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O inferno sobe à Terra (I)

O aquecimento global ao longo do século XXI pode fazer com que a Terra atinja temperaturas possivelmente só registradas há 65 milhões (sim, milhões) de anos atrás, quando os dinossauros dominavam nosso planeta, causando a extinção de metade das espécies existentes hoje (animais e vegetais).

Não sou uma pessoa propriamente religiosa, embora respeite a religiosidade alheia. Na verdade, tenho admiração por aqueles que têm Fé. A vida espiritual destas pessoas certamente é mais rica que a minha, e a existência delas, mais leve.

Espero, portanto, não estar sendo demasiadamente dramático ao sugerir àqueles que têm Fé, que se preparem para algo similar ao bíblico Dia do Juízo Final.

Cronologia recente da catástrofe anunciada:

1987: Uma Comissão da ONU (Organização das Nações Unidas), criada para discutir questões de desenvolvimento e meio ambiente, sedimenta o conceito de “desenvolvimento sustentável”, no relatório “Nosso Destino Comum”.

1992: Sob a égide da ONU, representantes de governos, de ONG(s), e de entidades diversas, reúnem-se no Rio de Janeiro (Eco-92), onde propostas de “desenvolvimento sustentável” são discutidas, e é preparado o caminho para o Protocolo de Kyoto, que ocorreria cinco anos depois.

1997: A Eco-97 é realizada no Japão, quando os países participantes da Convenção da ONU de Mudanças Climáticas, assinam o Protocolo de Kyoto. Este Protocolo é um acordo que fornece normativas, e limita modelos tradicionais e agressivos de desenvolvimento, em relação ao Meio Ambiente. Para ser palatável a todos, tenta estabelecer essa transição de modelos de crescimento econômico, através de mecanismos de mercado.¹

2000: São estabelecidas as “Metas do Milênio”. Países-membros da ONU assinam um acordo com diretrizes para alcançar-se “desenvolvimento sustentável” no mundo, já em 2015.

2005 / 2006: Reina a descrença nos países-membros da ONU. Muitos duvidam que, mesmo se fossem implementadas a totalidade das normas estabelecidas no “Protocolo de Kyoto”, e por todos os países, se isso seria o bastante para reverter a rápida deterioração do Meio Ambiente, especialmente as relativas ao “aquecimento global” do planeta. As metas estabelecidas para 2015 já são consideradas inexeqüíveis e inalcançáveis.

2006: Pela primeira vez são apresentadas provas incontestáveis de mudança climática na Terra, como o aumento constante de temperatura (com picos de ondas de calor), e furacões extremamente violentos, e cada vez mais freqüentes. O que era exceção, passou a se tornar regra. E também, pela primeira vez, um estudo abrangente sobre os custos de evitar o aquecimento global é realizado. Sir Nicholas Stern chefe do serviço britânico de pesquisas econômicas, divulgou em 30 de outubro, um extenso trabalho cujas conclusões básicas são:

(I) Mudanças drásticas no clima, poderão levar, em pouco mais de duas décadas, a uma falência da economia mundial, como a conhecemos hoje, e….

(II) O custo de se manter a emissão de gases que causam “efeito estufa” em níveis aceitáveis, custaria cerca de 1% do PIB mundial, até 2050. Este estudo é, naturalmente, controverso. Para alguns, alarmista. Mas ninguém nega a seriedade e a competência com que foi realizado.

A bem da verdade, o clima em nosso planeta teve variações extremas ao longo de sua existência. Há 50 milhões de anos atrás, não havia gelo nos pólos, e crocodilos habitavam a região onde hoje é divisa entre os EUA e Canadá. Há apenas 18 mil anos atrás, algumas partes do globo apresentavam cobertura de gelo de mais de 3 quilômetros de espessura, e o nível dos mares era muito mais baixo que hoje. De repente, nos últimos 10 mil anos, estas variações abruptas cessaram, e o clima – como um todo – tornou-se praticamente estável.

O aquecimento global ao longo do século XXI pode fazer com que a Terra atinja temperaturas possivelmente só registradas há 65 milhões (sim, milhões) de anos atrás, quando os dinossauros dominavam nosso planeta, causando a extinção de metade das espécies existentes hoje (animais e vegetais). O renomado cientista britânico Chris Thomas (Universidade de York), declarou durante o encontro anual da Associação Britânica para o Progresso da Ciência: “É muito provável que estejamos próximos de uma grande onda de extinções em massa.”

Outros cientistas concordam. Naturalmente, a raça humana vai ser das últimas a desaparecer, até pela sua alta capacidade de adaptação. Mas em que condições viverão nossos netos e bisnetos? A única certeza, é que, a se prosseguir a atual tendência, nossos herdeiros finais não serão eles, e sim os insetos.

Como eu não me sinto com competência técnica suficiente para dissertar sobre o tema, vou apresentar algumas informações relevantes, em forma de lista. Talvez você, caro leitor, até me agradeça, pois poderá tirar suas próprias conclusões das informações que forneço, sem ter de suportar minhas ilações e inferências. É salutar quando se exercita algo escasso hoje em dia: a capacidade de pensar.

