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MT: lideranças avaliam impactos das fusões

As recentes fusões nas indústrias de alimentos atingem Mato Grosso em cheio e impõem um novo desenho das plantas em um ambiente de concentração liderado pelos grandes grupos. Com os atuais anúncios, somente três grandes grupos terão domínio sobre 60% do mercado mato-grossense de bovinos: Sadia/Perdigão, Friboi/Bertin e Marfrig. "Por enquanto, o que ainda estamos vendo está dentro da normalidade, não temos nenhum reflexo negativo. Mas o momento exige muita atenção, pois mais da metade do mercado já está sendo controlado por apenas três grupos", afirma Carlos Augusto Zanata, da Famato.

As recentes fusões nas indústrias de alimentos atingem Mato Grosso em cheio e impõem um novo desenho das plantas em um ambiente de concentração liderado pelos grandes grupos. Com os atuais anúncios, somente três grandes grupos terão domínio sobre 60% do mercado mato-grossense de bovinos: Sadia/Perdigão, Friboi/Bertin e Marfrig.

Primeiro foi a fusão da Sadia com a Perdigão. Depois plantas frigoríficas desencadearam um processo de fusão em nome da sobrevivência de empresas que estavam paralisadas ou em dificuldades financeiras. O grupo JBS Friboi se juntou ao Bertin, ficando com 11 plantas. Mais recentemente, o grupo Marfrig, com duas plantas em Mato Grosso, firmou protocolo de intenções com a Margen e Mercosul para o arrendamento de outras 11 plantas de abate de bovinos e uma indústria de charquearia.

Depois dessas fusões, três grandes grupos – Sadia/Perdigão, Friboi/Bertin e Marfrig – ficaram com 60% dos abates com inspeção federal em Mato Grosso. “Se esta concentração será suficiente ou não para termos um controle do mercado nas mãos dessas empresas ou mesmo a formação de um oligopólio, só o tempo poderá nos dizer”, afirma Carlos Augusto Zanata, do departamento técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato).

Na avaliação de empresários, produtores e especialistas, a cadeia de alimentos ganhou com esta nova formatação, pois as empresas puderam se manter no mercado, as compras de matéria-prima continuaram e os empregos foram mantidos. Mas, para muitos, fica a sensação de que a concentração poderá gerar perdas caso os grandes grupos partam para o oligopólio e passem a ditar as regras de mercado, como por exemplo, impor preços à arroba – neste caso – abaixo dos custos de produção e longe de gerar rentabilidade ao pecuarista.

De acordo com alguns produtores, a fusão entre as gigantes do setor de alimentos não é benéfica à sociedade. Segundo eles, os efeitos podem ser devastadores à livre concorrência e ao consumidor, pois a fusão faz com que as empresas, antes rivais, possam atuar de forma conjunta, dificultando a entrada de novos concorrentes no mercado e utilizando de seu poder econômico para comprar espaços e contratos de exclusividade.

“Todos perderiam com isso, pois haveria uma manipulação de preços no mercado. Não seria interessante para ninguém ter um mercado muito concentrado. Entretanto, só o tempo poderá nos dizer se a concentração será benéfica ou não para nós”, aponta o diretor executivo da Associação dos Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR/MT), Paulo Resende.

Por todas as variantes que suscitam as conseqüências da concentração é que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cadê), analisa essas e outras operações já anunciadas em vários segmentos da atividade econômica nacional. É o parecer do Cadê que vai ou não autorizar a formação da nova empresa.

Resende também avalia que essas operações podem colocar em xeque a sobrevivência dos pequenos e médios frigoríficos que hoje atuam no país, deixando-os ainda mais vulneráveis ao apetite dos grandes. “O ideal seria que tivéssemos várias unidades controladas por vários donos. Com a concentração, perdemos a opção de venda para um número maior de empresas”.

“Por enquanto, o que ainda estamos vendo está dentro da normalidade, não temos nenhum reflexo negativo. Mas o momento exige muita atenção, pois mais da metade do mercado já está sendo controlado por apenas três grupos”, afirma Zanata.

Ele espera que as leis de mercado sejam respeitadas para que esses grupos venham interagir com a cadeia pecuária no sentido de manter a economia de Mato Grosso no mesmo patamar de crescimento.

