Por Maria Gabriela O. Tonini1
É indiscutível. Os preços do boi gordo estão baixos. Em comparação com o mesmo período de 2004, a arroba do boi gordo hoje, em reais corrigidos pelo IGP-DI é 17,43% inferior, média das principais praças. Acompanhe as variações nas cotações na tabela 1.
Tabela 1. Variações das cotações do boi gordo entre junho/04 e junho/05 em R$/@ corrigidos pelo IGP-DI
Além da insatisfação com os preços baixos, pecuaristas sempre tiveram um embate com frigoríficos em relação ao rendimento de carcaça. A chamada “faca pesada” ou “efeito balança” sempre dificultou o estabelecimento de uma boa relação entre produtores e indústrias, que normalmente não abrem espaço para contestação.
O rendimento de carcaça é definido como a relação entre o peso da carcaça e o peso do animal vivo, expresso em porcentagem. O frigorífico paga pela carcaça. Assim, para o produtor, é preciso ter um parâmetro entre o peso vivo, na fazenda, e quanto deste peso é representado pela carcaça propriamente, ou seja, quanto do boi é realmente carne e osso.
Um dos fatores que mais interfere no rendimento é o tempo de jejum. Um boi perde cerca 6% do peso desde a pesagem na fazenda, transporte para o frigorífico e o período no qual permanece no curral de espera até a matança.
Normalmente esta perda não afeta o peso de carcaça, a menos que o jejum seja maior que 48 horas. No entanto, dependendo do critério da pesagem, acaba afetando o número parâmetro que o produtor usa para calcular o rendimento.
Os 6% do peso vivo perdido respondem pela eliminação do conteúdo gastro-intestinal. Daí a importância da alimentação, diretamente relacionada no cálculo rendimento de carcaça. Um animal que recebe dieta com altas proporções de volumoso apresenta menor rendimento de carcaça que animais que consomem mais concentrados. Quanto maior quantidade de fibra, mais cheio fica o rúmen, e mais se perde durante o jejum. Quanto maior a porcentagem de alimento concentrado, maior é o rendimento da carcaça.
Quando o jejum é prolongado por mais de 24 horas (lembrando que a legislação determina 12 horas), começa a haver perda de fluido extra-celulares, comprometendo o rendimento da carcaça. Isso geralmente ocorre quando os animais são abatidos em frigoríficos distantes do embarque, obrigando longos períodos de transporte. Também influencia no rendimento o sexo, grau de acabamento da carcaça (quantidade de gordura) e raça.
Um exemplo: um boi gordo que sai da fazenda com 495kg de peso vivo, e apresenta peso de carcaça de 250kg, teve um rendimento de carcaça de 53,70%. A perda de 6% é considerada normal, pelo esvaziamento do conteúdo gastro-intestinal. Se não fosse considerada essa perda, o rendimento cairia para 50,50%, diminuição considerável no valor total recebido pelo produtor (como será demonstrado adiante).
Além do desconto normal da pesagem, algumas vezes ocorrem problemas na “toalete” exagerada da carcaça, que diminuem a remuneração dos pecuaristas.
Considerando os padrões atuais de produção, espera-se que o rendimento de carcaça mínimo para o macho seja de 50% e para a fêmea, 47%.
A cotação média da arroba do boi gordo em São Paulo está em R$54,00/@, a prazo, para descontar o Funrural. Sendo que existem ordens de compra a até R$54,00/@, a prazo, livre do Funrural, correspondendo a R$55,24/@, nas condições anteriores.
Exemplo:
Considere um único lote de bovinos de cerca de 500 kg de peso vivo, que recebeu o mesmo manejo, vendido para quatro diferentes frigoríficos, conforme exposto na tabela 2. Com base num preço único para a arroba, cada vez que a carcaça do animal rende 1% mais que a média (considerada em 50%), o valor recebido pelo pecuarista aumenta cerca de 2%.
Tabela 2. Preços recebidos pelo boi gordo mediante diferentes rendimentos de carcaça
Para chegar à decisão correta, o produtor precisa estabelecer um critério de pesagem e consideração das perdas dos animais, da saída da fazenda até o abate. A referência, ou parâmetro, será dependente de raças, peso de abate, tipo da alimentação e outros fatores.
Enfim, é preciso ter um critério de pesagem estabelecido para se calcular o rendimento de carcaça.
_________________________
1Maria Gabriela O. Tonini é Médica Veterinária pela UNESP – Jaboticabal, consultora de mercado. Coordenadora da divisão de insumos da Scot Consultoria.
8 Comments
Realmente o problema apontado pela Dra. é o fator mais estressante na hora de comercializar nossa produção do que o próprio preço baixo da arroba.
Ao compararmos nossa planilha de rendimento de carcaça de vários anos de abate de boiadas quase sempre muito homogêneas chegamos à conclusão de que quando a comercialização de carne vai bem, o boi rende (> 53%).
Em compensação quando o mercado está com demanda baixa, o rendimento de boiadas semelhantes em peso, raça e genética despenca chegando até mesmo a 50%.
Isto no mesmo frigorífico, mesma distância da fazenda e não importando época do ano e estágio de maturação de forragem, etc.etc…
Tal fato nos leva a sensação de total impotência, por se sentir lesado sem nada poder fazer.
