade de abate de mais de 25 mil animais por dia – ou mais de 6 milhões de cabeças por ano. Nacionalmente, a Minerva terá menos de 5% do mercado.
O rebanho australiano de ovinos é de 67 milhões de cabeças. Nos últimos anos, a pecuária australiana vem sofrendo com o clima adverso, que reduziu drasticamente o rebanho de bovino e ovino. No entanto, a expectativa é que o clima mais favorável deste ano se traduza em recuperação do rebanho.
Em entrevista ao Valor, o presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, afirmou que as restrições às exportações de animais vivos para preservar o bem-estar animal devem aumentar o processamento local – reduzindo o envio de cordeiros de navios para serem abatidos no Oriente Médio -, o que favorece o investimento da Minerva.
“A Austrália sempre foi grande exportador de animais vivos e isso está sendo substituído por exportação de carne processada, o que é mais lógico economicamente e mais sustentável”, disse Galletti.
A estreia em cordeiros na Austrália pode ser só o começo. Um dos frigoríficos comprados pela Minerva possui uma pequena capacidade para abater bovinos, o que será servirá como um teste para a companhia nesse mercado. A JBS também é a maior indústria de carne bovina da Austrália.
Na B3, a Minerva está avaliada em R$ 4,5 bilhões. Os papéis da empresa caíram 12,7% no ano.
Fonte: Valor Econômico.