José João Bernardes, vice-presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), diz que as fusões podem ser avaliadas sob dois aspectos. O primeiro é a possibilidade de aumentar o volume de abates com a retomada de plantas paralisadas no Estado que chegam a 15, após a crise financeira mundial. O segundo, é o risco de concentração da atividade nas mãos de poucos grupos que poderão dominar o mercado e abrir um processo de oligopólio. Segundo ele, a concentração implica na necessidade de organização da cadeia produtiva. “O produtor também tem de se organizar e ficar atento a esses movimentos de mercado. Não podemos trabalhar de forma isolada”.

Mato Grosso conta com 24 plantas com selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) em funcionamento: 11 do Friboi/Bertin, três da Sadia/Perdigão (Mirassol, Lucas do Rio Verde e Várzea Grande), três do Frialto (Sinop, Matupá e Nova Canaã), duas do Marfrig (Tangará da Serra e Paranatinga), duas do Pantanal (Várzea Grande e Juara), uma do Arantes Alimentos (Pontes e Lacerda), uma do Quatro Marcos (Confresa) e uma do Mata-Boi (Rondonópolis).

Como você enxerga este processo de consolidação?

A matéria é de Marcondes Maciel, publicada no Diário de Cuiabá, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

0 Comments

  1. jose carlos targa disse:

    A concentração do mercado nas mãos de poucos não traz bom ventos, pois se estes poucos quebrarem, pra quem o pecuarista irá vender o boi, ou o granjeiro irão vender os frangos?
    cria-se uma crise no setor primário sem precedentes na história, principalmente em nossa região que sobrevive da pecuária.
    Espero que dê certo. Pois desta forma será bom pra todos.

  2. Paolo Velasques Perez disse:

    Concordo com o sr. José João Bernardes, ACRIMAT, o produtor terá que se organizar urgentemente da porteira para fora e esquecer o seu lado individual apenas, caso contrário, futuramente vai trabalhar arduamente para as indústrias ou então sair fora do ramo.

  3. Paulo Westin Lemos disse:

    É indiscutível que o oligopólio do frigoríficos é extremamente preocupante para os pecuaristas. Mercado manipulado, preços combinados; o livre mercado foi para o espaço. Entretanto, um aspecto que os frigoríficos não podem esquecer que toda moeda tem duas faces. Ninguém suporta trabalhar no vermelho muito tempo, mesmo produtores rurais que volta e meia estão nesta situação. Quando a água chega no nariz, os preços dão uma aliviadazinha para não matar a galinha dos ovos de ouro. Para nós que temos a pecuária no sangue, aguentamos por paixão e tradição é difícil, mas sofrer desaforos tem limites. Na medida que a atividade perde o interesse, mais e mais produtores procuram novas atividades, novas alternativas de produção e também não serão poucos que venderão suas propriedades na falta de opções. Até que ponto isso é interessante para os frigoríficos? Num primeiro momento realmente estarão com a faca e o queijo na mão mas uma hora o queijo acaba e então quem irá abastecer o gigante com a matéria prima que precisa em quantidades monstruosas, o boi. Não é preciso lembrar que boi não é alface que você planta e em 30 dias já pode colher.
    Por traz de um boi gordo existem anos e mais anos de investimentos na cria, recria e engorda, planejamento e estruturação do sistema de produção, mobilização de recursos financeiros, tecnologia e muitos outros aspectos. Além disso a demanda por qualidade é crescente e interminável, exige altos investimentos, planejamento, controles e conseqüentemente um custo que precisa ser remunerado. Lógico que até certo ponto o mercado se regula, na medida que os preços caem, o desestímulo afetará a produção da mesma maneira que na falta de matéria prima terão que subir o preço e estimulará o aumento da produção. Entretanto, será que é interessante se manter numa atividade cujos preços funcionam como uma montanha russa? Penso que não seria interessante nem para nós produtores e nem para os frigoríficos. O sonho de qualquer industria é ter um fornecimento constante, contínuo e a preço estável por longo prazo. Será que darao um tiro no proprio pé?
    Com certeza e felizmente, a maioria da classe produtora não assistirá passivamente este processo de concentração da industria frigorífica e ao mesmo tempo a deterioração do maior parque de produção de carne bovina do mundo. O momento exige uma reorganização urgente dos elos da cadeia da carne, o fortalecimento do papel de cada um deles porque todos nós sabemos que nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco. Grupos frigoríficos gigantescos também precisam de quantidades gigantescas de matéria prima, com regularidade e a qualidade que o mercado exige. Os problemas serão tão maiores quanto mais míope for a visão de longo prazo desses grupos.

  4. Humberto de Freitas Tavares disse:

    O bochicho de hoje é que o Friboi vai engolir o Minerva.

    Deus nos acuda!