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O papel de um serviço de informação de carne bovina na ocorrência da BSE ou “Vaca louca”

Durante o período de Natal de 2003 o mundo foi surpreendido com o anúncio de um caso de BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy, conhecida como “Vaca Louca”) em uma vaca holandesa no estado de Washington, nos Estados Unidos. Alguns especialistas já começaram a elaborar análises sobre a potencial abertura de mercados para o Brasil, enquanto outros ainda se mostram mais reservados. Vários países já cessaram a importação da carne bovina americana, o que terá enorme impacto em sua cadeia produtiva de carne bovina.

Sem a intenção de realizar aqui qualquer prognóstico, até mesmo porque somente o tempo revelará o impacto no comércio mundial de carnes, procuraremos mostrar neste artigo o papel dos Serviços de Informação de Carne quando um evento desta magnitude ocorre. Os casos já ocorridos no mundo desenvolvido certamente alertam-nos sobre a gravidade das consequências e a importância da rapidez e acurácia das informações a serem divulgadas. É fundamental agir rápido, visando assegurar a confiança do consumidor neste produto de importante valor nutricional que certamente tem seu consumo reduzido em caso de medo de seu impacto na segurança alimentar. Discutiremos brevemente alguns fatos ocorridos nos EUA, Canadá e França e as ações de seus Serviços de Informação.

Desde o diagnóstico do primeiro caso de BSE na Inglaterra em 1986; da primeira provável associação com a doença humana de Creutzfeld-Jacob em 1994; até os primeiros casos na França (1991), Japão (2001) e vários outros países europeus (com menor número de casos), muito já ocorreu ao redor do mundo. Os impactos econômicos foram sempre gravíssimos, pois além da perda (pelo menos temporária) dos mercados de exportação, há enorme redução do consumo de carne no mercado interno. Podemos aprender muito com estes graves casos e com o posicionamento de todas entidades ligadas à cadeia da carne bovina.

O risco de ocorrência de BSE no Brasil é hoje considerado baixo, porém isto não é motivo para não fazermos nossa “lição de casa” e melhorar nossas estruturas de inspeção, sanidade e fiscalização, se desejarmos nos manter em posição de liderança na produção e exportação de carne bovina.

Nos Estados Unidos, quando foi anunciada a suspeita do primeiro caso de BSE em uma vaca holandesa do estado de Washington, em 23 de dezembro de 2003, o NCBA (National Cattlemen´s Beef Association), associação dos produtores de gado de corte dos EUA, já tinha um plano de ação traçado. O NCBA já investiu milhões de dólares, provenientes de um fundo denominado checkoff (onde em cada ato de comercialização de bovinos US$1 é revertido para o fundo) em ações de promoção, informação, pesquisa e lobby. Segundo o New York Times de 31 de dezembro, (http://www.nytimes.com/2004/01/01/national/nationalspecial2/01LOBB.html), imediatamente os lobistas em Washington foram postos em ação, rastreando os membros do Congresso que estavam em casa para as férias de natal, e discutindo com os responsáveis do Departamento de Agricultura qual seria a resposta unificada do setor. Grupos de especialistas foram colocados à disposição da imprensa em todos os 50 estados americanos para divulgar esta mensagem unificada. Uma página especial de informação sobre a BSE, elaborada pelo NCBA há anos e mantida em reserva, foi posta no ar a fim de educar o público sobre a BSE (http://www.bseinfo.org). Podemos observar na figura abaixo o site do NCBA, mostrando em destaque o banner que conduz a este site.


Segundo o Vice-Presidente do NCBA para assuntos governamentais, o objetivo foi “Tentar atingir o consumidor americano, de onde vem toda nossa renda”. A maioria dos 20 principais funcionários do NCBA estava em férias natalinas e muitos foram chamados de volta ao trabalho. O que se seguiu foi um vendaval de conversações com oficiais do Departamento de Agricultura, incluindo a Secretária Ann M. Veneman, e o Congresso, para que fossem coletadas e disseminadas informações sobre a BSE.

