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Odo Primavesi, da Embrapa Pecuária Sudeste: a pecuária de corte brasileira e o aquecimento global

Odo Primavesi concedeu essa entrevista exclusiva ao BeefPoint, falando sobre o impacto da pecuária de corte no aquecimento global. Aponta várias ações possíveis para a pecuária de corte a pasto e confinada, visando preservação ambiental e aumento da lucratividade. Odo aponta para o bom manejo do solo, das pastagens e dos animais como a saída para uma produção pecuária mais eficiente ambientalmente e mais produtiva.


Odo Primavesi é Engenheiro Agrônomo formado em 1970, na Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria-RS, com pós-graduação na Universidade da São Paulo/Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP, em 1983 (Mestrado) e 1986 (Doutorado), na área de Solos e Nutrição de Plantas.

Iniciou atividades profissionais com pesquisa e desenvolvimento da fonte de micronutrientes silicatados FTE, e na pesquisa e desenvolvimento de adubos foliares e misturas de micronutrientes quelados, atuando nas regiões sul, sudeste e Mato Grosso do Sul, com levantamentos de campo e palestras sobre o manejo ecológico do solo.

Em 1986 iniciou atividades como pesquisador científico na Coopersucar/CTC, Piracicaba, SP, com atividades ligadas ao estudo adequado do manejo nutricional de cana-de-açúcar e a influência do clima sobre a produção. Em 1990, assumiu a função de pesquisador científico na Embrapa Pecuária Sudeste, na área de forragicultura, recebendo a incumbência de desenvolver estudos relacionados ao levantamento de impactos ambientais da pecuária bovina de leite e de corte sobre o solo, a água, as pastagens e os produtos gerados, bem como a identificação de indicadores de qualidade ambiental.

Em 2000 iniciou medições pioneiras na América Latina, em condições de campo, em colaboração com a Embrapa Meio Ambiente, a UNESP de Jaboticabal, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e a Washington State University, Pullman, da emissão de gás metano (CH4) ruminal, que polui a atmosfera e intensifica o aquecimento global e as mudanças climáticas, a partir de projeto encomendado pela Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP/Ministério de Ciência e Tecnologia, que representa o Brasil junto ao protocolo de Quioto.

Com a percepção da importância de se considerar as emissões de gases pelos sistemas de produção, e os dados levantados nos estudos anteriores no nível de bacia hidrográfica, desenvolveu um “modelo pictórico” composto de três figuras (situação-reflexão-solução), e que permitiu vislumbrar, por meio do referencial inédito do ambiente natural primário, os pontos-chave da degradação e da poluição ambiental, e que é utilizado em ações de educação ambiental, também por universidades públicas e privadas, com o objetivo de sensibilizar e resgatar a percepção dos fundamentos ecológicos que dão suporte às boas práticas de manejo necessárias para sistemas de produção eficazes e sustentáveis.

Por conta dessas atividades ocorreram diversos convites para participar em fóruns relacionados, redigir artigos e a participar em grupos de trabalho organizados pela FAO/ONU e pelo Banco Mundial, estando o último previsto a encerrar no final do corrente ano. Atualmente está se empenhando em divulgar os princípios e as normas ecológicas que permitem “rodar” os sistemas produtivos lucrativos e sustentáveis, em ações de educação ambiental.

Odo Primavesi concedeu essa entrevista exclusiva ao BeefPoint, falando sobre o impacto da pecuária de corte no aquecimento global. Aponta várias ações possíveis para a pecuária de corte a pasto e confinada, visando preservação ambiental e aumento da lucratividade. Odo aponta para o bom manejo do solo, das pastagens e dos animais como a saída para uma produção pecuária mais eficiente ambientalmente e mais produtiva.

BeefPoint: Recente relatório da FAO entitulado “Livestock´s long shadow” relata que a produção pecuária mundial produz mais CO2 (ou equivalente) que todo o sistema de transporte no mundo. Qual a importância de cada um dos seguintes fatores na produção de equivalente CO2, contribuindo para o efeito estufa:

  • desmatamento/queimadas de florestas,
  • produção de metano pela fermentação ruminal e,
  • produção de metano pela fermentação de dejetos?
  • Odo Primavesi: Esse relatório de levantamento organizado pela FAO, descreve muito bem e em detalhes o impacto das criações (ruminantes e não ruminantes) conduzidas em sistemas de produção extensivo e intensivo/industrial. Os valores gerais elevados advém do fato de serem incluídos num mesmo pacote de conclusões os sistemas de produção de todas as espécies animais, não somente dentro da porteira, mas na cadeia produtiva, incluindo o transporte, com os consumos de energia fóssil.

    O título do trabalho (long shadow = sombra comprida) reflete similaridade com um índice aplicado para o impacto ambiental do consumo humano chamado “pegada ecológica” (ecological footprint), e que é de aproximadamente 10 ha/pessoa vivendo nos EUA (pegada 6 vezes maior que o normal, com seu consumismo perdulário), 5 ha/pessoa vivendo na Europa, sendo que o mundo dispõe de 1,7 ha/pessoa para a presente população, devendo ser de apenas 1 ha/pessoa no ano 2020, em vista do aumento populacional e a redução de áreas agrícolas por degradação e uso perdulário do capital natural. Alguém deve estar passando ou vai passar fome e sede.

    Embora existam sistemas de produção e pessoas vivendo neles, seguindo critérios ecológicos, incluindo biodiversidade integrada, reciclagem e uso de energia alternativa, em que se vive bem, com educação superior inclusive, com 1/4 de ha/pessoa, e sem educação superior ficando em 1/16 ha/pessoa, que pode ser considerado limite mínimo para se viver com dignidade.

    Entendendo que a preocupação é sobre que rumo deve tomar nossa pecuária, especificamente a de corte, e acreditamos que seja interessante localizar o leitor no que realmente está pegando e que poderá ser utilizado para limitar nossas exportações, sabendo-se que na realidade algumas práticas de manejo tradicionais devem ser abandonadas porque prejudicam o ambiente e a produtividade do sistema de produção. A partir dessas novas percepções cada produtor ou empresário poderá montar seu conjunto de tecnologias adequadas para seu local.

    O relatório traz que a pecuária bovina de corte praticada de maneira extensiva ou muito intensiva traz impactos ambientais negativos que necessitam ser evitados. Então vejamos alguns fundamentos para que melhor possam perceber e avaliar a situação, talvez até tendo condições de sugerir soluções criativas:

    a) estudos mostram que muitas civilizações humanas concentradas em áreas urbanas, “confinamentos”, desapareceram por falta de alimentos (degradação de solos no entorno das cidades), falta de água limpa (degradação do ciclo da água por degradação de solos e matas = vegetação permanente diversificada) e falta de saneamento básico (lixos e esgotos lançados nas ruas). Atualmente verifica-se intensificação dessas atividades degradadoras e depredadoras em escala global, com lançamento intenso de lixos sólidos (devido ao consumismo exagerado; sem reciclagem ou reutilização), líquidos (p.ex., esgotos sem tratamento), gasosos (p.ex., gases de efeito estufa) e radiativos (p.ex., calor e luz com quebra das noites), uso intenso de venenos ou substâncias em concentrações nocivas, e exclusão social.

    b) o ambiente natural primário, ainda com rochas expostas e que existiam quando a vida saiu dos mares para colonizar os continentes, sem solo, sem lençol freático, sem água residente, sem cadeia alimentar, sem biodiversidade, com grandes variações de temperatura e de umidade relativa do ar durante o dia, não tem capacidade de suporte biológico; quando se compara com um ambiente natural clímax, p.ex., uma mata, percebe-se que para haver capacidade de suporte biológico e condições de vida e de produção, há necessidade de uma infra-estrutura natural e serviços ambientais essenciais integrados e interagindo.

