A produção agropecuária, em geral, vem alcançando níveis de produtividade cada vez maiores com a utilização de tecnologias de ponta que têm sido desenvolvidas por laboratórios e centros de pesquisa, tanto públicos como privados (de empresas que atuam no setor de produção e vendas de insumos de alto valor agregado).
Tanto a curiosidade do homem em aumentar cada vez mais seu conhecimento sobre os mecanismos de funcionamento da natureza, como o interesse econômico das empresas em aumentar seus lucros com a geração de insumos e tecnologia inovadores, vinham dando a impressão que esse aumento de produtividade seria sempre passível de aumentos crescentes sem efeitos colaterais prejudiciais ao homem e à natureza. Entretanto, acontecimentos recentes como a doença da vaca louca e os possíveis efeitos prejudiciais à saúde humana de produtos provenientes de culturas transgênicas, têm colocado a possibilidade de aumentos crescentes de produtividade em dúvida. De fato, esses acontecimentos têm despertado nos consumidores o desejo de ter a possibilidade de escolher os seus alimentos com base em informações sobre os métodos utilizados na sua produção.
Essa nova exigência sobre segurança alimentar está se tornando cada vez mais comum em todas as nações do mundo, principalmente naquelas com população com maior poder aquisitivo. A Comunidade Econômica Européia tem liderado essas exigências em termos de estabelecimento de normas de produção incluindo a rastreabilidade e a proibição de uso de insumos polêmicos nos sistemas agropecuários de produção. Embora as normas que a Comunidade estabeleceu às vezes deixem dúvidas quanto à validade em termos de segurança alimentar, politicamente elas sempre têm alguma justificativa, principalmente sob o ângulo social. A proibição do uso de anabolizantes e outros promotores de crescimento considerados seguros pelo FDA americano e pela Organização Internacional do Comércio, assim como o estabelecimento de barreiras não sanitárias, têm objetivos políticos de conseqüência social importante em termos de manutenção da atividade agrícola e de renda dos agricultores europeus.
A nova tendência de estímulo, por parte dos países da Comunidade Econômica Européia, de produção de alimentos usando os princípios da agricultura orgânica, também tem conotação política e social muito abrangentes. O momento para esse estímulo parece bastante adequado pois existe uma clara opção por parte de uma parcela de consumidores com alto poder aquisitivo, de pagarem mais por produtos mais seguros, produzidos de maneira a não prejudicar o meio ambiente e seguindo as recomendações da Organização Internacional do Trabalho quanto aos aspectos trabalhistas e de assistência social. Como uma das premissas da agricultura orgânica é ter condições equilibradas de todos os fatores que determinam a produtividade, os níveis de produção serão sem dúvida menores. Além disso ou por causa disso, ocorre um aumento da exigência de mão de obra nas atividades agrícolas para uma mesma quantidade de alimento produzido, um componente social muito importante. Com o aumento da necessidade de mão de obra e a vontade dos consumidores em pagar mais pelos produtos orgânicos, vislumbra-se diminuição do desemprego, o aumento de renda dos agricultores e provavelmente uma diminuição do orçamento destinado ao subsídio para manutenção da atividade agrícola no continente europeu.
Como a agricultura brasileira, em especial a bovinocultura de corte, poderá tirar proveito dessa nova tendência? Discutiremos esse assunto nas próximas semanas.
1 Comment
excelente conteúdo, abrangente , bem elaborado!!!