Em 20 de maio de 2003 houve a confirmação do primeiro caso de BSE no Canadá, provocando uma enorme crise na pecuária deste país. O BIC – Beef Information Centre (Centro de Informações de Carne canadense), aliado à indústria e representantes do governo, logo entrou em ação para manter a confiança dos consumidores canadenses no produto nacional e aumentar o consumo interno dos cortes comercializados para os EUA, que haviam fechado suas fronteiras para a carne canadense. A equipe de varejo do BIC fez um treinamento intensivo com as principais redes varejistas do país, visando discutir novas opções no “mix” de cortes ofertados. Foram distriubuídos mais de dois milhões de folhetos com receitas de cortes alternativos, tanto no varejo quanto como encarte de revistas. Foram realizadas pesquisas de consumidores que mostraram que a confiança na carne e nos sistemas regulatórios de sua produção era alta, resultado fundamental para o delineamento das ações do BIC. Foi feita também uma intensa campanha de comunicação com a imprensa, consumidores e formadores de opinião.

Já na França, muitas ações foram realizadas visando informar tanto a imprensa como formadores de opinião e o público em geral sobre a BSE e o impacto na população. Em 2000 o CIV criou um “Kit de Informações sobre a BSE”, destinado a nutricionistas de toda a França. O site do CIV (Centro de Informação das Carnes francês), que a partir do mês de dezembro de 2003 está disponível também em inglês, disponibiliza informações sobre a vaca louca e os riscos para os seres humanos (veja no link http://www.civ-viande.org/uk/ebn.asp?pid=57&rubrik=2&item=9&page=9). Há nesta página também um excelente folheto informativo “BSE – como estamos protegidos?” produzido pelo CIV, disponível para download em Acrobat. Este folheto foi produzido como parte de uma campanha informativa realizada a partir de 2000, contando inclusive com verba da Comunidade Européia. Este folheto foi enviado por carta a uma listagem de 180.000 médicos em toda a França, juntamente com uma carta-resposta onde os médicos podiam solicitar, gratuitamente, folhetos suplementares para disponibilizar a seus pacientes. É uma inteligente estratégia de difusão de informações através dos formadores de opinião, portanto com alta credibilidade e que atinge a população através de um canal de comunicação diferente e eficaz.


Além deste material informativo, em 2000 foram distribuídos na França mais de cinco milhões de exemplares, em 4 edições, de outro folheto informativo destinado diretamente aos consumidores, disponibilizados ao público em: pedágios rodoviários, estações do TGV, açougues, farmácias, encarte de revistas, bem como a todos cidadãos da região de Isère, que teve particular impacto da doença. Além disto houve forte campanha de assessoria de imprensa. Ainda foi produzido um vídeo de 1h30min a fim de responder às inquietudes dos consumidores, e distribuídas mais de 20.000 cópias. Finalmente, o CIV solicitou a um instituto de pesquisa constantes pesquisas dos hábitos e dúvidas dos consumidores, para adaptar sua resposta e a da cadeia produtiva em termos de informações a serem disponibilizadas.

Vimos que existe uma grande gama de ações realizadas por estas entidades para o gerenciamento de crise de vaca louca, o que certamente manteve e recuperou os níveis de consumo de carne bovina nestes países.

No Brasil, o SIC (SIC – Serviço de Informação da Carne) vem realizando há mais de dois anos ações de informação ao consumidor sobre a carne bovina. Porém, ainda é preciso um apoio muito maior da cadeia produtiva da carne e do governo brasileiro, pois seu orçamento ainda reduzido limita o leque de ações possíveis. Esperamos que nunca tenhamos de passar por uma crise de ESB no Brasil, momento no qual um trabalho coordenado pelo SIC seria fundamental na gestão da crise. Porém não é este o único motivo para apoiar-se a entidade e suas ações: há enorme demanda de informações gerais sobre a carne, combate de mitos e ações de educação pró-ativas que podem ser realizadas, contando com o apoio de toda a cadeia produtiva de carne bovina.

Fontes consultadas

BSE Info – www.bseinfo.org

Canadian Meat Business Magazine – July/August 2003

Canadian Meat Business Magazine – September/October 2003

CIV – www.civ-viande.org

Folheto – “ESB – Comment sommes-nous protégés” publicado pelo CIV

Relatório de Atividades do CIV de 2000 e 2001

NCBA – www.beef.org e www.beefitswhatsfordinner.com/

The New York Times – www.nytimes.com

USDA (BSE Information) – http://www.usda.gov/news/releases/2003/06/resources.html

O endereço de contato do SIC é:

SIC – Serviço de Informação da Carne
Av. Francisco Matarazzo, 455
Prédio 29 – Parque da Água Branca
05001-900 – São Paulo – S.P.
Tel (11) 3872 2337
Fax (11) 3872 1297
E-mail: sic@sic.org.br

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