    c) a infra-estrutura natural essencial, o hardware para rodar os sistemas produtivos, como a pecuária de corte, é composta de água residente (recarregada pelas chuvas: lençol freático, serapilheira e vegetação), em solo permeável, protegido e mantido permeável por vegetação permanente e diversificada (em tripla camada protetora: dossel ou copas, restos vegetais ou serapilheira, e trama radicular que mantém solo permeável). Quando se deixa uma terra cansada em pousio, após 4 a 8 anos de descanso, com formação de capoeira, verifica-se que ocorre restabelecimento dessa infra-estrutura natural essencial. O solo de uma pastagem de capim-braquiária, de baixa fertilidade e compactado, volta a ser permeável com descanso de 18 meses. Quando a pastagem é estimulada com uso de fertilizantes, retorno de material orgânico na superfície do solo e pastejo rotacionado, um descanso de 35 dias é suficiente para manter o mesmo solo permeável.

    d) os serviços ambientais essenciais, o sistema operacional, necessário para rodar os sistemas produtivos, são: água das chuvas armazenada no lençol freático (abastece as plantas, as nascentes e os poços), a atenuação e manutenção de uma variação térmica pequena, com proteção do solo contra aquecimento excessivo (com temperaturas acima de 33oC plantas não absorvem água nem nutrientes), e a manutenção da umidade relativa do ar, por meio da cobertura vegetal permanente vaporizadora hidrotermorreguladora (vaporizam de 4 a 10 vezes mais água para umidificar o ar que um corpo de água de mesma superfície; a substituição de uma floresta por uma represa em geral aumenta períodos de baixa umidade relativa do ar), que evita que as plantas de interesse (cultivos e pastagens) sofram de transpiração excessiva, murchem as folhas e parem de fazer fotossíntese, resultando em perdas de produção.

    Corpos de água e vegetais contendo umidade atuam como atenuadores térmicos (demoram a esquentar e a esfriar, o que resulta em menor amplitude térmica no solo e no ar, o que é desejável), comparado com solo nu (em áreas degradadas, irradiando calor que vai abastecer os gases de efeito estufa, e ao mesmo tempo reduz a umidade relativa do ar) ou rocha ou cimentado (materiais densos e secos).

    A natureza, dispondo de água para as plantas, mantém plantas com coloração escura das folhas (albedo baixo, absorve mais radiação solar e irradia calor) e transpirando (neutraliza o efeito aquecedor; 1 grama de água vaporizado retira 590 calorias do ar), e quando a escassez de água é intensa, as folhas secam e mudam para uma coloração mais clara (albedo mais alto – superfícies brancas ou prateadas tem albedo máximo e esquentam menos-, o que reflete radiação solar, não aquece tanto).

    E quando se queima essas folhas ou palhadas claras, transforma tudo em cinzas negras (corpo escuro, com albedo mínimo, máxima absorção de radiação solar, e grande irradiador de calor – infravermelho -, abastecendo os gases de efeito estufa, calor também liberado da matéria seca durante a queimada). Os líquens, primeiros vegetais a colonizar os ambientes naturais primários, as rochas, para formar solo, tinham coloração clara, prateada, para refletir radiação solar e evitar aquecimento exagerado do substrato e reduzir perdas de água por evaporação.

    e) essa transformação de ambiente natural primário, rochoso, inóspito para a vida, em ambiente natural clímax, altamente hospitaleiro para a vida e com grande capacidade de suporte biológico, chama-se desenvolvimento. As árvores são estratégicas para permitir o máximo de acúmulo de energia solar por unidade de área (de 120 a 360 t/ha de matéria seca; o que eqüivale a um acúmulo de gás carbônico de 240 a 720 t/ha). Se quisermos considerar também por unidade de tempo, não tem quem possa competir com as gramíneas tropicais, como o capim-elefante e a cana-de-açúcar (em torno de 50 a 70 t/ha/ano de matéria seca; ou 100 a 140 t/ha/ano de gás carbônico), comparado com eucalipto, árvore de rápido desenvolvimento, que produz em torno de 20 t/ha/ano (40 t/ha/ano de gás carbônico).

    As plantas (o elo fundamental da cadeia alimentar) conseguindo acumular muita energia na forma de biomassa, cumprem o seu papel para alimentar o restante da cadeia alimentar, passando pelos herbívoros (como os bovinos), carnívoros, onívoros (ser humano) e decompositores (que fazem a reciclagem na natureza). A retirada extensiva dessa estrutura vaporizadora (copas de árvores e arbustos), a queima dos restos vegetais (serapilheira) e a exposição do solo aos impactos das chuvas tropicais (mais pesadas e erosivas que as de clima temperado), que leva à formação de crostas superficiais, compactação, erosão e aquisição de características de rocha quanto ao processo de aquecimento e esfriamento rápido (grande amplitude térmica durante o dia) e à baixa ou sem capacidade de infiltrar água das chuvas para repor lençol freático, chama-se “regressão ecológica“, volta às origens, do de ambientes inóspitos à vida e à produção, sem capacidade de suporte biológico. Desérticos! Devemos encontrar um meio termo de manejo ambiental! Não podemos deixar tudo virar área degradada, deserto.

    Perigo maior quanto mais próximo do equador. Deve ser lembrada a expansão do deserto de Alegrete, em um estado do sul em que a distribuição de chuvas ao longo do ano era e ainda é invejável, mas está mudando, assim como em Ribeirão Preto, onde já foram ensaiados as primeiras umidades relativas do ar tipo deserto, de 4,8%, sinal dramático para um futuro sombrio ao potencial agropecuário brasileiro se as tecnologias de manejo copiadas de clima temperado não forem adaptadas para condições tropicais, onde o controle da temperatura e o manejo da água no solo e no ar são estratégicos.

    Ambos os casos não tem o aquecimento global como causa, só como agravante. A causa é péssimo manejo ambiental, com transgressão acintosa de princípios e normas ecológicas. A natureza cobra as transgressões. A própria natureza necessita seguir normas rígidas para manter a vida e ser produtiva, a capacidade de suporte biológico. E o ser humano que maneja a natureza necessita enquadrar suas atividades produtivas nessas normas para não ter prejuízo, e em caso extremo ser condenado à doença e morte por sede, fome, calor, frio, raios, enchentes, seca, soterramento, doenças transmitidas por insetos e pragas e outros.

    f) quando a matéria seca vegetal, celulósica, é decomposta em condições de presença de ar (oxigênio), libera energia, gás carbônico (CO2), minerais e água. Mas em condições sem ou com muito pouco oxigênio (solos encharcados ou compactados, represamentos, pântanos, aterros sanitários, lagoas de decantação de dejetos ou mesmo acúmulo de dejetos, sistema digestivo de cupins, sistema digestivo de ruminantes) em lugar de CO2 libera gás metano (CH4, gás 25 vezes mais calorífico que CO2), que em aterros sanitários se procura transformar em CO2 ao queimá-lo. Cada quilograma de matéria seca de origem vegetal produz em média dois quilogramas de CO2.

    Assim, respondendo às perguntas acima temos que a queima completa de um hectare de mata amazônica com 250 t de matéria seca, vai lançar 500 t de CO2 no ar/ha. Quando depois se lavra o solo para praticar lavoura, e se reduz o teor de matéria orgânica de 3,5% para 1,5%, lança-se em torno de mais 80 t de CO2/ha no ar.