Vamos a alguns dados:

– Alterações climáticas consistentes praticamente não existiram desde a Revolução Industrial até meados da década de ´70. Aquecimento global é recente, coisa de apenas 25 a 30 anos atrás. Que em tão curto período tenha se tornado algo muito relevante, é assustador.

– Como já mencionado, nosso planeta já experimentou, no passado, bruscas alterações climáticas, causadas por alteração de distância do sol, e mesmo por ínfimo deslocamento do ângulo de rotação da Terra. O fato novo é que, pela primeira vez, tal está acontecendo pela intervenção humana (efeito estufa).

– O que é o tal “efeito estufa”? Quando a energia do Sol atinge a Terra, a maior parte dela ricocheteia de volta ao espaço. Mas partículas de enxofre, assim como dióxido de carbono, metano, e mais uns 30 gases crescentemente presentes na atmosfera terrestre, formam camada que aprisiona uma parcela adicional do calor solar, aquecendo o planeta.

– Cientistas estimam que a temperatura média da Terra estará entre 2 e 6º Celsius mais alta em 2100, sobretudo devido ao “efeito estufa” causado pela emissão de gases oriundos de queima de hidrocarbonetos (i.e. petróleo), e por efeito de queimadas (olha aí o Brasil se fazendo presente).

– Já se constatou que 80% das espécies estão se deslocando de seus habitats naturais em razão da alteração do clima.

– Não apenas animais, mas também vegetações estão apresentando nítidas mudanças.

– Glaciais, e geleiras do Ártico estão se derretendo a crescente velocidade.

– Áreas “brancas” refletem a luz do sol, enquanto áreas “escuras” a absorvem. Na medida em que o gelo derrete, mais luz do sol é absorvida, e não refletida, aumentando ainda mais a temperatura da Terra.

– Os mares absorvem CO2. Águas frias absorvem mais do que águas quentes. Então, ao aquecerem, a tendência é que absorverão cada vez menos CO2, deixando maior quantidade deste gás na atmosfera.

– O solo “emite” CO2. O aquecimento pode levar a um aumento exponencial de atividade microbiana. Isso faria com que as “emissões” aumentassem mais rapidamente que a capacidade da vegetação em absorvê-las.

– Como o CO2 “produzido” hoje permanece na atmosfera por até 200 anos, um rápido retorno à normalidade é improvável.

– Todos os índices que analisam e medem “efeito estufa”, e o conseqüente aquecimento do planeta, têm aumentado de grau e de intensidade nos últimos anos.

– Embora lentamente, o nível dos oceanos e de alguns mares está subindo. Já não é impensável que alguns arquipélagos, principalmente no Oceano Pacífico, tendam a ficar submersos. Adeus, Tuvalu…


Fontes: EIA,World Resources Institute

Para os otimistas profissionais, um “refresco”. No início da década de ´70, a Terra estava….. esfriando.

O que então se temia é que a queda de temperaturas, causasse um declínio na produção de alimentos, levando a fome generalizada.

Como tal não ocorreu, muito ao contrário, é compreensível que muitos achem que “aquecimento global” é mais outro modismo. Como já ocorreu com margarina (boa para a saúde) e manteiga (má), para inverterem papéis pouco tempo depois. Café, vinho tinto e carne vermelha já foram classificados quase como veneno, para logo depois se descobrir méritos em seu uso moderado. Eu brinco dizendo que algum dia alguém ainda vai descobrir que cigarro faz bem à saúde.

Bem, meus caros otimistas: dessa vez a coisa parece ser diferente. Os vaticínios não são modismos, mas baseados em modelos matemáticos e frutos de novas tecnologias, consensuais entre os maiores cientistas mundiais. Dos cientistas considerados “sérios”, aparentemente apenas o Professor Richard Lindzen (MIT), discorda da tese do efeito estufa, e do conseqüente aquecimento global do planeta.

Embora do ponto de vista “micro” todos os dados possam ser individualmente contestados, como por exemplo, em alguma parte do mundo uma geleira está se derretendo, mas em outro lugar encontra-se uma outra geleira em formação. Porém, quando consolidados de forma “macro”, a mensagem parece ser nítida: o ser humano, em sua suprema arrogância e estupidez, está matando o planeta².

O ex-presidente da República Checa Václav Havel, em discurso de despedida da vida pública, e a respeito do “efeito estufa”, declarou: “A única verdadeira esperança da população (mundial) hoje…. deriva do milagre do universo, do milagre da Natureza, e do milagre de nossa própria existência.”

Quando esperanças são nutridas por milagres, é que a situação é mesmo preocupante.

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1 Os Estados Unidos e Austrália, responsáveis por 25% da poluição atmosférica mundial, recusam-se a assiná-lo, por o julgarem prejudicial aos seus interesses econômicos imediatos. E a China, que a cada ano acrescenta o equivalente a uma Inglaterra em termos de poluição, principalmente pelo alto uso de carvão (o maior poluente atmosférico), simplesmente desconhece o Protocolo.

2 O filósofo britânico Bertrand Russel, em uma de suas famosas “boutades”, disse: “É extremamente injusto que Deus, havendo limitado a inteligência humana, não tenha também limitado a burrice.”

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