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“O problema não é mão de obra. É liderança”: o recado de Miguel Cavalcanti para o agro

No dia 10 de abril, Miguel Cavalcanti, CEO e fundador do AgroTalento e do BeefPoint, participou da live “Gestão de Pessoas: O segredo das fazendas de alta performance”, ao lado de Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da MilkPoint Ventures. O bate-papo reuniu insights valiosos sobre cultura organizacional, liderança, formação de equipes e os novos desafios da gestão de pessoas no agro.

Com mais de uma hora de duração, a conversa foi marcada por reflexões profundas, exemplos práticos e provocações que convidam os gestores do agro a repensarem seu papel à frente das equipes.

Logo no início, Miguel relembrou sua trajetória ao lado de Marcelo no início dos anos 2000, quando juntos enfrentaram a resistência do mercado à internet no meio rural. “Falar de internet para produtores era visto como loucura”, contou. Esse espírito pioneiro ainda guia seus projetos, como a expansão da mentoria AgroTalento para Portugal, onde ele identificou que, apesar das diferenças culturais, os desafios de gestão de pessoas no agro são universais.

A falsa crise da mão de obra

Um dos principais pontos levantados por Miguel foi a crítica à ideia de “apagão de mão de obra”. Para ele, o problema não está na falta de gente, mas na ausência de liderança preparada. “Não é um problema de contratação, é um problema de liderança. A maioria dos gestores não sabe contratar, treinar, motivar, engajar ou demitir”, afirmou. Segundo ele, se habilidades de gestão de pessoas fossem medidas como produtividade de leite, muitos estariam produzindo “2 litros por vaca”.

A fazenda como lugar desejado

Miguel apresentou o conceito de FBPT — Fazenda Boa Para Trabalhar — e destacou que salário não é o único fator que define uma boa reputação no mercado. “A primeira pergunta é: essa fazenda entrega futuro para quem trabalha lá?”, provocou. Segundo ele, fazendas com bom ambiente, possibilidade de crescimento e senso de pertencimento conseguem formar equipes engajadas e até criar “filas de candidatos”.

Ele ainda abordou a importância do orgulho de pertencer. “As pessoas querem pertencer a algo maior. Elas torcem por times que não conhecem só para ter esse senso de pertencimento. A fazenda pode ser esse time”, explicou.

Prêmios não substituem boa gestão

Outra crítica importante foi ao uso de prêmios e bonificações como ferramenta de gestão. “Tem fazenda que está subornando o funcionário para ele fazer o que já é obrigação. O prêmio deve ser a cereja do bolo, e não o bolo em si”, alertou. Para Miguel, muitas fazendas pulam etapas e tentam resolver com dinheiro o que só se resolve com cultura forte e liderança presente.

Cultura é o que acontece quando você não está

A definição de cultura trazida por Miguel foi simples e poderosa: “Cultura é o que as pessoas fazem, pensam e sentem quando você não está lá”. Ele ressaltou que, especialmente em fazendas onde patrões e funcionários moram no mesmo local, o exemplo da liderança é amplificado. “Cultura é o que você tolera, o que celebra e o que finge que não vê”, disse.

Miguel também fez um alerta sobre o impacto de “funcionários terroristas”, que sabotam processos e desmotivam colegas. Para ele, permitir a permanência desses perfis envia uma mensagem destrutiva para toda a equipe: “Isso é treiná-los a continuar se comportando mal”.

Fazendas que ensinam, crescem

Ao falar sobre desenvolvimento contínuo, Miguel compartilhou sua prática pessoal do “MBA do Miguel”, iniciado em 2008, e defendeu que todos, inclusive funcionários de fazendas, precisam de planos de crescimento. “Se daqui a um ano você souber só o que sabe hoje, você andou para trás”, disse. Ele defende que fazendas devem ser espaços de formação profissional: “As melhores fazendas do futuro serão fazendas que ensinam”.

Tecnologia e propósito como atrativos

Para Miguel, tecnologia não afasta trabalhadores — pelo contrário, atrai os melhores. “Gente boa quer trabalhar onde vai aprender e usar novas ferramentas”, argumentou. Ele também destacou o papel da sucessão familiar como porta de entrada para inovações tecnológicas nas propriedades.

Liderança de verdade

Sobre liderança, Miguel foi direto: “Todos os líderes têm coragem e assertividade. Não se trata de falar alto, mas de dizer o que precisa ser dito”. Ele lembrou que há estilos diferentes de liderança — extrovertidos ou introspectivos — mas que o ponto comum é ter visão de futuro e capacidade de comunicação clara.

Indicadores que importam

Ao ser questionado sobre métricas para avaliar o desempenho das equipes, Miguel sugeriu olhar para os “leading indicators” — ações que antecedem os resultados, como número de treinamentos, reuniões, processos seletivos bem feitos — e não apenas os resultados finais. Ele recomendou o livro Hábitos Atômicos, de James Clear, como leitura essencial para entender a lógica de pequenas ações com grandes impactos.

A fazenda como expressão do gestor

Fechando a live, Miguel deixou uma mensagem poderosa: “A sua fazenda é a expressão de quem você é na sua melhor versão. Se você quer defender o agro, comece fazendo uma fazenda admirável. Uma fazenda que até quem é contra o agro respeita quando vê.”

📺 Assista agora à live completa abaixo e descubra como a gestão de pessoas pode ser o maior diferencial competitivo da sua fazenda:

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