    Um bovino de corte normal pastejando gera entre 40 e 70 kg de gás metano/animal/ano, o que equivale a 25 vezes mais em CO2 equivalente, ou seja, entre 1 e 1,7 t/animal/ano de CO2 equivalente. Um bovino de leite de alta produção em lactação gera entre 100 e 150 kg CH4/animal/ano. Pode-se perder de 2 (dieta a base de grãos) a 18% (forragem de baixa qualidade e baixa proteína bruta) da energia bruta em forma de metano, estando o valor aceito como normal em torno de 6%.

    Esse metano emitido normalmente ainda é impedido de ser reciclado pela natureza quando degradada, pois, por exemplo, o ozônio produzido nas queimadas neutraliza os radicais OH- (hidroxilas) antes que esses possam neutralizar o CH4. Além disso, a destruição da atividade biológica do solo por falta de fonte de energia (palhada queimada, e degradação da matéria orgânica do solo) e a falta de oxigênio em solos encrostados e compactados não permite a oxidação do CH4, que ocorre somente em solos similares aos sob mata, ricos em material orgânicos e bem arejados, permeáveis.

    g) em sistemas intensivos, confinados, geralmente ocorre grande consumo de alimentos concentrados, com grande concentração de energia, que pode ultrapassar os 90% da dieta, em termos de matéria seca ingerida. Certamente a produção de metano pode cair para até 2% da energia bruta ingerida. Mas, em geral transfere-se o problema da área animal para a área agrícola onde se produz os grãos, que podem, em condições de solo com problemas de arejamento (compactados, encharcados) e aporte de nitrogênio mineral, orgânico ou mesmo por fixação biológica e presença de nitrato, levar à transformação em óxido nitroso (N2O), gás de efeito estufa 250 vezes mais potente que o CO2 para reter calor. Esse N2O liberado nas lavouras de grãos foi contabilizado no impacto ambiental da pecuária. Em princípio os bovinos são péssimos conversores de grãos, devendo ser evitado o sistema de confinamento no estilo norte-americano.

    BeefPoint: O senhor afirma que mais importante que o efeito estufa, é a degradação das áreas agrícolas. Como a degradação de pastagens está relacionada ao aquecimento global? O que pode ser feito nesse sentido?

    Odo Primavesi: Sim. Os gases são como um cobertor comum, que não gera calor, mas somente retém o calor irradiado pelo corpo, no caso a Terra. E quais as superfícies da Terra que irradiam mais calor? Aquelas (muros, pisos) cobertas por plantas vaporizadoras ou o solo nú, o cimentado, o asfalto? As plantas, assim como os corpos de água atenuam a temperatura, pois a água aquece e esfria mais lentamente. Superfícies densas e secas esquentam mais ao sol e esfriam mais à noite. Além disso, as plantas, quando tem água disponível para transpirar/vaporizar, lançam vapor de água no ar que retira calor, na base de 590 calorias/g de água.

    Assim lavouras e pastagens quando tem o solo exposto, e nenhum elemento vaporizador (bosque, faixa de árvores, matas ciliares, reservas legais, quebra-vento etc.) são como “forninhos” que irradiam grandes quantidades de calor (infravermelho) que vai ser retido pela camada de gases de efeito estufa, e irradiado de volta para a Terra, gerando o aquecimento global.

    As áreas desérticas do mundo tropical e subtropical são grandes fornalhas irradiadoras de calor, conforme atestam imagens de satélite (ondas longas no topo da atmosfera; www.cptec.inpe.br em satélite). O que pode ser feito? Manter o solo sempre coberto (mesmo com restos vegetais, palha; não queimar, manejar), e para o período seco do ano, manter cobertura vegetal permanente vaporizadora, que não perca folhas na seca. Pois o aquecimento é seguido pela queda na umidade relativa do ar, se não houver estrutura vaporizadora no local. A área florestada deve ser maior quanto mais próximo do equador.


    Foto: Mapa do mundo, mostrando em vermelho as áreas de maior produção de metano

    As áreas que esquentam muito durante o dia, esfriam muito a noite, o que causa grande variação na umidade relativa do ar, nocivo à saúde animal e das pastagens e lavouras, e ao próprio ser humano.

    As térmicas (verticais, ascendentes) geram as brisas e ventos de superfície (horizontais) que a gente sente, e que começam a circular a partir das 9:30 ou 10 h da manhã, conforme o solo vai esquentando. E geram as contra-brisas e contra-ventos de altitude (horizontais), que podem trazer nuvens, no sentido oposto ao das brisas e ventos de superfície. Esse conhecimento sobre ventos e atenuação de calor por vegetação e corpos de água explica porque queimadas durante o dia levam as cinzas e fumaças para as áreas de mata (não esquentam tanto durante o dia), e durante a noite para as cidades ou áreas muito degradadas (esfriam mais a noite).

    As áreas que esquentam, geram térmicas que dificultam a queda de chuvas convectivas (de verão), afetando sua distribuição, e incentivando o acúmulo de energia estática nas nuvens, o que pode gerar “chuva” de raios. Se houver fumaça, partículas de carvão, no ar e se essa interferir na condensação de vapor de água para formar nuvens, essas gotas pequenas e leves geradas terão muita dificuldade para precipitar e podem ser levadas embora do local produtor de nuvens pela circulação de ar gerada pelas térmicas.

    BeefPoint: E em relação ao esterco bovino? O que pode ser feito, para utilizá-lo como fonte fertilizante e/ou energia e ainda reduzir a emissão de CO2 (ou equivalente)?

    Odo Primavesi: O problema do esterco só ocorre em confinamentos e matadouros/frigoríficos. Em condições de pastejo, as fezes são distribuídas pela área não gerando problemas de fermentação anaeróbica expressiva. Os besouros coprófagos (rola-bosta) se encarregam de reduzir o problema.

    Em confinamentos pequenos pode haver distribuição das fezes nas lavouras do entorno como fertilizante. Em grandes confinamentos, o problema se torna similar ao do vinhoto nas usinas anos atrás. A aplicação em excesso no solo pode gerar desequilíbrios minerais e contaminação do lençol freático com nitrato ou mesmo fosfato, em especial perto de nascentes ou quando o lençol freático for superficial.

    Em lugar de montar sistemas de transporte e distribuição complexos, podem ser instalados lagoas de decantação cobertas para que o metano liberado durante a fermentação anaeróbia possa ser coletado e utilizado para gerar energia. E o líquido final pode ser utilizado como biofertilizante. Já existem possibilidades para venda de crédito de carbono quando a escala for grande. Os custos para ser incorporado ao processo ainda são elevados, embora existam casos exemplares na área da suinocultura.

    BeefPoint: Quais são as boas práticas agropecuárias que deveriam ser adotadas pelos pecuaristas brasileiros, visando minimizar os efeitos da pecuária no aquecimento global?

    Odo Primavesi: Pelas pistas deixadas no início já dá para ter uma idéia; é preciso:

    a)reter o máximo de água das chuvas, manter o solo permeável e arejado, o que só é possível quando permanentemente vegetado, com abundante retorno de material orgânico à superfície do solo. Assim, sobrepastejo e queimadas devem ser evitados.

    b)evitar solo exposto e áreas que gerem calor, térmicas, brisas e ventos que roubam água da área.

    c)manter ou restabelecer estrutura vaporizadoras permanentes e que ainda podem quebrar ventos e fornecer sombra. O restabelecimento de matas ciliares e reservas legais seriam o começo mais lógico. Quebra-ventos, sombras e bosques vaporizadores distribuídos estrategicamente podem complementar essa infra-estrutura natural essencial.

    d)evitar o manejo que favoreça a degradação de pastagens (necessitando derrubar matas para se conseguir novas áreas), nem que isso seja “necessário para ter lucro” na atividade. Esse argumento está chegando ao fim. Vai haver boicote para produtos originados nesse tipo de sistema de produção não sustentável e agressivo à vida. Realizando as boas práticas de manejo, atendendo aos princípios ecológicos, com muita água das chuvas armazenada e temperatura atenuada, o lucro é certo, pois a forragem deve ser abundante por mais tempo, já que os períodos secos devem ser mais curtos.

    e)manejar as pastagens, de modo a se ter forragem nutritiva e se evitar sua degradação, evitando períodos de fome no rebanho. Deve-se aproveitar o potencial de produção de biomassa das forrageiras tropicais bem manejadas, como os Panicum, Pennisetum, Cynodon, Saccharum ou mesmo braquiárias mais produtivas. Evitar pastagem com proteína bruta inferior a 7%, evitar materiais muito fibrosos (a cana despalhada é exceção surpresa quando adequadamente corrigida).

