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O que fazer com as vacas que não emprenham após a uma sessão de IATF?

Por Alexandre Hênryli de Souza 1

Atualmente, os protocolos hormonais para inseminação artificial em tempo fixo (IATF) propiciam uma taxa de concepção de cerca de 50%. Porém, o que faremos com a outra metade das vacas que não emprenharam?

Em um artigo anterior neste mesmo website (Impacto de Diferentes Tipos de Manejo na Eficiência Reprodutiva Durante a Estação de Monta – Abril, 2006), mostramos que em uma série de pesquisas feitas pelo grupo do Prof. Pietro Sampaio Baruselli da USP que a monta natural foi o melhor manejo no que se refere taxa de prenhez durante a estação de monta.

Porém, algumas fazendas de corte preferem produzir uma maior proporção de bezerros originados de inseminação artificial durante e o uso de touros no repasse pode não ser o manejo mais desejável para estes produtores. Portanto o objetivo deste artigo é de propor algumas possibilidades de manejo de vacas de corte que ficarão vazias após uma sessão de IATF.

Quando observar o cio de retorno após a IATF?

Considerando que o ciclo estral de bovinos é de cerca de 21 dias, é fácil entender que as vacas que foram tratadas com hormônios para a sincronização da ovulação e que não emprenharam vão voltar a mostrar sinais de cio de uma maneira concentrada após cerca de 21 dias, pois a maioria dos animais (~ 90%) deve estar na mesma fase do ciclo estral.

Assim, é esperado que as vacas que ficaram vazias depois de uma sessão de IATF vão voltar a apresentar cio de 18 a 25 dias depois da data da IATF (Figura 1). Deste modo, podemos intensificar a observação de cios durante este período e re-inseminar as vacas detectadas em cio.

Porém, este manejo pode ser afetado pela acurácia da detecção de cio pelo observador, pela porcentagem de animais que mostram cios durante períodos noturnos (Pinheiro et al., 1998), pela duração do cio (Pinheiro et al., 1998), e variações ambientais como a presença de chuva, que podem diminuir a eficiêcia da observação de cios. Assim, estas falhas na detecção de cios, provavelmente, vão se refletir em uma menor eficiêcia reprodutiva durante a estação de monta (Penteado et al., 2005).


Figura 1. Esquema de observação de cios de maneira concentrada após a IATF.

O que podemos fazer para melhorar a eficiência da detecção do cio de retorno em vacas de corte sob inseminação artificial?

1- Métodos hormonais

Atualmente, podemos concentrar o aparecimento dos cios de retorno (Stevenson et al., 2003). Por exemplo podemos colocar implantes de progestágenos ou dispositivos com progestrona por 10 dias (inserção no dia 10 depois da IATF e retirada no dia 20; Figura 2).

Isto vai fazer com que as vacas vazias mostrem o cio de uma maneira mais concentrada, o que melhora e facilita a observação dos cios de retorno. Existem ainda outros métodos que associam doses baixas de estrógenos (Cipionato ou Benzoato de estradiol) ou GnRH, porém estes protocolos e sua eficiência de acordo com a raça (Bos Taurus ou Bos Indicus) e categoria (Novilha ou Vaca) do animal não serão abordados neste artigo.


Figura 2. Esquema hormonal para concentração de cios de retorno.

2- Métodos auxiliares

Existem algumas maneiras auxiliares de se melhorar a eficiência da detecção dos cios em bovinos de corte como o uso de rufiões, fêmeas androgenizadas, uso de “rodeios diários”. Porém existem também alguns dispositivos (KAMAR®, Estrus Alert®, Bovine Beacon®, ShowHeat®, HeatWatch®, etc) bastante eficientes e que são utilizados na bovinocultura de leite – onde, normalmente, o touro tem papel secundário nos programas reprodutivos – que detectam a atividade de monta ou cio. A foto abaixo mostra o KAMAR® ativado após a aceitação de monta por uma vaca de leite:


Vale lembrar que certos dispositivos são utilizados principalmente em pesquisas científicas devido ao seu alto custo, porém algumas destas tecnologias possuem um relativo baixo custo e podem ser utilizadas com sucesso em condições de campo em gado de corte, porém è fundamental que não ocorram erros de interpretação de leitura do dispositivo por parte do técnico responsável. Estes dispositivos devem ser colocados 10 dias depois de uma sessão de IATF e checados diariamente até o dia 25 a 30 após a IATF para que os cios de retorno sejam identificados com uma maior eficiência (Figura 3). A maior vantagem destes dipositivos em relação à observação de cios convencional é que eles possibilitam uma observação de cios “contínua”, mesmo durante períodos noturnos, onde mais de 30% das vacas de corte iniciam e terminam o comportamento de cio (Pinheiro et al., 1998).


Figura 3. Uso de dispositivos que detectam atividade de monta para detectar cios.

Uso da ultra-sonografia associada à re-sincronização?

Associado à detecção dos cios de retorno, existe ainda a possibilidade de se utilizar uma manejo mais agressivo com respeito ao diagnóstico de prenhez. Em bovinos, com o uso da ultra-sonografia a prenhez pode ser identificada, em condições de campo, a partir dos 25-26 dias após a inseminação com uma acurácia bastante grande.

