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Pagamento por qualidade é tendência nos frigoríficos

A ampliação da adesão de frigoríficos ao pagamento de prêmios por boi gordo de qualidade surge como uma esperança para o pecuarista nacional que sofre com a atual baixa remuneração. Entre os que já fazem parte desse time estão Bertin, líder na exportação de carne bovina e couro, e o Marfrig, que está entre os cinco maiores do país em abate e processamento.

Em alguns casos o valor hoje oferecido pelos frigoríficos é de até 6% sobre o preço da arroba (R$ 53 na praça de São Paulo).

Com a adoção do Programa Qualidade e Excelência na Produção Animal (Qualex), a direção da Agropecuária Jacarezinho, de Valparaíso (SP), tem recebido 0,5% de prêmio sobre o valor da arroba, além de um adicional de até 4,5% segundo a tabela de tipificação de carcaça do Marfrig. “Nosso programa segue as normas do EurepGAP, além de diversas outras regras para aprimorar as formas de criação dos animais e, conseqüentemente, a qualidade final do produto”, explica o veterinário da Jacarezinho, Luís Fernando Boveda.

Segundo ele, o programa tem por objetivo seguir uma tendência mundial na exigência de qualidade, além de agregar valor aos produtos vendidos.

De acordo com a ACNB, que comanda o Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), o Marfrig estabeleceu uma tabela de premiação pela qualidade do gado, em conformidade com o projeto, que passará a ser adotada progressivamente em suas plantas frigoríficas. A primeira unidade será a de Bataguassu (MS).

A partir deste mês, lotes que apresentarem padrões de conformação de carcaça e acabamento de gordura, entre outros fatores, terão um incremento na remuneração de até 4% sobre o preço médio da arroba a prazo do Boletim CEPEA/ESALQ.

Por sua vez, o Programa de Qualidade Bertin prioriza a padronização dos lotes fornecidos pelos pecuaristas ao frigorífico segundo peso, idade, acabamento de gordura e sexo. Segundo a assessoria de imprensa, o programa foi implantado no início do ano. Hoje, o frigorífico trabalha com tabelas distintas para duas regiões. Nas praças de Lins (SP) e Naviraí (MS) as premiações variam de 2% a 6% por arroba. Para as regiões de Mozarlândia (GO) e Ituiutaba (MG) o acréscimo na arroba varia de 0,5% a 6%.

O presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), Milton Belincanta, afirma que desconhece a prática de premiação nos frigoríficos do estado, mas acredita que, no máximo em dois anos, isso se tornará algo natural nas regiões habilitadas para exportação. “A premiação é uma tendência mundial. Os melhores terão precocidade no abate, menores custos e maior valor agregado aos seus produtos”, afirma o executivo.

Para o consultor do Instituto FNP, José Vicente Ferraz, além de uma tendência, a premiação pela qualidade é uma questão de necessidade e justiça. “Para os frigoríficos essa questão é essencial devido às exigências do mercado externo, principalmente União Européia (UE)”.

Para os produtores a premiação se trata de justiça, uma vez que os que oferecem animais de qualidade fizeram investimentos nos seus rebanhos. Entretanto, segundo o consultor, grande parte dos frigoríficos ainda adota a política da “pechincha”. “Os frigoríficos apostam na possibilidade de conseguirem animais de qualidade pagando o mesmo a qualquer produtor, tendo assim um lucro maior”.

Fonte: DCI (por Márcio Rodrigues), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. PROFAZ TRANSFORT AGROPECUÁRIA LTDA disse:

    Acho válida a necessidade de premiação de carcaça, mas deixo aí a pergunta.

    Está havendo mesmo uma gratificação ou uma penalização por carcaças normais ou inferiores?

    Ricardo Dayrell
    Profaz Agropecuária

  2. João Luiz Mella disse:

    Gostei muito do artigo e de certa maneira gostaria de complementar e corrigi-lo.

    Com certeza estamos vivendo um divisor de águas, daqui para frente, quem produz qualidade, com certeza, não estará recebendo o mesmo que os demais pelos seus produtos.

    Esta é uma condição do novo modelo de comercialização da pecuária de corte.