    Pode-se estimular a ingestão da forragem corrigindo com sal proteinado, uréia ou com concentrado. Porém, para condições de oferta de alimento de melhor qualidade, necessita-se gerar animais com potencial de produção maior do que os animais selecionados para situações de estresse ambiental. Necessitamos sair de uma lotação de 0,6 UA/ha para pelo menos 1,2 UA/ha, que se consegue facilmente com a integração lavoura-pecuária (quando terreno permitir mecanização; permitem chegar a 2 ou mesmo 3 UA/ha), sistemas silvi-pastoris ou os sistemas intensivos sobre pastagens, que permitem lotação até 5 UA/ha sem irrigação.

    f)merece ser lembrado, que estudos realizados na Flórida apontam para queda na produção de culturas que dependem da florada para produzir, em 11% a cada 1oC a mais acima da temperatura ótima da cultura. As plantas que não dependem de fase reprodutiva, como as árvores, as gramíneas (pastagens, cana), em princípio devem ter sua produtividade aumentada, desde que haja água disponível no solo (procurar trabalhar com escoamento zero de água das chuvas), mais ainda quando não se pratica a queimada, já que esta também produz ozônio na baixa atmosfera, e que em concentrações mais elevadas é nocivo para as plantas, os animais e os humanos.

    Isso significa que não devemos desenvolver sistemas de produção dependentes de grãos (fase reprodutiva), devemos explorar mais o potencial de gramíneas e de árvores, os sistemas silvipastoris, evitando ao máximo as queimadas. Com as mudanças climáticas e o aumento das áreas degradadas estão ocorrendo maiores amplitudes térmicas, com maior freqüência e intensidade de ondas de calor e de frio.

    Uma onda de calor pode destruir toda uma florada de cultura agrícola, e chuvas intensas fora de época na colheita podem destruir toda produção de grãos e de frutos, e afetar menos as plantas que não dependem da fase reprodutiva. Somente seu desenvolvimento pode ser reduzido por ondas de frio ou períodos muito longos de nebulosidade (mais que 4 dias seguidos), o que pode prejudicar temporariamente os sistemas de pastejo rotacionado intensivo.

    BeefPoint: O Brasil utiliza o sistema de produção a pasto, como um dos pilares de divulgação da carne brasileira no exterior. Em relação ao efeito estufa e aquecimento global, um sistema mais intensivo (como confinamento) seria melhor ou pior que um sistema inteiramente baseado na produção a pasto? Qual seria o ponto ideal, a seu ver, entre intensificação da produção e adoção de um sistema de produção mais extensivo, mais “natural”?

    Odo Primavesi: A pecuária herbívora foi a primeira atividade agrícola humana, após os períodos de coleta, caça e pesca. E foi uma pecuária realizada com pastejo rotacionado (nômade), em que se evitava o sobrepastoreio não ficando em uma área de pastagem por mais que três dias. A pecuária era baseada em forrageiras, e não em grãos.

    O “olho do dono” engordava o boi! Atualmente as cercas, e a falta de olho do dono para ver que está faltando pastagem é que constitui o grande problema ambiental. Ainda mais que se considera que florestas são terras improdutivas e um reservatório abundante ou “banco” de terras agrícolas, que permite seu uso perdulário.

    Esse é um erro fatal de compreensão, pois esquece-se que necessita haver uma infra-estrutura natural mínima para rodar os serviços ambientais essenciais (especialmente atenuação das amplitudes térmicas e manutenção de água no solo e umidade no ar) para o sucesso dos sistemas produtivos.

    Se degradarmos rapidamente todos os solos e as matas ainda existentes, onde o Brasil irá cumprir com sua missão de celeiro do mundo? Como a maioria dos solos no Brasil são pobres, também necessitam de algum reforço para se produzir biomassa, em especial nitrogênio, fósforo e cálcio. Ou utilizando leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio, ou utilizando adubos minerais ou orgânicos. Deve-se evitar a degradação da pastagem e a conseqüente degradação do solo (solo sem vegetação protetora e descompactadora, compacta, deixa de ter função essencial e estratégica de armazenar água das chuvas).

    O ponto de equilíbrio deve ser descoberto particularmente por todo pecuarista, a partir dos princípios e informações aqui repassados. Pastagens melhor manejadas, talvez lançando mão do auxílio de pelo menos um técnico agrícola treinado para fazer o papel de “olho do dono”, e ao final uma terminação mais acelerada com cana e concentrado seja uma solução, evitando que animais fiquem naquele ciclo de perdas de peso, quando por economia ou por falta de mão-de-obra treinada ou de tempo em se manter uma pastagem melhor manejada ou um talhão de cana ou um banco de proteínas arbustivos ou arbóreos para o período seco do ano, se alimenta os animais inclusive com seu próprio “filé-mignon”.

    Isso é um absurdo que deve ser evitado, pois afeta o ambiente, aumentando a carga de metano emitido por quilograma de carne produzida ao final. Os animais também perdem muita energia quando necessitam realizar grandes caminhadas ao longo do dia para encontrar água e forragem, o que atrasa seu desenvolvimento e dá prejuízo.

    BeefPoint: Qual a importância da produção de metano pelos bovinos em relação ao efeito estufa? Até que ponto podemos reduzir essa produção de metano, aumentando a produtividade e adotando boas práticas agropecuárias? Quais seriam as técnicas utilizadas para se melhorar a relação produção de carne x produção de metano? Maior produtividade? Uso de aditivos, que modifiquem a fermentação ruminal?

    Odo Primavesi: Acredito que a resposta já foi dada parcialmente. A emissão de metano é um fato. Não temos como escapar. Mas a emissão exagerada, como a emissão de fumaça por motor diesel desregulado, ou por mau manejo deve ser evitada. Assim:

    a)até 6% da energia bruta ingerida pelos animais pode ser perdida na forma de metano. Deve-se evitar os 12 a 18%. Temos condições de chegar a perdas de somente 5%, no Brasil. Como? Evitar teor de proteína bruta na forragem menor que 7%. De preferência fornecer forragem mais tenra, com menos fibra. O manejo adequado de forrageiras tropicais permite isso.

    Além de opções de inclusão de forrageiras nobres como aveia em sobressemeadura (em pastagens irrigadas) e alfafa na dieta, em situações específicas, e quando se tem um sistema de produção muito bem controlado, conduzido, com animais (genética) que também respondem à essa melhor qualidade da forragem, com rebanhos selecionados para ambientes com menos estresse alimentar ou de animais em cruzamento industrial, mais produtivos.

    b)o problema dos bovinos não é somente o metano, com o qual nosso rebanho brasileiro contribui com somente 2% do metano total global produzido por atividades humanas, ou 10% do metano ruminal global. Mas as perdas de energia em prolongadas caminhadas para encontrar forragem e água, e os períodos de restrição de forragem por falta de água, com perdas de peso, e que aumenta o metano emitido por quilograma de carne.