Portanto a observação estratégica de cios dos 18 aos 25 dias seguido de um diagnóstico precoce de prenhez aos 26 dias dos animais que não mostraram cio de retorno após uma sessão de IATF vai facilitar o manejo dos animais que não emprenharam. Deste modo, as vacas identificadas vazias no exame ultra-sonográfico podem ser re-sincronizadas com o protocolo mais adequado (Figura 4).


Figura 4. Associação do diagnóstico precoce com ultra-sonografia no manejo do cio de retono.

É importante lembrar que estes são exemplos de manejos que devem ser implementados em rebanhos que utilizam prioritariamente a inseminação artificial, do contrário, o uso de touros para o repasse após uma sessão de IATF, provavelmente, é o manejo mais simples e efetivo durante uma estação de monta. Além disso, o grau de agressividade dos manejos propostos neste artigo, assim como o custo-benefício da implementação de uma técnica ou tratamento devem ser avaliados de uma maneira bastante criteriosa pelo técnico responsável.

Referências bibliográficas

PENTEADO, L; SÁ FILHO, M.F.; REIS, E.L.; TORRES-JÚNIOR, J.R.; MADUREIRA, E.H.; Baruselli, P.S. Eficiência reprodutiva em vacas Nelore (Bos indicus) lactantes submetidas a diferentes manejos durante a estação de monta Anais XVI Reunião doColégio Brasileiro de Reprodução Animal, 2005.

PINHEIRO, O.L., BARROS, C.M., FIGUEREDO, R.A., VALLE, E.R. DO, ENCARNAÇÃO, R.O., PADOVANI, C.R. Estrous behavior and the estrus-to-ovulation interval in Nelore cattle (Bos indicus) with natural estrus or estrus induced with prostaglandin F2alpha or norgestomet and estradiol valerate. Theriogenology, 49:667-681, 1998.

STEVENSON, J.S., JOHNSON, S.K., MEDINA-BRITOS, M.A., RICHARDSON-ADAMS, A.M., LAMB, G.C. Resynchronization of estrus in cattle of unknown pregnancy status using estrogen, progesterone, or both. Journal of Animal Science 81:1681-1692, 2003.

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1Alexandre Hênryli de Souza, Doutorando, Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP

0 Comments

  1. Euler Andres Ribeiro disse:

    Tenho recomendado o retorno do implante de progesterona em todos os animais participantes da IATF do D13 ao D23 (a partir da Inseminação) e faço o exame de ultrassom no D25.

    Aproveito uma visita para o Diagnóstico de gestação e para avaliar as que retornam ao cio. Apenas as com presença de folículo maduro e edema uterino são reinseminadas. A soma das taxas das duas inseminações tem sido por volta de 80%.

  2. Euler Andres Ribeiro disse:

    No artigo você também usa 10 dias de implante. A diferença é que atrasando 3 dias, aproveito a mesma visita para o diagnóstico para separar as fêmeas aptas a serem inseminadas das que não responderam ao protocolo. Com isto os custos são otimizados.

  3. Ewerton disse:

    Dr Souza, Parabéns pelo artigo.

    Ao retornar o implante de P4 no final da IATF para concentrar o próximo cio, vou estar também aumentando a taxa de prenhez da IATF pelo aumento da concentração de P4?

    Eu sei que o reconhecimento é realizado pela trofoblastina (interferon t), mas esse aumento de P4, também vai favorecer o embrião? Ou nesse caso o intuito é somente de concentrar o próximo cio?

    Em gado de corte tem algum trabalho sobre aumento da taxa de prenhez pela suplementação de P4 no inicio da gestação?

    Obrigado

    Resposta do autor:

    Caro Ewerton,

    No trabalho citado a intenção era apenas sincronizar o retorno do cio. A maioria dos trabalhos não verificam aumentos expressivos na taxa de concepção após a suplementação com progesterona após o dia 10 do ciclo estral. Você pode encontrar mais informações sobre este tópico procurando por trabalhos do Prof. Pietro Baruselli (publicados na SBTE de 2001 a 2007), Cavalieri, Lamb, Lopez-Gatius, Mann, e outros autores.

    Um abraço,

    Alexandre

  4. RONNIE VALDO MENDES BRITO disse:

    Inicialmente gostaria de parabeniza-lo pelo excelente artigo. Tenho as seguintes perguntas a serem feitas:

    1ª ) Os implantes de progestágenos ou dispositivos com progestrona utilizados podem ser de 2º e 3º uso?

    2º ) Qual a diferença em protocolos da eficiêcia e concentração dos estrogenos: cipionato de estradiol, benzoato de estradiol e valereato de estradiol ( acho que é isto mesmo ). Quanto de cada um devemos utilizar e em qual etapa do protocolo.

    A mesma pergunta faço para as formas analogas de Pgf2@ (prostlagandinas). Ex: CIOSIN (SHERING), PRELOBAN (NTERVET), LUTALYSE (PFIZER), PROLISE (TECNOPEC)?

    3º ) Esta resincronização pode ser feita com MGA (Progesterona forma pó – PFIZER) + ECP com a mesma eficiência dos dispositivos intravaginais?

  5. joaquim batista pinto filho disse:

    estou trabalhando com essa tecnica recente e tenho duvida sobre a utilizacao do implante de progesterona na utilização do retorno do cio; pode ser implantes reutilizados quantas vezes e se esse processo não vai interfi no desenvolvimento dos embrioes das que emprenharam.

    abraço,joaquim

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