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19 de agosto de 2016
Mercado físico do boi gordo –18-08-2016
19 de agosto de 2016

Mudanças na compra e venda de bois leva caos a mercado de futuros dos EUA

As enormes oscilações nos mercados futuros de boi gordo dos Estados Unidos levaram alguns operadores a chamá-los de “cassino da carne”.

A CME Group Inc., maior bolsa de futuros do mundo, reagiu paralisando a abertura de novos contratos, deixando os pecuaristas com poucas ferramentas para fazer hedge em um mercado que movimenta US$ 10,9 bilhões ao ano. A CME informou que as negociações físicas de boi se tornaram tão raras que os mercados futuros não conseguem ter as informações necessárias para fixar os preços.

A decisão de impedir a abertura de novos contratos é consequência dos alertas feitos neste ano pela bolsa e por grupos do setor de que problemas no mercado físico estão afetando os futuros — uma crise altamente incomum em um mercado que costuma atrair mais especuladores.

Poucos produtores se queixaram quando os preços do boi atingiram recordes de alta em 2014 e início de 2015. Mas com os preços despencando nos últimos meses para o menor nível em cinco anos, dificuldades financeiras no setor ressaltaram a extensão do problema. A previsão é de que a receita obtida com as vendas de boi deve cair 3,9% este ano, para US$ 73,6 bilhões, depois de recuar 5,7% em 2015, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA.

Os futuros de boi gordo negociados na CME atingiram a máxima de US$ 1,4155 por libra-peso antes de cair 22%, para US$ 1,1580, em um período de sete semanas no primeiro semestre, o que representa uma perda de mais de US$ 10 mil em um único contrato. Muitos produtores perderam dinheiro quando os preços recuaram ainda mais nos últimos meses, para US$ 1,07525, o menor nível em cinco anos.

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Investidores experientes “estão reduzindo suas posições” no boi gordo, diz Dan Norcini, operador independente de futuros pecuários no Estado de Idaho. “Já não vale a pena correr o risco quando não há motivos para essas oscilações de preços.”

Até julho, os volumes de futuros caíram 1,9% ante os mesmos sete meses de 2015, segundo dados da CME. Em relação a 2014, a queda foi de 9,7%.

Cada contrato futuro representa a obrigação de comprar ou vender 40 mil libras-peso (18,1 toneladas), ou cerca de 35 cabeças de boi. Embora poucos operadores na prática entreguem ou recebam o animal, eles olham o preço do gado vendido em leilões e em confinamentos para manter os preços futuros ancorados no mundo real. Mas mudanças estruturais na forma de negociação dos bois tornam a visibilidade dos preços no mercado físico cada vez mais precária.

Durante quase um século, os processadores e pecuaristas levaram animais para galpões de leilão para comprar e vender milhares de bois quase diariamente em operações em dinheiro. Com o tempo, as viagens de quilômetros de distância desses animais em reboques se mostraram financeiramente ineficientes, então muitos negociantes desistiram das operações físicas diárias.

O número de negócios físicos começou a cair nos anos 80 e hoje apenas um pequeno número de operações à vista — que ocorrem uma ou duas vezes por semana — serve como a base de preço usada pelo resto do mercado. A maioria dos bois entregues aos abatedouros hoje é precificada usando uma fórmula que incorpora o valor do mercado à vista como base. “Alguém vende 40 bois em Iowa e isso tem o potencial de mudar o valor de todo o gado do país”, diz Albers.

Os negócios no mercado à vista geralmente são concluídos na sexta-feira depois do fechamento dos mercados futuros, o que significa que os operadores financeiros trabalham durante a maior parte da semana com dados desatualizados.

A CME listou apenas um contrato futuro de boi gordo desde março e ele vencerá em outubro de 2017. A bolsa criou um grupo de trabalho com pecuaristas para discutir ajustes, inclusive formas de aumentar o número de negócios físicos. Ela já havia limitado as horas de negociação de contratos durante o dia, quando a liquidez é maior, depois de pecuaristas reclamarem que os especuladores tinham um impacto muito grande nos preços no pregão noturno.

“Todos os aspectos dos contratos de boi gordo estão sendo analisados para ver se descobrimos formas de transformá-los em uma ferramenta mais efetiva de administração de risco”, diz David Lehman, diretor de pesquisa de commodities da CME.

A ausência de novos contratos depois de outubro de 2017 tem sido um problema para os pecuaristas que compraram bezerros nos últimos meses. Eles normalmente precisam de 18 meses para engordar e abater os animais, o que significa que os pecuaristas ficarão expostos a possíveis oscilações de preços no fim de 2017.

Alguns apontam os operadores de alta frequência como a causa da oscilação de preços. Mas a CME informou que abrir os mercados para diferentes grupos de investidores, incluindo fundos de hedge e operadores que usam algoritmos, deu liquidez a contratos como os de boi gordo, que costumam atrair menos negociações que ouro e petróleo. Apenas 10% das operações de contratos de boi vieram de investidores de alta frequência em 2015, informou a bolsa.

Fonte: The Wall Street Journal, adaptada pela Equipe BeefPoint.

 

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