    A qualidade da dieta se obtém com uso de forrageiras menos fibrosas. Manejadas para serem pastejadas num estádio vegetativo mais adequado, ou incluindo forrageiras de qualidade, ou incluindo sal proteinado em pasto vedado, ou usando um pouco de concentrado para corrigir a qualidade, por exemplo, da cana-de-açúcar despalhada e picada, ou como leguminosas.

    c)o uso de aditivos para introduzir mais oxigênio no rúmen, ou para retirar íons hidrogênio, como óleos ou gorduras insaturados, ou aqueles que alteram a composição microbiológica no rúmen, ainda estão em estudo e ainda não trazem o impacto tão grande quanto a qualidade da matéria seca ingerida, e a redução de perda de energia por longas caminhadas. Animais mais produtivos, mais exigentes, também vão responder em produtividade quando tiverem sombra a disposição.

    BeefPoint: É possível adequar a produção de carne bovina brasileira de forma que se torne economicamente viável, preserve o meio-ambiente e contribua para frear o aquecimento global? Como seria, em linhas gerais, esse sistema de produção? Que medidas deveriam ser consideradas, para se identificar um sistema de produção mais adequado?

    Odo Primavesi: Sim. Desde que seja produzida com mais profissionalismo, eliminando desperdícios, eliminando práticas minadoras e perdulárias do capital natural (destroem a infra-estrutura natural e inviabilizam os serviços ambientais essenciais para sistemas produtivos lucrativos) e trabalhando com qualidade.

    Realizar as boas práticas de manejo, utilizando todas as informações e tecnologias essenciais de maneira integrada e na seqüência correta, que realmente exige maior controle de manejo dos recursos naturais e dos insumos, maior empenho em administração rural e controle zootécnico e econômico, com mínimo ou sem impactos sociais e ambientais.

    Por exemplo, de que adianta utilizar concentrados, se não há volumoso porque as formigas vieram antes, e nem água? Entenderam o drama? Não há segredos ocultos! Só há conhecimentos e normas ecológicas, zootécnicas e econômicas não observadas ou utilizadas fora de ordem.

    A atenção para a conservação ou recuperação do capital natural é um investimento de grande retorno financeiro, por conta da garantia dos serviços ambientais essenciais, especialmente de água disponível no solo e no ar. Mas o “olho do dono” ou do técnico capacitado é estratégico.

    Para frear a questão climática? “Regular o motor” do sistema de produção. Cuidar melhor do rebanho, cuidar melhor da pastagem, cuidar melhor do capital natural. E neste capital natural está incluído o uso estratégico de estruturas vaporizadoras hidrotermorreguladoras, as árvores, na forma de matas ciliares, renques quebra-ventos, bosques, reservas legais, sombras.

    Os resultados são assombrosos, e vão ser maiores nesse ambiente de aquecimento global. Essas estruturas devem ser manejadas em escala para que possam evitar que as chuvas tenham dificuldade em cair e que as nuvens formadas com a evapotranspiração local não sejam levadas para fora da propriedade, para outras regiões, por ventos locais. Armazenar água de chuvas e reduzir as perdas por aumentos de temperatura por causa de solo não protegido e compactado, e que pode ser evitado, é o segredo do sucesso. Controlar água e temperatura, e a qualidade do alimento.

    BeefPoint: O Brasil é hoje o maior exportador de carne bovina do mundo. Os objetivos do setor passam por ampliar a produção, aumentando o consumo interno e principalmente as exportações. É possível conciliar aumento de produção com a busca de um sistema de produção que tenha emissão negativa de CO2, ou seja, sequestre CO2?

    Odo Primavesi: Evidente que se bovinos não são criados no abandono extensivo (a idéia de pastor, pastor tecnológico deve ser evocada), e não forem criados como se fossem suínos ou aves (monogástricos), e quando cuidarmos das pastagens tropicais cuidadosamente, atendendo suas demandas, poderemos aumentar a lotação animal, conservando o capital natural.

    Pastagens bem manejadas, não queimadas, e protegidas por elementos florestais, resultam em sistemas produtivos que em vez de gerar um passivo ambiental (emitem gases e calor), podem criar um ativo ambiental (seqüestram gases, acumulam água para atender a nascentes e poços e às plantas em geral e reduzem o calor).

    BeefPoint: A adoção de sistemas silvopastoris poderiam contribuir para tornar a produção pecuária mais “ambientalmente correta”? Porque?

    Odo Primavesi: Quem já se habilita a responder a essa pergunta?

    Só podemos reforçar a idéia de que os pecuaristas necessitam fazer as pazes com as árvores. As árvores ainda são vistas como prejuízo. Primeiro porque impedem a visão sobre a propriedade, escondem fugas e roubos. São vistas como indicadoras de áreas improdutivas. São vistas como esconderijos de inimigos ao sistema produtivo, prejuízo. Atratores de raios. Elementos que atraem a fúria dos guardiães da legislação ambiental.

    Tudo isso é café pequeno se conhecermos e percebermos os benefícios que elas trazem quando corretamente manejadas. Garantem a umidade relativa do ar, reduzem a amplitude prejudicial de temperatura (amortecem ondas de calor, e reduzem quedas intensas de temperatura), reduzem os ventos ladrões de água, facilitam as chuvas convectivas mais suaves, permitem que o solo ali seja mais permeável (especialmente quando a diversidade de espécies for grande e a ocupação do solo a maior possível) e mais água de chuva consiga ser armazenada. E podem ser fonte adicional de renda. Vamos pensar a respeito? Discutir mais com olhos amigos?

    Podemos sugerir que reflitam sobre o relativo sucesso da pecuária pastando em ecossistemas do cerrado ou do pantanal, sem eliminação da vegetação nativa arbórea e arbustiva, comparado com sistemas de produção sobre pastagens exclusivas de capim-braquiária. E a criação de bovinos nos antigos faxinais de erva-mate do Rio Grande do Sul. Ou as criações sobre pastagens arborizadas no Acre.

    BeefPoint: Qual a relação (e impacto) entre o avanço da pecuária sobre sobre o bioma amazônico e aquecimento global?

    Odo Primavesi: Quem dos leitores deseja dar um palpite, com base nas informações anteriores? Um reforço. Se olharmos o mundo, a partir de imagens de satélite, podem ser aquelas disponibilizadas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais), podemos observar as regiões que irradiam grandes quantidades de calor que vai ser retido pelos gases de efeito estufa, que na realidade só estão agravando um problema que vem de longa data.

    São as regiões tropicais e sub-tropicais desérticas (a maioria das quais não era deserto originalmente, mas foi tornado deserto por manejo ambiental inadequado), e as regiões com cobertura vegetal degradada. Ou, de forma mais clara: regiões sem cobertura florestal.

    As regiões florestadas nos trópicos ainda estão conseguindo segurar a barra para evitar o grande colapso climático global. Porque isso? Porque as regiões tropicais são o dínamo da dinâmica da atmosfera global. São as térmicas geradas nas regiões tropicais que fazem as frentes frias virem até nós, sendo importantes para fazer chover. Mas essas térmicas não podem sair fora de controle, transformando inocentes redemoinhos (sinal inicial de área em degradação) em tornados assassinos.

    As árvores, estruturas vaporizadoras hidrotermorreguladoras, inclusive formando escudos de nuvens no verão para evitar o superaquecimento regional (chegando a ocorrer o inverno na amazônia, por conta disso). Mas a degradação inconseqüente da floresta (de todas as áreas florestadas na região tropical) em grande escala, está gerando térmicas mais intensas e que provocam a vinda e passagem mais rápida das frentes frias. Frentes que antes levavam 5 a 7 dias para vir e passar, agora chegam e passam em até 2 dias. E o que isso representa? Chuvas mais pesadas e erosivas, que o solo não consegue armazenar adequadamente, seguidos de períodos de seca (sem chuva) maiores. Quando as frentes levavam 7 dias, vinham lentamente, esfriava lentamente, e chuviscava durante 7 dias. Chuva bem distribuída e mansa. Com frentes de 2 dias as chuvas duram 2 dias. Já verificaram isso? Observem com mais atenção os noticiários do tempo.