    No que diz respeito aos frigoríficos que já estão com um programa de classificação de carcaças, eu tenho um outro cronograma destas atitudes.

    O Independência Alimentos a partir de 03-01-2005 lançou o primeiro programa de melhoria da qualidade, onde a classificação de carcaças está embutida.

    O programa denominado de PQBI (Programa de Qualidade Bovinos Independência) é com certeza, um exemplo bom, que já está sendo seguido, dentro de cada particularidade de cada empresa.

    Hoje, após seis meses de lançamento do programa, as três unidades de abate do Independência Alimentos estão classificando todos os animais abatidos, independente de quantidade e categoria animal.

    Acredito também que nossos objetivos estão sendo alcançados, já pagamos um valor, bastante significante, no entanto, nossa qualidade, com certeza também aumentou.

    O programa tem por objetivo maior a melhoria continua da qualidade. E, em contra partida, temos certeza das necessidades de ajuste que o PQBI sofrerá.

    Forte abraço,

  3. Sergio Caetano de Resende disse:

    Não é possível falar em qualidade da carne com o preço da arroba fixado abaixo do custo de produção.

    Os grandes confinadores (principalmente os confinamentos dos próprios frigoríficos) devem ter garantido o custo pelo comprador, antes de fechar o boi magro.

    Porém, parece que a oferta de carne de qualidade está sendo insuficiente para atender ao mercado internacional.

    Isto é, a carne barata do pequeno pecuarista, com preço manipulado pela formação média de preços, está fazendo falta para ampliar mercado lucrativo.

    Parece que querem mais carne barata dos pequenos pecuaristas, mas com qualidade para valorizar e aumentar os lucros no mercado internacional e nacional.

  4. Mário Sérgio Wanderley disse:

    Desconto por qualidade é a tendência.

    Em recente venda de bois para abate, o balanceiro de um frigorífico da região da Alta Sorocabana, SP, “classificou” algumas carcaças como sendo “fracas”.

    Ou seja, segundo o douto balanceiro, essas carcaças estariam sem cobertura de gordura. O valor da arroba, para elas, caiu de R$ 51,00 para R$ 30,00!!

    Eram de bois mestiços nelorados e nelores, com peso de carcaça entre 246 e 266 kg. Depois que passaram pela visão acurada do balanceiro, as carcaças “fracas” seriam pagas com um mixo descontinho de 42% no valor da arroba…

    Ou seja, na esteira dessa conversa de “melhoria de qualidade da carne”, há frigoríficos que querem levar vantagem em tudo, certo? Penalizam o pequeno pecuarista até sobrar-lhe apenas o osso, exigindo uma qualidade que eles, frigoríficos, nem sempre oferecem nos seus serviços.

    O balanceiro em questão (esqueci de perguntar qual a Faculdade que cursou…) não usou nenhum método científico para a verificação da qualidade da carne. Apenas os seus olhos de lince bastaram para que um boi de 17 arrobas + 11 quilos passasse a valer o mesmo que um bezerro, pois faltou-lhe gordura…

    No contrato de compra da boiada, os representantes do frigorífico nunca oferecem uma tabela de descontos para cada situação (digo descontos porque eles são bem mais comuns que os prêmios e bônus). Deixam para o balanceiro (ou para o “rapaz do financeiro”) avisar ao coitado do pecuarista, depois que a carcaça condenada já entrou na câmara fria e se misturou com as outras, consideradas de “boa qualidade”. Temos certeza que, depois, elas serão separadas, não é?

    Melhoria da qualidade da carne, sem aspas, deveria vir acompanhada de melhoria nas relações entre indústria e pecuaristas. Esses já nem sabem se produzem novilho precoce (carne com menor capa de gordura) ou se deixam os bois criarem chifres (e, talvez, com a gordura que eles querem). Com raras exceções, não recebem a informação adequada de quem compra sua carne. Nem recebem orientação. Muito menos parceria e solidariedade. Porém, não deixam, em algum ponto da venda, de ser penalizados.

    É como diz um amigo: em frigorífico, você entra nervoso e sai com raiva.