Análise semanal – 06/07/2005
6 de julho de 2005
Beef Quality Conference, Edimburgo, Escócia
8 de julho de 2005

O capim-angola se desenvolve em áreas alagadas

A busca de informações por parte de técnicos e produtores sobre a adaptação dos diferentes tipos de capim às condições de alagamento é constante. Apesar disso, ainda existem poucas informações sobre os mecanismos de adaptação das gramíneas tropicais e sobre o grau de adaptação dos diferentes cultivares.

Mattos et al. (2005) buscaram, em parte, preencher essa lacuna no conhecimento. Os autores avaliaram características morfogênicas, fisiológicas e produtivas de espécies de braquiária sob condições de alagamento. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação e foi avaliado o efeito de três níveis de disponibilidade de água (capacidade de campo e lâmina d’água de 1 e 10 cm) em quatro espécies de braquiária (B. mutica, B. humidícola, B. brizantha cv. Marandu e B. decumbens cv. Basilisk). Os níveis de alagamento foram impostos a partir do 22o dia de rebrota após um corte de uniformização e tiveram duração de 18 dias.

O alagamento reduziu a taxa de alongamento e aumentou a taxa de senescência de folhas em todas as espécies avaliadas. Apesar de não haver diferença estatística entre os capins, os autores observaram que as variações nas taxas de alongamento e senescência foram mais pronunciadas na Marandu e na Decumbens. Não houve efeito do alagamento sobre a condutânica estomática e a transpiração dos capins, porém a fotossíntese líquida do Capim-angola (B. mutica) sob 10 cm de lâmina d’água foi superior às demais espécies. O alagamento reduziu a área foliar e a massa de lâmina foliares verdes de todas as espécies avaliadas, exceto do capim-angola. O alagamento não influenciou a massa de colmos da Decumbens e da Humidícola, porém determinou sua redução na Marandu e seu aumento no Capim-angola.

Mattos et al. (2005) concluíram que o Capim-angola foi a espécie mais tolerante ao alagamento e a Decumbens e a Marandu menos adaptadas. A tolerância do Capim-angola foi atribuída, dentre outras coisas, à sua elevada quantidade de raízes adventícias.



Figura 1. Efeito do alagamento sobre a área foliar e a massa de lâminas foliares verdes e de hastes de B. decumbens cv. Basilisk, B. brizantha cv. Marandu, B. humidícola e B. mutica (Capim-angola).

Comentário:

O conhecimento das respostas das plantas às condições de estresse é fundamental para a escolha adequada do material a ser implantado no momento da formação da pastagem. Os dados de Mattos et al. (2005) mostram que o Capim-angola, seguido da Humidícola, são melhor adaptados às condições de alagamento que a Decumbens e a Marandu. Além disso, os autores investigam os mecanismos de adaptação desses materiais, fornecendo informações valiosas para os programas de melhoramento de forrageiras No entanto, como os danos causados pelo alagamento variam com a freqüência, a duração, a altura da lâmina d’água, a temperatura da água e o tipo de sedimento, mais estudos são necessários para caracterizar adequadamente as respostas de forrageiras tropicais à essa condição.

Referência bibliográfica

MATTOS, J.L.S.de; GOMIDE, J.A.; HUAMAN, C.A.M. Crescimento de espécies do gênero Brachiaria sob alagamento em casa-de-vegetação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.3, p.765-773, 2005.

8 Comments

  1. Eugenio Moreira Cavalcante disse:

    Como dito no começo da reportagem, a busca por forrageiras que suportem alagamento é grande.

    Pesquisas como essas devem ser objeto de grande importância, pois o futuro e presente da pecuária e agricultura do nosso país dependem de uma maior e melhor produção.

    Sem agredir mais nossas reservas ambientais.

    E só conhecendo bem o que temos a nossa disposição poderemos desempenhar nosso trabalho com o máximo potencial.

    E esse conhecimento só virá com pesquisas como essas, parabéns!

  2. EDSON SOUZA DE ALMEIDA disse:

    Brilhante e oportuna matéria, assim como outras que tenho lido.

    Parabéns aos autores e ao site.

  3. Nélio Aguiar de Azevedo disse:

    Minha propriedade encontra-se a 820 m de altitude média. No inverno, chega-se a 10º-9º C com alto risco de geadas. Nestes parâmetros, o capim-angola pode fornecer boa resposta ao pastejo ou teria outra espécies melhor? (a áreas úmidas-alagadas).

    Atenciosamente.

  4. Patricia Menezes Santos disse:

    Prezado Nélio Aguiar de Azevedo,

    Conforme colocado pelo colega Moacyr na primeira pergunta, o capim-hemártria parece mais adequado para a sua situação.

    Atenciosamente,

    Patricia Santos
    Embrapa Pecuária Sudeste

  5. fabiano cortezi disse:

    Olá,

    Tenho uma área encharcada e gostaria de saber se o capim angola se adapta nessa área. Gostaria de saber o valor nutricional do capim e se serve para equinos.

    Aguardo, muito obrigado!

  6. reatinojorge disse:

    Qual e o alongamento da aria foliar do capim elefante?

  7. Waldo Andrade de Matos disse:

    Por que não usar essa espécie de brachiaria num cruzamento para formar novas espécies? Angola X Humidicola , Angola X MG5 , Angola X Piatã, etc.

  8. LUIZ HENRIQUE DE OLIVEIRA disse:

    Muito boa a matéria, parabéns. No entanto, muita coisa ainda pode ser pesquisado sobre o capim angola. Por exemplo, num reservatório onde ocorre florações de cianobactérias, devido a área estar livre, ou seja a incidência solar é intensa, o capim é uma opção para o controle das cianofíceas?
    A decomposição de matéria orgânica neste reservatório pode prejudicar a potabilidade da água?

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