    Assim, o pecado capital da pecuária bovina extensiva brasileira é o amadorismo inconseqüente e perdulário, com destruição do capital natural e dos serviços ambientais essenciais. Prejuízo para o produtor, a nação e o mundo. Como resultado temos o abandono das áreas de pastagens degradadas, e o avanço sobre o “inimigo florestal”, que esconde solos bons para novas pastagens e que são defendidos por “ecologistas que querem atravancar o desenvolvimento e o progresso”.

    Será que é isso mesmo? Ou será que os ecologistas já perceberam o que os políticos e os senhores pecuaristas e os lavoureiros de “mares” a perder de vista de commodities ainda não perceberam? Que existe a necessidade de se conservar uma infra-estrutura natural com seus serviços ambientais essenciais. Que procurando conservar os solos em uso e as florestas ainda de pé na região tropical é a tentativa de se garantir a sustentabilidade das atividades agrícolas correntes?

    A tentativa de se garantir o potencial de celeiro do mundo que o Brasil ainda possui? Sabiam que pelo menos 20 a 25% das chuvas da região Sul e Sudeste, e mesmo Centro-Oeste, vem da região amazônica, do único maciço florestal no mundo com escala suficiente ainda capaz de sustentar um clima que permita a produção e a vida global e protela o colapso climático mundial?

    Vejam as imagens do Inpe. Vejam a quantidade de áreas degradadas no mundo, onde pode chover até mesmo 2.000 mm/ano mas essa água não fica disponível para nascentes, plantas e animais? Os senhores desejam criar camelos no deserto amazônico? Então continuem o processo de nítida “regressão ecológica”, um crime hediondo contra a humanidade, infelizmente chamado de desenvolvimento econômico regional.

    Alguns já disseram que isso é exagero. Não deixem passar mais seis anos para tomarem alguma iniciativa. Pois aí pode ser tarde para mudanças. Lamento! Uma casa pode ser derrubada em um dia, mas leva pelo menos 10 meses para ser levantada. Destruir é fácil e rápido. Recuperar leva mais tempo. Conservar seria o procedimento mais racional. Se desejam criar bovinos de corte, reflitam logo, procurem entender, sejam profissionais, mudem os procedimentos correntes, o país ainda oferece todas as condições ambientais para sermos os mais eficazes e produtivos no mundo.

    A genética superior não é prioritária, quando o capital natural estiver em ruínas. Água e alimentos de qualidade, sim. Chuva não significa água disponível, se o solo for impermeável. Neste caso, chuva pode significar desgraça: erosão, enchentes e, depois, secas. Deu para perceber? Esse problema também se aplica a todos monocultivos extensivos, sem nenhuma estrutura vaporizadora permanente, que faz falta nos períodos secos ou após a colheita, deixando o solo exposto, desprotegido.

    É interessante perguntar porque o Brasil necessita de 190 milhões de hectares de pastagens para manter seu rebanho bovino, contra os 80 milhões de lavouras, e na Índia, com rebanho bovino maior, existem somente 15 milhões de hectares de pastagens, e 140 milhões de hectares de lavouras? Nossa lotação média nacional é de 0,6 UA/ha, e se for dobrada, para 1,2 UA/ha com a integração lavoura-pecuária, por exemplo, reduz-se a necessidade de área sob pastagem para a metade, 95 milhões de hectares.

    E temos tecnologia disponível para manter lotação de 5 UA/ha (e até 10 UA/ha com irrigação em regiões que não esfriam muito no inverno), de forma lucrativa, utilizando forrageiras tropicais. Então, porque da necessidade de derrubar as florestas remanescentes e que sustentam um clima ainda razoável para rodar sistemas de produção no Brasil e no mundo?

    Devemos sair desse modelo predominante de pecuária estilo “coleta” de animais ao final do ano num “mar” de pasto, sem uma árvore para refrescar os zebuínos (certamente mais resistentes que os taurinos), mas que também agradeceriam pela sombra em vista do aquecimento global, e que predomina em nosso país, podendo-se afirmar que é um sistema para ganhar dinheiro ultrapassado, anterior ao sistema rotacionado praticado pelos povos nômades.

    BeefPoint: Porque tem se atribuído uma importância grande aos confinamentos de bovinos sobre o aquecimento global?

    Odo Primavesi: O relatório da “sombra longa” faz uma abordagem ampla, muito coerente. Os confinamentos em geral, pior o de suínos, afetam direta e prioritariamente em função do acúmulo de dejetos que ainda não são adequadamente tratados. Ou são lançados nos corpos de água, ou são mantidos por certo tempo em lagoas de decantação, ou são acumuladas. Geram condições de anaerobismo, transformando nitratos em N2O (óxido nitroso) e emitindo CH4 (metano) em lugar de CO2 (gás carbônico).

    Em áreas de grande acúmulo de dejetos pode ser montado um sistema eficiente de captação de metano e transformação em energia, além da biodigestão das fezes, utilizando as águas resultantes como biofertilizante.

    Porém, os confinamentos tem outros impactos indiretos. Como os bovinos são alimentados com grandes quantidades de grãos, transferem a emissão de gases de efeito estufa ruminal para a área agrícola produtora desses grãos. Os grãos permitem reduzir a emissão de metano ruminal.

    Mas os adubos nitrogenados utilizados nas lavouras de milho, podem gerar nitrato que quando em condições de mau arejamento (anaeróbicas) do solo é transformado em N2O, gás 250 vezes mais potente que o CO2 para reter calor, e 10 vezes mais potente que o CH4.

    Também é contabilizado o gasto de combustíveis fósseis e de energia elétrica necessários para a colheita, o preparo e o transporte de grãos e silagens até os confinamentos, e para retirar e transformar as fezes acumuladas. Gastos não necessários e emissões de gases não ocorrentes em sistemas de produção sobre pastagens.

    BeefPoint: Quais os impactos do aquecimento global na produção agropecuária brasileira? Num cenário de curto e médio prazo, podemos esperar mudanças, com regiões se tornando impróprias a explorações agropecuárias específicas, devido ao aumento de temperatura e escassez de água?

    Odo Primavesi: Acreditamos que já deu para perceber onde vai afetar e o que pode ser feito. Consideremos que está havendo um processo acelerado de geração de áreas degradadas, que impedem o armazenamento de água das chuvas no lençol freático, evitando sua reposição, gerando áreas irradiadoras de calor e de redução de umidade relativa do ar, e de ventos que roubam água.

    O aquecimento global, com amplitudes térmicas, ondas de calor e de frio, e que “jogam” com a umidade relativa do ar diária, simplesmente agrava a situação ocorrente de redução de água disponível e de baixa capacidade de amortecimento ou atenuação da amplitude diária de temperatura. Mas esse impacto vai ser maior que o previsto para as plantas que dependem da fase reprodutiva, como os grãos e as frutas.

    Os pecuaristas que conseguirem manejar pastagens sem eliminar todas as estruturas arbóreas estratégicas, ou que conseguirem restabelecer estas estruturas a partir das matas ciliares (tem garantia de água disponível) utilizando espécies de desenvolvimento relativamente rápido, como as de leguminosas fixadoras de nitrogênio (e inoculadas com micorrizas quando solo for pobre em fósforo), e que permitirem o retorno adequado de material orgânico (sem queimar palhadas) para a superfície do solo, protegendo-o contra impactos da radiação solar e das chuvas tropicais, terão mais chances de sucesso em seus sistemas produtivos.