Vemos na TV, o Inmetro multando feirantes, porque suas balanças estão lesando os fregueses em algumas gramas.
Em compensação milhares de reais estão deixando de entrar no caixa dos pecuaristas.
Primeiramente gostaria de parabenizar a Equipe BeefPoint e seus coloraborades pelo excepcional trabalho desenvolvido. O acesso diário e a leitura de todos os artigos já se tornaram parte de minha rotina.
Como veterinário responsável pelo SIF de um frigorífico, posso afirmar que este artigo retrata com muita clareza a atual realidade. São cada vez mais bizarros os métodos utilizados pelos frigoríficos para reduzirem o peso da carcaça e inaceitáveis as tabelas de descontos e penalizações criadas no intuito de reduzir o preço pago ao pecuarista.
Gostaria apenas de fazer uma retificação no artigo em questão:
No sétimo parágrafo a autora afirma que a legislação determina um mínimo de 12 horas de jejum.
Na realidade, segundo o artigo no 110 do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), é proibida a matança de qualquer animal que não tenha permanecido pelo menos 24 (vinte e quatro) horas em jejum, descanso e dieta hídrica. Salvo casos em que o tempo de viagem seja inferior a 2 (duas) horas, situação em que este período pode ser reduzido para 6 (seis) horas.
Atenciosamente,
Tamer Belchior Nogueira do Lago
Médico Veterinário CRMV/ 0520
Responsável pelo SIF 4510
Gostaria muito de agradecer a abordagem deste tema que muito nos aflige, produtores que vendem gado gordo.
Anos atrás, negociava diretamente com o frigorífico próximo de minha fazenda. O procedimento era sempre o mesmo, recolhendo os animais às seis horas da manhã, efetuando a pesagem e posterior embarque.
Bois nelores com idade média de três anos de idade, peso superior a 460 quilos e uma média de peso entre 480 a 485 me davam um peso de carcaça de 244 a 247 quilos, um rendimento de carcaça nestas condições de pouco mais de 51% com vários animais sendo desclassificados por terem carcaça com peso inferior a 15@.
Impressionante como, após passar a vender para um comprador de fora do frigorífico, este me paga 53% de rendimento no peso da fazenda, nestas mesmas condições.
E outro detalhe importante, nunca mais teve casos de cisticercose nos animais abatidos, o que era comum na maioria dos embarques.
Como meu gado melhorou de rendimento e de sanidade de um dia para outro, eu não sei.
Estamos muito longe de receber o que realmente colocamos nas balanças dos frigoríficos.
Não é o meu caso, mas sei que exitem pecuaristas que já estão lá na frente, utilizando cruzamentos por inseminação da raça Rubia Galega em vacada Nelore e obtendo resultados espetaculares, em precosidade e ganho de peso, chegando a desmamar bezerros/as acima de 290 kg e chegando em confirnamento de de 90 a 120 dias novilhos/as com idade de 12 a 14 meses com 18 @ e um rendimento de caraça acima de 60%.
A gordura também entra na composição da carcaça, ficando assim o rendimento de carcaça relacionado com o músculo, osso e gordura.
O texto é muito bom mais deve ser feita esta correção em seu corpo para maior aprimoramento do conhecimento.
Otavio Cabral Neto
Zootecnista
Mestrando em avaliação e tipificação de carcaças
UFRuralRJ
Já tive oportunidades de acompanhar abate de animais de minha propriedade, para ver o rendimento de carcaça dos animais, para futuramente decidir o que poderia ser talvez uma opção.
Porém além do exagero na toalete das carcaças (sou Médico Veterinário do Serviço de Inspeção Federal), não se tratavam de condenações, e sim retirada de gorduras toalete.
Além disso, o frigorífico desconta 2% do peso das carcaças antes da entrada destas nas câmaras.
Não podemos esquecer que o couro, gorduras da toalete, patas, cabeça e vísceras são comercializadas pelas empresas e o produtor não recebe sobre isto.
Pois é, após tantos anos de pesquisa no melhoramento genético, sanitário e nutricional, devemos todos ignorar estes conhecimentos, para aceitar que o boi gordo de hoje possui um rendimento de carcaça inferior ao boi de 1970.
Por qualquer critério de pesagem.
Infelizmente o SIF não fiscaliza o aspecto limpeza de carcaça, o que deve ser considerado carcaça, pois a partir desta definição e fiscalização, o restante seria poder de negociação entre as partes, hoje infelizmente a favor da indústria.
Precisamos aprender a questão de engorda de bovinos, não adianta o pecuarista colocar carne em boi se ele nem no abate ele vai ou se quer pagar para empresas de assessorias em abate para fazer o trabalho, a engorda do boi termina na balança do frigorifico, se colocarmos isso em pratica , vamos ter bom resultados.
Agora cuidado com o gado a ser abatido ( não temos tabela de engorda de bovinos, devemos ter conciência dos animais que engordamos e compramos, se compramos um animal de má qualidade , matematicamente teremos pouca condição de RC final e assim por diante.
Tenho um escritorio no MT , e presto assessoria em abate. Sou franco em relatar todo o abate desde lesão vacinal e contusões, mas sempre focado em limpeza exagerada.
Agradeço pela oportunidade.
Mauricio F O Cunha
Crea 9608/TD
Tecnico em Agropecuria
M@nejo Assessoria em Abate de Bovinos
Tangara da Serra MT.