O primeiro discurso de Carlos Fávaro como ministro da Agricultura e Pecuária procurou demonstrar alinhamento com as políticas sociais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele destacou a necessidade de o Brasil, como grande produtor de alimentos, combater a fome e ressaltou que o apoio à produção agropecuária sustentável não será retórica.
Fávaro disse que não haverá conflito entre ele e os ministros do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira. “Todos se surpreenderão, porque estamos do mesmo lado. Queremos e vamos ter a produção agrícola mais sustentável do mundo”, afirmou.
Para um auditório lotado de autoridades e representantes do agronegócio, na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fávaro voltou a exaltar o papel da estatal para o salto produtivo no campo do país nas últimas décadas, e prometeu “fortalecer” a atividade dos pesquisadores.
Segundo ele, a intenção é que a Embrapa possa “preparar a agricultura e a pecuária para um momento de combate à fome e [promoção] de desenvolvimento sustentável”.
O ministro também citou preocupações com programas de merenda escolar, com o Bolsa Família e até com questões como a vacinação infantil contra a poliomielite, e disse que é preciso agir para acabar com a insegurança alimentar no país e com a fila do “osso”.
“O Bolsa Família não é uma política que vai matar a fome. Precisamos pensar na renda, na capacitação, para que as pessoas possam ter dignidade de comprar alimento, viver melhor, ter alegria”, disse.
Fávaro contou que chegou a dizer a Lula que queria ser ministro do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar. Apesar dessa área ter ficado de fora da estrutura da sua Pasta, disse que terá relação próxima com Paulo Teixeira.
“Pequenos produtores não precisam de esmola”
“Minha ligação com o ministro Paulo Teixeira será íntima. Os pequenos produtores não precisam de esmola, mas da mão amiga do Estado, das políticas públicas”, afirmou.
O ministro também convocou o setor produtivo e os parlamentares da bancada ruralista a ajudarem na gestão. “Convoco a Frente Parlamentar da Agropecuária [FPA], o Instituo Pensar Agropecuária [IPA], que tragam lideranças, não para apoiar o governo, mas que estejam alinhados, que queiram construir pontes (…) Uma das minhas maiores missões é pacificar o agronegócio com lideranças que queiram o bem do produtor rural, que queiram combater a fome e queiram o bem da população. Queremos ter alinhamento com quem pensa no desenvolvimento social, na qualificação das pessoas, na geração de oportunidades”.
Imagem arranhada
Carlos Fávaro ressaltou que o maior gargalo do setor é a imagem do agronegócio brasileiro no exterior, que precisa ser reconstruída. “O Brasil se tornou pária mundial com o desrespeito ao meio ambiente. Há condição de produzir com sustentabilidade. Vamos reconstruir pontes com o mercado internacional — não só porque querem, mas porque é necessário”, ressaltou.
“Com o crime ambiental, estamos matando a galinha dos ovos de ouro do país e matando gerações. Não será retórica, vamos abrir portas para a produção sustentável”, completou.
O discurso foi aplaudido pela plateia, formada por autoridades políticas, muitas de Mato Grosso, Estado onde Fávaro foi vice-governador, secretário de Meio Ambiente e senador. Grandes empresários também marcaram presença, como Eraí Maggi Scheffer, do grupo Bom Futuro, e Marcos Molina, da Marfrig.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que falou antes de Fávaro na cerimônia, também ressaltou a necessidade de o Brasil dar atenção ao desenvolvimento econômico integrado ao desenvolvimento social. E reforçou que a parte social tem que ser levada em conta na discussão sobre responsabilidade fiscal.
“Não podemos ser o país que é um dos maiores produtores de grãos do mundo e termos pessoas passando fome. Não é razoável e não é digno”, disse.
Respeito à democracia
Mendes também comentou o atual cenário político, e voltou a invocar o respeito ao resultado das eleições. “É fundamental que nós respeitemos os dissensos e asseguremos a liberdade de expressão, mas a liberdade de expressão não pode colocar em xeque a democracia”, disse.
“Cabe a quem ganhou governar e, obviamente, quem governa precisa de ordem, de paz, e não de conflituosidade. Quem eventualmente perdeu recebe a designação para fazer oposição, que também é uma missão constitucional. [É hora de ] lamber as feridas, eventualmente chorar, e se preparar para novas eleições; é assim que se dá a democracia. Não podemos ter essa ‘adversariedade’ política como elemento de inimizade absoluta e total”, afirmou o ministro.
Fonte: Valor Econômico.