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Mosca-dos-chifres: controle biológico (besouro africano) e químico

Por Ivo Bianchin1

A mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) é considerada uma praga em vários países. No Brasil este inseto foi identificado, pela primeira vez, em 1983. Entretanto, há relatos da sua presença, em Roraima, desde 1976. A mosca apareceu na maioria dos Estados brasileiros em 1991 (Honer et al., 1991). Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Corte), realizaram um experimento em quatro anos consecutivos (1991-1995), com o objetivo de estudar a epidemiologia e os danos da mosca-dos-chifres em vacas com bezerro ao pé e animais machos de um, dois e três anos de idade.

Observaram que a infestação nas vacas nunca ultrapassou a média de 80 moscas/animal. A infestação observada foi baixa quando se levou em consideração os valores verificados em outros países.

Três fatores, no entanto, poderiam explicar essa diferença: a) raças bovinas envolvidas nos diferentes experimentos; b) presença de inimigos naturais, tais como o besouro africano Digitonthophagus gazella, o qual foi introduzido na região há cerca de 14 anos; c) quantidade acumulada e/ou diária de chuva que antecede cada contagem da mosca (Bianchin & Alves, 1977; Bianchin et al., 1993, 2002).

Constatou-se, também, que a maioria das vacas, sem inseticida, apresentava poucas moscas, enquanto a minoria tinha maior quantidade. Em uma contagem, por exemplo, de 60 vacas, 50 tinham até 75 moscas, seis tinham entre 100 e 150 e as quatro vacas restantes tinham 225, 400, 475 e 675 moscas, respectivamente.

O nível de infestação de moscas apresenta uma relação com o animal hospedeiro. Assim, vacas com maior número de moscas, no início do estudo, foram aquelas com maior infestação durante todo o período experimental.

A percentagem de prenhez foi maior nas vacas tratadas com inseticidas, 5%, 16%, 26% e 12%, respectivamente, para o primeiro, segundo, terceiro e quarto anos.

Levando-se em consideração a baixa infestação por moscas e a inexistência do efeito de tratamento no ganho de peso das vacas e bezerros, supõe-se que a diferença no índice de prenhez seja devida ao estresse dos touros que quase sempre apresentaram altas infestações pela mosca-dos-chifres (acima de 500).

O estudo em machos nelores de um, dois e três anos de idade mostrou que a mosca ataca com mais intensidade (P<0,05) os animais adultos do que os mais jovens. As médias dos ganhos de peso (kg) dos animais tratados são 10 % superiores aos animais não tratados. Para o controle da mosca-dos-chifres sugere-se usar inseticida somente quando notar que os animais estejam muito estressados, isto é, balançando freqüentemente a cabeça e a cauda. Deve-se evitar o uso de inseticida nos animais no período seco do ano. O controle biológico impede o desenvolvimento da mosca em cerca de 90%. Ressalta-se que o número de moscas seria insuportável se não existissem os inimigos naturais que limitam o seu desenvolvimento nas fezes dos animais. Os besouros coprófagos exercem papel importante na destruição das massas fecais depositadas pelos animais. O besouro africano (Digitonthophagus gazella) foi importado pela Embrapa Gado de Corte em 1989, por ser muito eficiente na destruição de fezes, e hoje se encontra praticamente em toda a América do Sul.

O besouro tem mostrado boa adaptabilidade às condições brasileiras, aparecendo em maior número durante o período chuvoso e quente. As informações básicas para a criação do besouro estão contidas no trabalho de Nascimento et al. (1990). No entanto, a criação do mesmo em laboratório, na própria fazenda, é desaconselhada, pelo fato de que os besouros, uma vez liberados, multiplicam-se sozinhos.

Os besouros, pelo seu hábito de alimentação e multiplicação, proporcionam vários benefícios, muitas vezes mais importantes economicamente do que diminuir a infestação da mosca-dos-chifres, tais como: 1) melhora a fertilidade do solo pela incorporação de matéria orgânica no solo e reciclagem de nitrogênio; 2) melhora a aeração do solo e infiltração da água; 3) aumenta a capacidade de suporte das pastagens devido à fertilidade do solo e diminuição da área de rejeição de pastejo; 4) diminui a infestação das pastagens por larvas de helmintos gastrintestinais. Os vermes causam maiores prejuízos econômicos do que as moscas, mas como estão dentro do animal passam despercebidos e não são controlados eficientemente.

É interessante lembrar que, segundo Bianchin et al. (1997, 1998), a quase totalidade dos inseticidas existentes no mercado age nas fezes bovinas, eliminando, por exemplo, os besouros. Por isso, deve-se usar o mínimo de inseticida nos animais, para diminuir a contaminação da carne e do leite e preservar o ambiente.

Recomendações para a liberação do besouro

    1) Colocar cerca de cinco casais por bolo fecal fresco (máximo de dois dias).
    2) Procurar colocar em um malhadouro (exemplo: colocar os besouros nas fezes onde os animais dormiram na noite anterior).
    3) Colocar os besouros nas fezes de animais que não receberam inseticidas ou ivermectin nos últimos 40 dias.
    4) O besouro se espalha por si e, por isso, não existe necessidade de liberá-lo em todas as invernadas (pastos).

Referências bibliográficas

BIANCHIN, I.; HONER, M. R.; KOLLER, W. W.; GOMES, A.; SCHENK, J. A. P. Dinâmica populacional e efeito da mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) sobre vacas e bezerros nelores. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA, 8., 1993, Londrina. Anais… Londrina: CBPV, 1993. p.a30.

BIANCHIN, I; ALVES, R. G. O. Mosca-dos-chifres: comportamento e danos em bovinos nelores. Campo Grande: EMBRAPACNPGC, 1997. 8p. (EMBRAPA CNPGC. Comunicado Técnico, 55).

BIANCHIN, I.; ALVES, R. G. O.; KOLLER, W. W. Efeito de carrapaticidas/inseticidas aspersão sobre adultos do besouro coprófago africano Onthophagus gazella (F.). Ecossistema 22: 116-119, 1997.

BIANCHIN, I.; ALVES, R. G. O.; KOLLER, W. W. Efeito de carrapaticidas/inseticidas “pour-on” sobre adultos do besouro coprófago africano Onthophagus gazella Fabr. (Coleoptera:Scarabaeidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil 27(2):275-279, 1998.

BIANCHIN, I.; ALVES, R. G. O. Mosca-dos-chifres, Haematobia irritans: comportamento e danos em vacas e bezerros Nelore antes da desmama. Pesquisa Veterinária Brasileira, 23 (3): 109-113, 2002.

HONER, M. R.; BIANCHIN, I.; GOMES, A. Mosca-dos-chifres: histórico, biologia e controle. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1991. 34p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 45).
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1Ivo Bianchin é médico veterinário, Ph.D. e Pesquisador da Embrapa Gado de Corte

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