A partir de meados de novembro, o mercado do boi gordo passou a operar em ambiente fraco, interrompendo um movimento de alta que já se estendia para mais de 5 meses.
De junho ao final de outubro/início de novembro, a valorização média do boi gordo nas 24 praças pesquisadas pela Scot Consultoria foi de 32%. Somente em São Paulo, a alta acumulada foi de 35%.
A reduzida oferta de animais terminados, culminando em programações de abate que atendiam em média 3 a 4 dias, pressionava os compradores e sustentava os preços.
O movimento de alta começou a perder força a partir da segunda quinzena do mês, levando à desvalorização da arroba em algumas praças.
Realmente houve um ligeiro aumento de oferta. As chuvas fortes e a falta de trato levaram ao mercado o “resto” dos animais confinados. Além do mais, muitos pecuaristas passaram a negociar animais de pasto, mais leves, ora para favorecer a recuperação do capim, ora para angariar recursos para as festas de final de ano, pagamento de 13o salário e para a compra de animais de reposição.
Os compradores aproveitaram o momento para projetar um movimento de baixa. O pecuarista, temendo a súbita desvalorização do boi gordo, partiu para negociação, sustentando os recuos.
É válido lembrar que, salvo algumas regiões ao Norte do país, ainda não há boa oferta boi gordo (16,5 @) terminado em pastejo. Assim, caso as ofertas tornem a se ajustar, o mercado deve voltar a operar em ambiente firme, porém em patamares mais baixos.
Atacado
O crescimento da oferta de animais terminados levou ao aumento da oferta de carne. Em contrapartida, o consumo permaneceu fraco, uma vez que o poder aquisitivo da população é cada vez menor.
Segundo levantamento do Seade/Diese, em outubro o índice de desemprego atingiu 19% da população economicamente ativa da grande São Paulo. É a maior taxa registrada desde 1999.
Assim, o atacado voltou a operar em baixa, pontuando seguidas desvalorizações. Em pouco mais de uma semana, o equivalente físico (48% traseiro + 39% dianteiro + 13% ponta de agulha) acumulou baixa de 7%, passando de R$50,03/@ para R$46,41/@.
O equivalente Scot, que agrega ao equivalente físico o valor que os frigoríficos recebem pelo couro verde e sebo (87,94% equivalente físico + 10,29% couro + 1,77% sebo), recuou, no mesmo período, de R$57,23/@ para R$53,57/@, uma desvalorização de “apenas” 6% em razão da menor desvalorização dos subprodutos em relação à carne.
Enquanto isso, o boi gordo paulista passou de R$60,00/@ para R$57,00/@, menos 5%. Em outras palavras, a desvalorização da carne foi maior que a do boi gordo, o que estimulava o movimento de baixa no mercado físico.
Caso as ofertas de gado para abate voltem a ser ajustadas, o mercado atacadista deve passar a operar em ambiente firme. Os preços podem até apresentar uma ligeira recuperação, pois é possível que o consumo melhore um pouco com o pagamento do 13o.
Reposição
No embalo das chuvas, favorecendo a recuperação do capim, a demanda por animais de reposição evolui gradualmente.
Recriadores e invernistas se lançaram aos negócios, aproveitando a relação de troca favorável. Na média dos primeiros 15 dias de novembro, em São Paulo, era possível comprar 2,43 bezerros nelore (12 meses) com a venda de 1 boi gordo. É a melhor relação dos últimos 6 anos, 17% superior à registrada no mesmo período do ano passado.
Isso foi possível graças à significativa evolução dos preços do boi gordo (conforme colocado acima), diante da estabilidade na cotação dos animais magros. De junho à meados de outubro, a valorização média do bezerro em 12 Estados pesquisados foi de apenas 4%.
Novembro, mês do pico do boi gordo até agora, registrou os maiores valores de relação de troca. Esse tende a ser o limite.
Relação de troca: bezerro/boi gordo nos últimos 6 anos