O Brasil avança nas tecnologias de mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na pecuária. A aliança entre empresas públicas de pesquisa e empresas privadas tem indicado inovações em manejo, vacinas e alimentos que podem contribuir na redução da emissão de gás metano entérico (CH4), um dos principais responsáveis pelo aquecimento global, resultado do processo de digestão dos animais.
Sérgio Medeiros, pesquisador da Embrapa, explica que há ao menos seis frentes sendo exploradas. Elas passam pelo uso de aditivos e ingredientes para aumentar o desempenho ou auxiliar a digestão do gado e diminuir emissões, sistemas de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta pesquisas com vacinas, bioinsumos e adubos nitrogenados (emitem menos de óxido nitroso) e pesquisas com genética que levem à seleção de animais que emitem menos gases do efeito estufa.
Trabalhos com genes têm se mostrado promissores em instituições como Embrapa e Instituto de Zootecnia de São Paulo, e algumas empresas comerciais testam vacinas com técnicas de edição gênica. Mas os resultados mais imediatos estão sendo alcançados com o monitoramento dos pecuaristas e florestas, em especial os na fronteira com a região amazônica, e com o uso de novas formas de manejo de animais e pastagens.
A parceria com grandes frigoríficos exportadores, pressionados pelos compradores externos, tem sido importante. A Minerva Foods, que tem aproximadamente 70% de seu faturamento de R$ 26,96 bilhões com exportações, buscou a parceria do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e da Embrapa para ajudar os pecuaristas na redução da pegada de carbono. A companhia implantou monitoramento geoespacial para fazendas fornecedoras diretas no Brasil e do Paraguai, e até 2030 se comprometeu a monitorar todas as compras na Colômbia, Uruguai e Argentina. A empresa tem meta de zerar as emissões líquidas até 2035.
A agenda ESG entrou na análise dos fundos de investimentos”
— Fernando Sampaio
O projeto com o Imaflora calcula o balanço de carbono na pecuária em 25 fazendas dos cinco biomas do país, que têm mais de 232 mil cabeças de gado em cerca de 185 mil hectares de pastagem. O resultado mostra que pastos bem manejados sequestram carbono, enquanto pastos mal manejados emitem o gás. Segundo o relatório final, essas fazendas emitiram 44% menos gases do efeito estufa que a média mundial de emissões na produção de carne bovina.
Se os resultados surgem com manejo dos pastos atuais, pesquisas com forrageiras transgênicas, diz Medeiros, da Embrapa, podem ampliar esses ganhos. O desenvolvimento de gramíneas com menos componentes resistentes à digestão poderá impulsionar o sequestro de carbono. Ao oferecer melhor digestibilidade e melhorar a produtividade do animal, abrem-se frentes de redução de emissões.
A JBS, que também assinou compromisso de zerar emissões líquidas, tem feito da inovação uma aliada. Após usar satélites para identificar atividades ilegais em fazendas fornecedoras e suspender compras dessas áreas, adotou a tecnologia blockchain em uma plataforma para rastrear toda a cadeia de fornecimento de animais. “É um passo no enfrentamento de um grande desafio setorial: o monitoramento dos fornecedores dos fornecedores”, diz Renato Costa, presidente da Friboi, empresa do grupo JBS. A partir de 2026, somente produtores que estiverem na plataforma poderão fazer negócios com a companhia.
O mercado financeiro segue de perto os movimentos do setor. “A agenda ESG entrou na análise dos fundos de investimentos”, destaca Fernando Sampaio, diretor da Associação Brasileira de Exportadores de Carnes (Abiec). Isso impacta nos projetos de pecuária e também nos dos frigoríficos. Dar acesso a linhas das chamadas finanças verdes é importante para incentivar pecuaristas a mudar o sistema de produção e implementar as boas práticas, reforça Edison Ticle, CFO do Minerva.
Fonte: Valor Econômico.