    Temos que envidar todos os esforços em armazenar as águas das chuvas, evitar sua perda, e evitar o aquecimento do solo, e evitar os ventos, e gerar estruturas (árvores com sistema radicular mais profundo, não perdem as folhas na seca) que garantam a umidade relativa do ar, não deixando todo o esforço para as gramíneas com raízes mais superficiais, e que finalmente secam.

    Os sistemas produtivos que utilizam gramíneas e árvores, como a bovinocultura sobre pastagens tropicais arborizadas tem maiores chances de sobreviver e ter lucros por mais tempo ao aquecimento global que as atividades dependentes da fase reprodutiva. E depende somente de tomarmos a decisão de querer sobreviver e fazer as coisas certas na seqüência correta, de forma articulada, de modo a garantir um impacto positivo em escala.

    Ações individuais e pontuais terão maiores dificuldades por causa do efeito de borda negativo, já que grande parte de nossa atividade agrícola ocorre em uma matriz de área degradada, mais desértica que florestal, a desejável em regiões tropicais e sub-tropicais.

    Os sistemas agrícolas como aqueles conduzidos em clima temperado, de grandes áreas de monocultivos, devem ser reformulados, pois vão levar a prejuízos. Os sistemas agro-florestais ou silvipastoris são a grande ferramenta para recuperar áreas degradadas, conservar áreas produtivas, e fazer frente ao aquecimento global.

    Lembrem-se: resumindo tudo, garantir água no solo e no ar, forragem de boa qualidade e controlar a temperatura é o fundamento do sucesso.

    Reflitam, procurem referências em sua vida profissional que reforce essa informação e mãos a obra, que o tempo não espera. Profissionais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e da Embrapa (Pecuária Sudeste, Florestas, Acre, Agrobiologia, Gado de Leite entre outras) podem fornecer mais informações. Assim, o saber está disponível, falta o querer fazer e o poder para fazer, de forma articulada e em grade escala.

    0 Comments

    1. Osvaldo Racanicci Júnior disse:

      Gostei desse artigo, pois retrata um tema polêmico com conceitos técnicos e científicos. Mostrando o que pode ser feito para diminuirmos os impactos ambientais negativos da bovinocultura.

    2. Louis Pascal de Geer disse:

      Olá Odo,
      Quero te parabenizar pela excelente entrevista com o tema “A pecuária de corte brasileira e o aquecimento global”. Você honra de maneira clara, direta e transparente a tradição da família Primavesi em contribuir pesado na qualidade da agropecuária e no manejo da terra.

      Esta entrevista deve ser leitura obrigatória nas instituições de ensino básico e até superior. Gostei demais do seu slogan “Precisamos fazer as pazes com os arvores”.

      Um abraço,

      Louis

    3. Claudio Maluf Haddad disse:

      Odo Primavesi resume em breves palavras o estado atual da exploração pecuária no Brasil, em sua grande parte extrativa, predatória e inconseqüente. O alerta é real, de tal sorte que a produção animal e vegetal deverá caminhar conjuntamente com a preservação dos recursos naturais, e os consumidores de maior poder aquisitivo cobrarão essa atitude. Parabéns ao Odo, legitimo representante da família Primavesi, e que faz jus ao sobrenome que carrega.

    4. andré luiz merchan disse:

      Esta é a essência da produção sustentável, gostaria de agradecer a esses profissionais renomados com visão, dinamismo e capacidade de ação!

    5. Sérgio Marchió disse:

      A melhor entrevista que li ultimamente. Clareou minhas idéias e vai me ajudar a nortear as atividades em minha fazenda.

      Parabéns e obrigado

    6. Rodrigo Martins Ferreira disse:

      Esse é o caminho para uma pecuária sustentável e produtiva, com grande ganho para humanidade e os recursos naturais, tão essênciais a vida global.

      Parabéns

    7. Jaime Henriquez disse:

      Extraordinario artículo el del Dr. Primavesi, yo vivo en Colombia, país que ha destruido gran parte de sus bosques y ríos, lo más alarmante es su cercanía a la línea ecuatorial. Todos los malos manejos de suelo-planta-animal exoresados por el Dr. Primavesi los he vivido en mi país.

      Dios quiera que los técnicos tomemos conciencia del daño que hemos causado por seguir tecnologías no apropiadas para el trópico, el daño causado por la mal llamada “revolución verde” se debe detener y reparar.

      Saludos a los amigos brasileros.

      Jaime H

    8. Tertuliano Miguel de Arêa Leão disse:

      Muito bom o artigo. Todo produtor rural deveria ler e aplicar os ensinamentos aqui colocados. Certamente teríamos um avanço.

    9. Maria Emilia Coimbra Bueno Pereira disse:

      Parabéns pelo artigo, que muito esclarece sobre o tema. Existe na nossa cultura o mito do pasto estar sujo por ter árvores em pé, arbustos naturais. Existe o argumento de que o pasto sem árvores é mais econômico de ser refeito, o trator não tem que dar tantas “voltas” para passar o arado, ou para jogar sementes. Depois quando vem a chuva torrencial “lavando ” as sementes embora, ou mesmo enterrando-as, exigindo que sejam novamente lançadas, como fica? A maioria dos produtores ainda não vivenciou, avaliou, os resultados econômicos de um manejo mais ecológico.

    10. Ailton Andrade disse:

      Desejo parabenizar Odo Primavesi por seu artigo, rico, claro e lúcido nas argumentações a respeito da forma pouco lógica que a pecuária bovina tem sido difundida em nosso país. Que possamos participar de forma efetiva na mudança positiva que é necessária no processo produtivo do setor agropecuário, tendo como linhas norteadoras idéias e ideais como os descritos neste artigo.

      Ailton Andrade

    11. Rosalu Ferraz Fladt Queiroz disse:

      Muito bom, Sr.Odo Primavesi, este artigo deveria ser divulgado a todos os pecuaristas brasileiros. Ele mostra que as lições do Prof. Moacyr Corsi estão ainda atualissímas no que diz respeito a sistema rotacionado intensivo.

    12. Breno Augusto de Oliveira disse:

      Parabéns Dr. Odo pela entrevista,
      Também acredito que a popularização destes conceitos é a salvação mercadológicada e ambiental da agropecuária nacional, porém nos dias atuais, se depara no campo com crenças e costumes de fazendeiros do século XVI, por exemplo:
      “boi não precisa de sombreamento nas pastagens, por que fica parado tempo demais e deixa de comer brachiária”
      Um grande produtor aqui na região pensa assim e populariza a crença de forma eficaz, ajudado pelas empresas de insumos.

    13. Donizeti de Jesus Sereia disse:

      Parabéns Dr Odo Primavesi, pela brilhante entrevista. Muito obrigado pelos ensinamentos contidos nesta matéria. Ficamos felizes quando encontramos estas jóias, profissionais competentes que não guardam para si o conhecimento adquirido, que compartilham conosco sua fonte de conhecimentos. Também me irrito em certos momentos, com as loucuras e desrespeitos com que muitos tratam nosso ecossistema. Também acredito, como o Sr. nas ferramentas que já temos disponíveis e, basta um mínimo de bom senso, que já é suficiente para evitarmos a continuidade destas práticas auto destrutivas, para preservarmos nossa própria espécie, nossas futuras gerações, nossos descendentes, nosso planeta.

    14. marcelo cestari disse:

      É bom saber que existem técnicos desta corrente filosófica na Embrapa.

