Neste artigo vamos descrever o panorama do que foi o mercado mundial de carne em 2002, com base no relatório anual da Ofival (Ofice Interprofessionel des Viandes – França), cujos números são extraídos de fontes como a Comissão Européia, Eurostat, GIRA, USDA e FAO. Tentaremos também estabelecer alguns cenários para o ano de 2003.
Rebanho
Em 2002, o rebanho como um todo aumentou em 0,5%, o que representa cerca de 6 milhões de cabeças. Mas esse aumento é essencialmente verificado nos países exportadores do hemisfério sul: Brasil (+3,8%), Uruguai (+12,5%), Austrália (+3,1%), Nova Zelândia (+3,3%) e Argentina (+0,9%).
No hemisfério norte, ao contrário, o rebanho diminui nos Estados Unidos (-0,6%), União Européia (-2,2%), Rússia (-3,9%), Europa do Leste (-0,8%) e China (-0,4%). A exceção é o Japão, onde a crise da vaca louca fez com que os abates diminuíssem, e por consequência o rebanho aumentar em +1,4%.
Exportações
As exportações de Uruguai e Argentina que estiveram bloqueadas em 2001 devido à febre aftosa puderam ser retomadas, principalmente à Europa. Seu nível, todavia ainda não é o habitual, e certos mercados como os EUA e países asiáticos continuam fechados as exportações destes países.
O Brasil por sua vez conquistou mercados na Europa, África, Oriente Médio, Sudeste Asiático e Rússia, tomando o lugar da carne européia, mas também da carne argentina e uruguaia. O país se afirma como o 4o exportador mundial, atrás apenas da Austrália, EUA e Canadá.
As exportações da Europa foram retomadas e aumentaram em 15% em relação à 2001, mas continuam muito inferiores às de 1999, antes das crises de BSE e de febre aftosa que fragilizaram o setor e provocaram o fechamento de vários mercados.
As exportações da Austrália diminuíram em 2002 (-3%), devido à crise de BSE no Japão e à concorrência do Mercosul em mercados como o Oriente Médio.
Os Estados Unidos aumentaram suas exportações em 5,4%, principalmente pela abertura do mercado sul-coreano, que absorveu 275.000 Ton Equiv. Carc. de carne americana em 2002.
Importações
A liberalização do mercado sul coreano, onde as importações estavam sujeitas à quotas até o final de 2001, fez com que as importações de 2002 aumentassem em 64% em relação à 2001 (passando de 272 mil à 446 mil toneladas). O consumo também foi beneficiado pelo efeito positivo da Copa do Mundo.
Os mercados da Malásia, indonésia, Filipinas e outros países do sudeste asiático também progrediram em 10%.
O mercado americano também aumentou suas importações em 3%, atingindo o nível recorde em 2002 de 2.205 mil toneladas. O mercado dos EUA foi essencialmente abastecido pelo Canadá e Austrália.
O Oriente Médio aumentou suas importações em 17% atingindo 572.000 toneladas, sem ainda retomar o mesmo nível de 2 anos atrás.
A União Européia também aumentou suas importações em 5%, e a Argentina retomou parte do mercado perdido em 2001.
A Rússia aumentou suas importações em 7,2% pelo segundo ano consecutivo. Países da Europa como Alemanha, Irlanda e Holanda conseguiram enviar volumes importantes a este destino.
2003
Ao que parece, quando observamos os números de 2002, o negócio da carne está sendo deixado para os “profissionais”. Canadá, Austrália e Nova Zêlandia, Brasil, Uruguay e Argentina devem continuar o desenvolvimento de suas respectivas produções e exportações. Não coincidentemente, são países que fazem parte do Grupo de Cairns e que pedem uma maior liberalização do comércio mundial e o fim de barreiras comerciais.
Embora concorrentes na cena mundial, estes países tem seus fluxos de exportação bem definidos. Canadá, Austrália e Nova Zelândia abastecem principalmente o mercado dos EUA onde a queda da produção deverá acentuar a necessidade de importações. No caso da Austrália e da Nova Zelândia, as exportações devem ser retomadas para o Japão onde o consumo pós-crise da vaca louca tende a subir, para o Sudeste Asiático e para o recém aberto mercado sul coreano.
Para os países do Mercosul, a Europa continua sendo o maior mercado, seguida pelos países do Oriente Médio. No Oriente Médio, a Índia vem se afirmando como um concorrente competitivo às nossas exportações. Também a Europa tem ainda um grande estoque de carne de intervenção pública, que pretende escoar a preços bem baixos para mercados recentemente reabertos como Egito e outros países de Oriente Médio e leste europeu.
As grandes questões que definiriam o cenário das exportações brasileiras de carne para 2003 seriam:
Pode ser ainda cedo para definirmos, mas uma guerra no Iraque parece inevitável. Ainda não sabemos quais as consequências de uma operação americana prolongada no Iraque sobre outros países da região, mas não é difícil prever que o efeito no comércio seria negativo, e diretamente proporcional à extensão e duração do conflito.
Enquanto isso as negociações na OMC sobre o espinhoso dossiê agrícola parecem estagnadas. Um pessimismo geral está por enquanto travando as discussões, já que países como EUA, Japão e União Européia estão se mostrando irredutíveis em relação às suas respectivas políticas de protecionismo agrícola. O mesmo vale sobre nossas negociações na Alca, onde os americanos já declararam abertamente que desejam tirar o máximo de vantagens do acordo.
Embora com certeza possamos manter os mercados que conquistamos em 2001 e 2002, a conjuntura não nos parece favorável para um aumento significativo dos négocios nessas regiões.
Não seria a ocasião oportuna para tentarmos encontrar novos mercados para nossa produção crescente? E porque não na Ásia? Temos qualidade e preço para isso. E se fomos campeões do mundo na primeira Copa realizada no Oriente porque não sermos campeões da carne na Ásia? Imagine um pôster do Ronaldinho comendo um belo contra-filé brasileiro na praça de Seul!