Inspeções veterinárias, agricultores europeus, taxas de importação, dólar baixo! Não é fácil para a carne brasileira manter-se no topo… É o preço do sucesso, afinal o provérbio popular diz que manga madura é a que leva pedrada. Bem, mas mesmo assim, com todos estes inimigos ainda dá para se negociar. Existe contudo um outro inimigo da carne brasileira cujo tamanho é inversamente proporcional aos danos que causa.
Trata-se do Clostridium, um tipo de bactéria que se desenvolve a temperaturas abaixo de 0oC causando uma alta produção de gases dentro de embalagens a vácuo que acabam inchando como balões de aniversário.
Por este motivo, o problema acaba sendo maior para a carne exportada, já que os sintomas de formação de gases dentro dos vácuos frequentemente começam a partir da sexta até a oitava semana (contando-se da data de produção). Nesse meio tempo, a carne já está nas câmaras frias dos clientes na Europa.
Os primeiros sintomas são uma cor de carne alterada de vermelho escuro (normal no vácuo) para um vermelho mais vivo e um sangue que se torna mais espesso e grudento. Em seguida, dentro do vácuo começam a aparecer pequenas bolhas de ar e em três ou quatro dias as bolsas estão completamente inchadas. Se perfurado, o ar dentro tem forte odor de ácido sulfídrico (ovo podre) e neste estágio a carne não pode mais ser consumida.
O problema parece acontecer sem nenhuma lógica, às vezes em algumas caixas, às vezes em conteineres inteiros. Frigoríficos do Brasil, Nova Zelândia, África do Sul, USA e de países europeus já sofreram com o Clostridium. Os prejuízos são imensos, ainda mais porque na hora de fazer as contas, os importadores europeus querem ser reembolsados não só pela carne desperdiçada, mas também pelas taxas e impostos que foram pagos na hora da importação (o que pode ser até mais do que o valor da carne em si).
Cientistas do Meat Industry Research Institute of New Zealand Inc (MIRINZ Inc.) debruçaram-se sobre o problema. De mais de 150 espécies de Clostridium, duas confirmadamente são as que produzem grande quantidade de gás a baixas temperaturas dentro de carnes embaladas a vácuo, causando também descoloração na carne e perda de sangue.
Investigações dos cientistas concluíram que as possíveis fontes de contaminação dentro dos frigoríficos são as peles e as fezes dos animais. A falta de higiene na hora da retirada do couro traria a contaminação para as carcaças e posteriormente para a carne.
As únicas soluções seriam primeiro de evitar uma contaminação das carcaças, e segundo, no caso de uma contaminação seria congelar a carne, em vez de vendê-la como carne fresca. O congelamento pára o processo de desenvolvimento do Clostridium.
Em laborátorio, os neo-zelandeses conseguiram resultados promissores com o uso de ácido peróxido-acético, usado para “lavar” as carcaças antes do processamento. Este agente conseguiu eliminar em laboratório até 99,999% dos esporos de Clostridium causadores do problema de vácuos inchados. Este processo será ainda testado em plantas de frigoríficos na Nova Zelândia.
Existem outras maneiras de se ajudar a prevenir o problema. Obviamente, regras estritas de higiene devem ser seguidas pelos funcionários de frigoríficos. O uso de facas de duas cores (enquanto uma é usada, a outra é esterilizada) principalmente na área sujeita a contaminação é outro exemplo de medida eficaz de prevenção.
Alguns frigoríficos estão instalando sistemas de ventilação forçada da sala de desossa para a sala de abate, evitando que o fluxo de ar que vem da área de abate possa contaminar a carne na desossa. Finalmente, deve ser verificada a permeabilidade de oxigênio do material usado nas embalagens à vácuo. É possível que certos tipos de embalagem favoreçam mais o problema do que outras.
Vários grandes frigoríficos exportadores tiverem ou tem problemas com o Clostridium. Quem sofre é a imagem da carne brasileira. Apesar do prazo de validade ser de 4 ou 5 meses no mercado europeu, a desconfiaça em relação à qualidade é tanta que é difícil achar clientes que aceitem carne com mais de três meses de produção.
A ABIEC, as empresas produtoras de embalagens, o ITAL e o meio acadêmico deveriam se unir pra estudar maneiras de se combater esse pequeno vilão. Mesmo os frigoríficos deveriam superar suas diferenças e trocarem mais informações entre seus departamentos de qualidade, já que um pode ajudar ou dar idéias aos outros.
Valeria a pena também dar uma espiada no que fazem “los hermanos argentinos”, já que eles têm muito menos problemas com Clostridium do que o Brasil…
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Todas as precauções e recomendações são válidas de forma a preservar a imagem de qualidade do produto. A pior coisa é a desconfiança do consumidor. Pode passar a recusar o produto.
Os povos do velho continente, das culturas orientais, como também todos os que estão comprando, querem seriedade e confiabilidade na relação comercial e no produto. Nossos exportadores não podem vacilar. Tem que estar muito atentos, a tudo.
O Brasil já não passa imagem de seriedade por conta de tanta coisa que temos visto por aí. Os empresários do ramo da exportação (em todos os segmentos) precisam agir com todo o rigor para ganharem e manterem confiança.
Às vezes passamos uma vida inteira para ganhar confiança. E que podemos perde-la num breve momento.
Devemos prestar atenção nos produtos que estão sendo vendidos no exterior. Estamos passando por um período difícil para a pecuária e seria mais complicado ainda se tivéssemos algum problema com nossa carne no continente europeu. Eles, hoje preocupados com a qualidade de vida, e alguns fazendo teste de DNA para diferenciar carne sul americana de européia, podem cessar as compras de carne brasileira usando como justificativa a falta de qualidade de nossos produtos.