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Níveis de endogamia e depressão endogâmica no ganho de peso de raças zebuínas no Brasil

A introdução das raças zebuínas no Brasil deu-se principalmente nas primeiras décadas do século vinte, tendo sido encerrada em 1962. Desde então, a população zebuína teve um crescimento vertiginoso. A endogamia foi usada por criadores de elite para assegurar uniformidade racial e fixação de características peculiares a certas linhagens de touros famosos. Porém a endogamia, acima de certos níveis, pode deteriorar substancialmente o desempenho reprodutivo e produtivo dos rebanhos. Os objetivos deste estudo foram a determinação da evolução da endogamia nas principais raças zebuínas no Brasil e a estimação do efeito da endogamia (depressão endogâmica) no desempenho produtivo dos animais.

A introdução das raças zebuínas no Brasil deu-se principalmente nas primeiras décadas do século vinte, tendo sido encerrada em 1962. Desde então, a população zebuína teve um crescimento vertiginoso. O uso mais intenso de descendentes de certos touros foi prática comum nas raças zebuínas. A endogamia foi usada por criadores de elite para assegurar uniformidade racial e fixação de características peculiares a certas linhagens de touros famosos. O uso mais intensivo de tecnologias reprodutivas e de metodologias de avaliação genética objetivas e mais acuradas, verificados nas últimas duas décadas, potencialmente pode estar acelerando a taxa de endogamia nas raças zebuínas. A endogamia, acima de certos níveis, pode deteriorar substancialmente o desempenho reprodutivo e produtivo dos rebanhos (Burrow, 1993; Queiroz et al., 2000). Os objetivos deste estudo foram a determinação da evolução da endogamia nas principais raças zebuínas no Brasil e a estimação do efeito da endogamia (depressão endogâmica) no desempenho produtivo dos animais.

Os registros de pedigree e de desempenho usados nas análises dos níveis de endogamia e da depressão endogâmica no ganho de peso médio diário (GMD) do nascimento à desmama, ajustado para 205 dias (GMD205), e no GMD da desmama ao sobreano, ajustado para 550 dias (GMD550), das raças Gir, Guzerá, Indubrasil, Nelore e Tabapuã foram os mesmos utilizados nas avaliações genéticas de rotina realizadas pela empresa GenSys Consultores Associados para a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).

As informações de pedigree foram editadas visando eliminar ou minimizar os possíveis erros e inconsistências existantes nos arquivos de registro genealógico. Após a edição, permaneceram no arquivo animais nascidos entre 1920 e 1999. Nos registros de desempenho, realizou-se edição e ajustes para efeitos ambientais conhecidos, conforme a rotina da avaliação genética da ABCZ. Os números de registros de pedigree e desempenho utilizados, por raça, são dados na Tabela 1.

Os coeficientes de endogamia (F) dos animais foram obtidos pelo algoritmo de Meuwissen e Luo (1992). Este algoritmo calcula o coeficiente de endogamia de cada animal, baseado nas relações de parentescos conhecidas, não havendo ajustamento para informações de pedigree incompletas. O tamanho efetivo de população (Ne) de cada raça foi estimado com base na taxa de endogamia média por geração (), isto é, Ne=1/(2). Os intervalos entre gerações (IG) utilizados foram aqueles estimados por Faria et al. (2002). Os foram calculados por IG* a, onde a é a taxa anual média de endogamia, dada pelo coeficiente de regressão linear do F médio dos animais nascidos entre 1992 e 1999 no ano de nascimento dos mesmos.

Os modelos lineares mistos univariados utilizados na estimação da depressão endogâmica no GMD205 e GMD550, dentro de cada raça, incluiram os efeitos fixos de grupo contemporâneo e das regressões lineares no coeficiente de endogamia do animal e no coeficiente de endogamia da vaca-mãe (materno), ambas estimadas separadamente para machos e fêmeas, e o efeito genético aditivo aleatório do animal.

Todas as raças estudadas apresentaram uma evolução crescente da taxa de endogamia anual, principalmente após 1980. A única exceção foi a raça Guzerá que apresentou um decréscimo na taxa de endogamia a partir de 1993. As raças Indubrasil e Gir apresentam as maiores taxas de endogamia nos últimos 8 anos e, conseqüentemente, menores Ne (Tabela 2). Resultados com tendências similares foram encontrados por Faria et al. (2002).

Em todas as raças, a frequência de animais endogâmicos aumentou rapidamente ao longo dos anos, tendo chegado, em 1999, a níveis de 60% nas raças Nelore e Indubrasil e superiores a 30% nas demais raças. A endogamia média dos animais endogâmicos, entretando, reduziu ao longo dos anos, estando, em 1999, ao redor de 7,5% para as raças Gir e Indubrasil e inferiores a 4% nas raças Guzerá, Nelore e Tabapuã.

Em todas as raças, mais de 50% dos criadores com animais registrados tiveram mais de 9% de animais endogâmicos, com uma endogamia média do animais endogâmicos superior a 7%, exceto para a raça Nelore, cuja endogamia média dos endogâmicos foi inferior a 4,5%.

As endogamias individual e materna influenciaram o GMD205 e o GMD550, causando depressão endogâmica. Para GMD550, a endogamia individual causou substancialmente mais depressão endogâmica do que a endogamia materna. Para GMD205, ora a endogamia individual, ora a endogamia materna causou mais depressão endogâmica, dependendo da raça considerada. Na média das raças, entretanto, a endogamia individual causou maior depressão do que a materna. Para cada 10% de aumento na endogamia individual, o GMD205 e o GMD550 foram reduzidos em 1,7% e 2,1% em relação a média fenotípica, respectivamente. Os mesmos resultados para endogamia materna foram 1,4% e 0,5%.

O efeito da endogamia individual diferiu por sexo. Para GMD550, a depressão endogâmica devido a endogamia individual foi maior em machos do que em fêmeas. O mesmo ocorreu, também, para GMD205, exceto para a raça Gir, para a qual a depressão endogâmica devido a endogamia individual foi maior em fêmeas do que em machos.

Tabela 1. Número de registros de pedigree e de desempenho utilizados no cálculo dos coeficientes de endogamia e das depressões endogâmicas por raça

Tabela 2. Taxa anual média de endogamia (a) e tamanho efetivo da população (Ne) por raça

Com base na taxa de endogamia anual, especialmente nas raças Indubrasil e Gir, na proporção de animais endogâmicos, em todas as raças, e na depressão endogâmica verificada no GMD pré e pós-desmama, a endogamia deveria passar a ser objeto de consideração nos programas de seleção e acasalamento das raças zebuínas.

Referências bibliográficas

Burrow, H.M. 1993. Animal Breeding Abstracts 61(11):737-751.
Faria, F.J.C., A.E.Vercesi Filho, F.E. Madalena e L.A. Josahkian. 2002. Submetido ao 7th WCGALP, Montpellier, França.

Meuwissen, T.H.E. e Z. Luo 1992. Genetic Selection Evolution 45(24):305-313.

Queiroz, S.A. de, L.G. de Albuquerque e N.A. Lanzoni. Revista Brasileira de Zootenia, 29(4):1014-1019.

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