A forte queda das temperaturas e a ocorrência de geadas em algumas regiões produtoras até agora foram insuficientes para tirar a safrinha de milho dos rumos de uma importante recuperação nesta temporada 2021/22. O cenário se tornou um pouco menos favorável e as intempéries continuam no radar, mas os sinais atuais confirmam que a colheita vai crescer mais de 40% em relação ao ano passado, com reflexos positivos esperados sobre os custos da indústria de aves e suínos e da pecuária leiteira – e, com isso, sobre a inflação em geral.
Na última estimativa que divulgou, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calculou a segunda safra de milho em 87,7 milhões de toneladas, 44,5% mais que no ciclo 2020/21, quando, por causa do atraso do ciclo da soja, boa parte das lavouras foi plantada fora da janela climática ideal, e, depois, ficou exposta à seca. Diante do novo recorde histórico, a Conab projetou a colheita total do cereal em 114,6 milhões de toneladas, um aumento de 31,6% em comparação com a anterior, e volume também recorde.
“A maior parte do milho semeado encontra-se em estágios de desenvolvimento em que o clima é preponderante. Em Mato Grosso e Goiás, há uma tendência de déficit hídrico. Já em Mato Grosso do Sul e no Paraná, a maior preocupação é com o risco de geadas”, afirmou o diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab, Sergio De Zen, na divulgação das últimas estimativas da companhia, no início de maio.
Tiro e queda. O frio chegou, especialmente no Sul, mas sem causar grandes estragos até o momento. No Paraná, que lidera a produção na região, as baixas temperaturas não prejudicaram o bom desenvolvimento das lavouras, como reforça Edmar Gervásio, analista do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral).
“A cada semana que passa, as condições das lavouras evoluem rapidamente, eliminando o risco de perdas por frio ou geada. Nesta safra, o clima colaborou com as chuvas regulares, e o produtor também conseguiu plantar dentro do período ideal”, afirma. Segundo maior produtor de milho safrinha do país, atrás de Mato Grosso, o Paraná finalizou o plantio do cereal, e 84% das lavouras estão em boas condições. A colheita no Estado deverá somar 16 milhões de toneladas – mais um recorde, segundo o Deral.
Consultorias que monitoram a safra corroboram o quadro de recuperação. A Datagro, por exemplo, calcula a safrinha atual em 89,4 milhões de toneladas, volume 42,6% superior às 62,7 milhões de toneladas colhidas no ano passado, segundo seu levantamento. A consultoria ressalta que, por enquanto, as perdas na safra de inverno derivam de chuvas irregulares em parte de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. Aparentemente, o impacto do frio e das geadas registradas no início da segunda quinzena de maio foi pontual.
A AgRural também atribui ao clima – à seca, no caso – uma redução de 5 milhões de toneladas em relação às estimativas iniciais, e agora projeta a safrinha em 86,3 milhões de toneladas, ainda robusta. A consultoria concorda que a recuperação, mesmo com as perdas, garante um pouco mais de tranquilidade ao mercado da commodity, mas ela não descarta novos ajustes em sua previsão.
“Mesmo com o corte na estimativa, a produção ainda é muito maior que a do ano passado, o que permitirá também a recuperação das exportações brasileiras. Por isso, ainda não houve impacto nos preços nos mercados interno e externo. Mas a safrinha ainda está em aberto. Novos cortes de produção poderão ser feitos até o fim de junho por causa de estiagem ou futuras geadas, caso elas aconteçam”, diz a consultoria. No caso das exportações, colaboram para a tendência de recuperação os problemas causados pela invasão da Rússia na Ucrânia, já que os dois países normalmente respondem por 20% dos embarques globais.
Recentemente, a Agroconsult também reduziu sua estimativa para a colheita da segunda safra de milho no Brasil. Com o corte de 4,6 milhões de toneladas, reflexo do clima seco que afetou algumas lavouras em desenvolvimento, a consultoria agora estima produção de 87,6 milhões de toneladas.
De acordo com a Climatempo, uma nova onda de frio pode alcançar áreas na região Sul na virada do mês. As temperaturas podem cair em áreas de Santa Catarina e do Paraná, onde podem ficar entre 3ºC e 6°C, e no sul do Rio Grande do Sul, onde os termômetros poderão registrar 3°C ou menos. Mas a Climatempo observa que o frio esperado para o fim do mês não será tão intenso quanto o registrado em meados de maio. Nas projeções da empresa, o Sul do país deverá voltar a registrar forte queda nas temperaturas apenas em julho.
Fonte: Valor Econômico.