Sem sucesso em obter do governo russo uma garantia de que o Brasil terá cotas para exportar carnes ao país, os ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do Desenvolvimento, Luiz Furlan, tentarão pessoalmente resolver o problema, com uma missão a Moscou a 19 e 20 de janeiro.
Na sexta-feira (19), durante almoço com o ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Igor Ivanov, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, marcou a visita ao ministro da Agricultura russo. Ainda estão pendentes encontros com outras autoridades do país.
“A redução das cotas russas pode nos trazer prejuízos entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões, é muito grande”, comentou Furlan, que relatou pressões dos estados exportadores, como Santa Catarina, para negociar uma saída. “A medida afeta principalmente os pequenos e médios produtores”.
A crise com o governo russo começou quando o país não deu cotas específicas de importação para o Brasil e concedeu cotas grandes aos Estados Unidos, no caso do frango, e à União Européia, no caso das carnes suína e bovina. Pelo sistema de cotas russo, para a carne bovina, a cota da UE será 359 mil toneladas e o Brasil terá de brigar com outros países por uma cota de 68 mil toneladas.
Uma carta do presidente russo Vladimir Putin ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendendo a decisão do governo com o argumento de que o sistema de cotas é compatível com as regras da OMC ressuscitou rumores, em Brasília, de que o caso pode levar o Brasil a dificultar as negociações para entrada da Rússia na organização, o que depende da aprovação consensual dos 148 atuais integrantes da instituição.
Pelo menos um assessor de Lula comentava que, ao contrário do que diz Putin, a medida contraria artigos dos acordos da organização. Uma fonte do setor, que esteve com Furlan após o encontro entre os ministros, disse que o apoio brasileiro à entrada da Rússia na OMC deverá ser levado em conta nas negociações sobre as cotas.
O Brasil mantém um forte superávit no comércio total com a Rússia, da ordem de US$ 500 milhões anuais. O governo não acredita, porém, que a grande diferença entre o que o país vende e o que importa da Rússia tenha sido fator determinante na decisão de Putin de excluir o Brasil da lista de países que tiveram cota garantida para entrada no mercado russo. A decisão é vista como mais um lance na disputa mundial por mercados.
Fonte: Valor OnLine (por Sérgio Leo e Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint