Pouco mais de um ano após deixar a presidência da Eldorado Brasil, companhia de celulose da J&F Investimentos – a holding da família Batista, que também controla a JBS -, o empresário José Carlos Grubisich se prepara para ampliar suas apostas no agronegócio e deixar de ser “apenas” um produtor de gado bovino voltado a genética.
Instalado em um escritório recém-reformado no bairro paulistano da Vila Olímpia, o empresário dividiu sua estratégia agropecuária em duas frentes. De um lado, faz planos para expandir os negócios tradicionais da família na pecuária. Em cinco anos, quer se transformar em um dos maiores fornecedores de gado do país. Hoje, as empresas dos Grubisich (Verdana Agropecuária e Seleon) não vendem gado para frigoríficos.
Mas, paralelamente, Grubisich se articula para turbinar a Olímpia, fundo de participações por meio do qual detinha participação de 1,96% na Eldorado. “A Olímpia tem outra ambição”, disse o empresário ao Valor. Segundo ele, a intenção é tornar o fundo um “centro de negócios”.
Apenas no agronegócio, Grubisich acredita que poderá atrair cerca de R$ 1 bilhão em recursos de investidores nacionais e estrangeiros. Ele também está de olho em outros setores (ver abaixo), para as quais estima angariar outros R$ 800 milhões.
De partida, a Olímpia conta com cerca de R$ 150 milhões. Embora Grubisich não confirme o montante exato – ele é reservado quando o assunto é o capital próprio -, admite que deixou a disposição da Olímpia os recursos que recebeu pela venda de sua participação na Eldorado, em 2017, à Paper Excellence (PE). A empresa de celulose da J&F foi vendida por R$ 15 bilhões (incluindo dívidas). Em 2018, a etapa final da venda não foi concluída, o que levou a PE e a família Batista à arbitragem.
Grubisich deixou a presidência da Eldorado no fim de 2017, e evita tratar da disputa entre os ex-sócios. “Acertei com a J&F e com a Paper Excellence que, no momento em que eu saísse, venderia minhas ações. Não tinha mais sentido continuar com as ações não estando mais na companhia”, justificou.
Longe das disputas, o empresário quer aproveitar a rede de contatos que fez ao longo da carreira para atrair os investimentos. Para o agronegócio, recrutou o filho Bruno, que até então estava à frente das atividades de pecuária da família. O dia a dia das operações foi transferido ao executivo Breno Barros.
A expectativa de Grubisich é fechar os primeiros negócios para a Olímpia neste ano. No agronegócio, os investimentos deverão se concentrar nas áreas de biotecnologia e de tecnologia digital. Um dos segmentos mencionados explicitamente pelo empresário é o de monitoramento digital de áreas agrícolas. “Só na área de tecnologia, o que tem de coisa acontecendo neste momento é gigantesca”, afirmou.
De fato o segmento vem ganhando espaço e atraindo interessados no país. Startups agrícolas (“agtechs”) como a mineira Strider e a paulista Agronow entraram no radar de investidores. A primeira foi vendida para a suíça Syngenta e o BTF Pactual comprou uma fatia minoritária na segunda, como informou o Valor.
Se as tecnologias digitais interessam à estratégia da Olímpia no agronegócio, o mesmo não se pode dizer de atividades como açúcar e álcool. “Não estou priorizando essa área, mas não deixaria de olhar se houver alguma coisa atrativa. Mas não estou gastando tempo nisso”, disse ele, que presidiu, de 2008 a 2011, o braço sucroalcooleiro da Odebrecht.
Na pecuária, os planos de Grubisich serão tocados com os recursos da família. Os fundos da Olímpia não deverão ser usados para alavancar a Seleon, que atua na produção de sêmen bovino, e tampouco a Verdana, empresa na qual a família deposita grandes esperanças de crescimento. “O fundo para investimento no agronegócio não contempla o projeto Verdana. O programa na pecuária continua um investimento exclusivo da família”, disse ele, que evitou revelar o faturamento das fazendas.
Na Verdana, que hoje tem foco em seleção e melhoramento genético de bovinos, a família Grubisich pretende ampliar o escopo de atuação e ingressar na atividade de engorda. a meta é vender cerca de 60 mil cabeças de gado diretamente a frigoríficos em até cinco anos, o que transformaria o empresário em um dos maiores pecuaristas do Brasil.
Para tanto, a empresa terá de investir em terras e em confinamento. Parcerias com pecuaristas que trabalham com cria (criação do animal até a desmama do bezerro) e recria (criação do bezerro até a venda do animal como boi magro) também serão necessárias.
A área de fazendas da Verdana não comporta o projeto no médio prazo. Segundo Bruno Grubisich, as propriedades da Verdana nos municípios de Camapuã e Figueirão, ambos no Estado de Mato Grosso do Sul, ocupam uma área de cerca de 5 mil hectares.
Fonte: Valor Econômico.