Apesar de os EUA não registrarem um surto de febre aftosa desde 1929, especialistas acreditam que o ressurgimento desse vírus altamente infeccioso no país é apenas uma questão de tempo. É o que informa reportagem de Jane E. Brody, para o New York Times, publicada hoje no Valor Online.
O vírus da aftosa, que está forçando o abate e a incineração de dezenas de milhares de animais no Reino Unido e em outros países europeus, é da mesma família dos causadores do resfriado comum. Ele pode se espalhar por contato direto e indireto com animais infectados, por pessoas que não desenvolvem sintomas mas o abrigam e propagam; por sapatos, roupas, veículos, implementos agrícolas, carne, leite, lixo e pelo ar contaminados.
Acredita-se que um surto ocorrido na Ilha de Wight, no Reino Unido, em 1981, teria decorrido de uma propagação aérea de vírus proveniente da região da Bretanha, no norte da França. O vírus sobrevive à refrigeração e ao congelamento e pode viver até um mês no ambiente normal, embora calor, luz solar, desinfetantes e condições ácidas ou alcalinas possam desativá-lo.
Os surtos de aftosa, especialmente da cepa atualmente encontrada no Reino Unido, vêm aumentando. A doença é endêmica em partes da Ásia, África, Oriente Médio e América do Sul, onde surtos periódicos normalmente têm reflexos econômicos.
Em 1997, por exemplo, Taiwan amargou uma epidemia que custou US$ 5 bilhões em receita perdida, esforços de contenção e indenizações a produtores cuja criação teve de ser sacrificada.
O vírus fica incubado de dois dias a mais de duas semanas antes de um animal começar a apresentar sinais da doença. As reses têm febre e aftas nas bocas, perdem o apetite, perdem peso e produzem menos leite. Os porcos desenvolvem sérias lesões nas patas que os impedem de andar. Nas ovelhas e cabras, as lesões nas patas são menos óbvias e podem passar despercebidas, permitindo que elas espalhem a infecção. Em todas as espécies, os animais adultos tipicamente se recuperam em duas semanas, mas a taxa de mortalidade entre os animais jovens pode ser alta.
Outros animais suscetíveis à doença são os ratos, cervos e até elefantes. Embora as pessoas possam ser infectadas, os sintomas – geralmente lesões epidérmicas – raramente aparecem.
Conquanto existam vacinas contra três das sete variedades do vírus da febre aftosa, a vacinação de animais de criação tem se mostrado um meio ineficaz de controle, até agora. Marvin Grubman, virologista do Centro de Doenças dos Animais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em Plum Island, Nova York, explicou que, pelo fato de as vacinas atualmente disponíveis resultarem na produção de anticorpos indistinguíveis dos provocados pelo vírus vivo, a vacinação não permite dizer quais animais estão infectados e quais estão protegidos.
A doença foi mantida longe dos EUA por mais de 70 anos. Mas um único caso poderia instantaneamente fechar a exportação para todos os produtos animais, um setor que movimenta US$ 60 bilhões. Amy Glaser, virologista do Laboratório de Diagnóstico na Escola de Medicina Veterinária de Cornell, é taxativa: “O USDA deve estar tremendo até as botas neste momento. Não se trata de saber se a infecção vai ocorrer por aqui, mas quando”.
(Por Jane E. Brody, para o New York Times, publicada no Valor Online)