      Fiquei impressionado com a clareza e o tom profético do artigo, notadamente no trecho: “Vai haver boicote para produtos originados nesse tipo de sistema de produção não sustentável e agressivo à vida”.

      Odo deu um belo exemplo de conservacionismo e compreensão do momento crítico por que passa todo o setor agropecuário do Brasil. Se nada for feito, será um desastre, muito bem anunciado neste artigo.

      Também fiquei muito satisfeito de saber que a “escola Primavesi”, da qual sou aficcionado, continua firme e fortemente representada pelo Odo.

      Parabéns

    15. celso martins de medeiros disse:

      Parabéns Dr Odo Primavesi,

      Essa entrevista foi uma verdadeira aula de conhecimentos, com aplicações simples e práticas, uma leitura da natureza.

      Obrigado

    16. Euler Andres Ribeiro disse:

      Fantástico!

      Poucos pesquisadores conseguem ter esta visão sistêmica.

    17. Andrea Cappelli Junior disse:

      Dr. Oldo

      Carregar um sobrenome como o seu, independente de sua ascendência, implica em grande responsabilidade, e por tudo que acabo de ler, esteja certo que só contribuiu para dignificar ainda mais tal sobrenome.

      Durante alguns anos dirigi uma casa de pesquisas e confesso-lhe nunca consegui ouvir de um de seus pares, pesquisadores, palavras tão sensatas, sensacional visão olística.

      Parabéns, parabéns mesmo.

    18. Luís Gustavo Barioni disse:

      Parabéns Odo! Parabéns ao Beef Point! Ótima entrevista!

    19. Leonardo Siqueira Hudson disse:

      Excelente abordagem de um tema que merece ser tratado como de segurança nacional.

    20. Marcelo Tavares Pinheiro disse:

      Há tempos, os princípios aqui demonstrados pulsam forte dentro do meu ser. Até escrevi comentário sobre um outro artigo publicado neste mesmo site, que tratava da exigência de reserva legal em São Paulo. Declarei que o caminho seria o aumento de produtividade de modo a se reduzir a área ocupada (como exige a legislação) liberando espaços para recuperação da floresta.

      Tenho um projeto pessoal acalentado há anos, de produção de bovinos a pasto com terminação em confinamento que respeita a natureza, mas que (ainda) não foi posto em prática. Isto, às vezes, me faz um pouco triste, pois não possuo uma propriedade (recursos) de modo a poder viabilizar este plano, servindo assim de exemplo para os produtores de minha região (que, em sua maioria, se mostram muito atrasados com respeito à consciência ecológica). Neste meu projeto, até penso no plantio de árvores (ex.: eucalipto), nos currais de confinamento (pq não?).

      De todo modo, acredito (espero ardentemente por isso) que o homem se dê conta de que, sem preservar o meio-ambiente, não haverá riquezas a serem produzidas, bem como, a própria vida humana estará em sério risco.

      Parabéns por este excelente artigo.

    21. Antonio Bogás Hernandes disse:

      Parabéns Dr Odo Primavesi,

      Pena que seja ínfima a parcela de seres humanos que entenda o que você fala com muita propriedade. Entender no sentido interesse, principalmente econômico, ganância.

      Mais uma vez parabéns.

      Prof. Bogás

    22. EDSON SOUZA DE ALMEIDA disse:

      Parabéns pela matéria, a semente está lançada, acho q os produtores rurais tem grande apreço pela natureza, falta apoio, renda, condições de vida pessoal e familliar, assistência técnica, assistência técnica, assistência técnica.

      Sucesso
      Saudações

    23. Belmiro Zamperlini disse:

      Parabéns Dr Odo Primavesi,

      Essa entrevista foi uma verdadeira aula de conhecimentos, com aplicações simples e práticas. A natureza agradece, poucas vezes lí artigo com tamanha competência, sensibilidade e conhecimento.

      Obrigado pela aula

      Belmiro

    24. Janete Zerwes disse:

      Caro Odo,

      Gostaria de acrescentar ao que expõe – com amplos fundamentos sobre a pecuária e a questão ambiental – o conceito de “sustentabilidade”.

      Se entendermos o conceito de sustentabilidade como tecnologias e procedimentos direcionados à busca da aproximação ao equilíbrio entre as intervenções antrópicas/econômicas e a capacidade de regeneração do meio ambiente, especialmente a economia de energias utilizadas no processo de produção e provenientes dos recursos naturais/ambientais (renováveis e não renováveis), materiais, bens e combustíveis, serviços de mão-de-obra entre outros, precisamos repensar a pecuária de corte e leite sobre dois aspectos: tamanho do rebanho e sistema de produção.

      O rebanho bovino brasileiro cresceu 4,8% ao ano no período 2000-2003, passando de 169,9 milhões para 195,5milhões de cabeças aproximadamente.

      Ao transpor o número total de animais que compõem esse rebanho, para a representação figurada de um organismo vivo, podemos imaginar a Pecuária (corte e leite), como um gigante – que ocupa um espaço físico/ambiental proporcional ao seu tamanho.

      Esse organismo gigante:

      • alimenta-se;
      • respira;
      • transpira;
      • elimina gases (metano);
      • modifica a paisagem;
      • consome e transforma enormes quantidades de energia.

      Ao cruzarmos os números relativos ao rebanho com a produção de carne cabeça/ano e/ou a produção de carne/ha/ano; produção de leite/ vacas ordenhadas/ano – identificamos proporcionalmente um sistema de baixa produtividade para a bovinocultura de corte e leite. Segundo a Beef tecnologies:2005, a nossa produção média de carne/cabeça/ano, fica em torno de 45,36 kg. De acordo com o IBGE:2004, a produção de leite situa-se em torno de 4,30 litros/cabeça/dia, supondo lactação de 270 dias.

      Os números acima expostos apontam um desperdício energético/ambiental – que contraria frontalmente o conceito de sustentabilidade – provocado não só pelas falhas do sistema de produção que ocorrem dentro das propriedades em decorrência de erros de gestão, manejo animal e de pastagens, como no âmbito nacional, pela ausência de logística e de políticas direcionadas ao equilíbrio entre, desenvolvimento econômico/humano e uso ordenado dos recursos naturais, de flora, fauna, solos, especialmente águas.

      Aproveito para comunicar que a Comissão de Produtoras Rurais – Coordenação em Tecnologia e Pecuária da FAMATO – Federação da Agricultura de Mato Grosso; em parceria com a Empaer, elabora um projeto para estudar, aplicar, avaliar e difundir tecnologias de cunho sustentável através de unidades piloto, no Estado de Mato Grosso; e, está aberta para discutir com pesquisadores de todo Brasil esse Projeto.

      Abraço,

      Janete Zerwes

    25. Gladston Machareth disse:

      Excelente artigo.

      Creio que, se resumido e em formato mais objetivo, a classe produtora poderia se interessar em absorver e colocar em prática todo esse conhecimento.

      Acredito que sistemas produtivos deveriam ser instruídos racionalmente e monitorados, por órgãos oficiais de pesquisa agropecuária, visando uma produção eficiente e não predadora do meio ambiente como um todo.

      O produtor bem informado, dessa maneira e com condições econômicas para aplicar esse conhecimento em seu sistema produtivo, teria uma ótica realista dos resultados que sua produção causaria ao meio ambiente, não somente no presente, como também no futuro e mais, das suas próximas gerações.

    26. Raoni Beni Cristovam disse:

      Gostaria de parabenizar a vocês e ao senhor Odo Primavesi, por essa entrevista esclarecedora e de ótima qualidade técnica sobre um tema tão importante.

    27. Ricardo Riondet disse:

      Entrevista de excepcional qualidade, um verdadeiro tratado científico, conjuminado com orientação prática.

      Dois livros dentro de uma entravista!

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