Um grupo de cerca de 60 fazendeiros de Mato Grosso está mostrando que é possível aliar produção de carne com sustentabilidade.
Há sete anos, eles decidiram fundar a Liga do Araguaia, uma rede de pecuaristas que, atualmente, ocupa 149 mil hectares em onze municípios do estado.
Por este território, eles aplicam uma série de técnicas que reduzem impactos ambientais, como recuperação e intensificação de pastagens, integração entre lavoura e pecuária e preservação da fauna e floral local.
Além disso, não abrem mão do bem-estar animal: em uma das fazendas, os bezerros recebem até massagem para tirar o estresse.
Os pecuaristas que “deram liga” se uniram depois de discutirem a imagem da pecuária brasileira no exterior, que não está muito positiva, diante de um mercado que, cada vez mais, exige uma carne vinda de locais que respeitem a natureza.
“Não podemos virar a cara e achar que tudo o que foi feito até aqui estava certo. […] Temos que ter humildade de reconhecer. Vamos buscar o que for possível com a academia, ciência, e, assim, continuar produzindo”, diz o fazendeiro Alexandre Annicchino.
Recuperação de pastagem
Uma das ações da Liga é a fazer a recuperação das pastagens. Esta é muito importante para evitar que novas áreas sejam desmatadas. Além disso, uma vegetação saudável é essencial para uma maior absorção de CO2.
Quando se diz que a vegetação remove gás carbônico da atmosfera significa o seguinte: toda planta, através da fotossíntese, retira o CO2 do ar. É graças a este que a planta vai crescer. O carbono vira raízes, folhas e galhos. E o oxigênio é liberado para o ar.
No Brasil, quase todo o gado é criado a pasto. Mas estimativas da Embrapa apontam que, de 165 milhões de hectares destinados à pecuária, cerca de 60% estão fracos ou até completamente degradados.
Intensificação
Além da maior absorção de CO2, pasto bom é igual a mais comida para o gado e mais animais podendo pastar em uma mesma área: é a chamada intensificação de pastagem, que compensa o custo da renovação.
Em uma das propriedades da Liga, na Fazenda Água Preta, em Cocalinho, o capim, além de sustentar o gado, vira silagem, um alimento para o gado na fase de engorda, quando ele fica confinado.
O confinamento também é fonte de ganhos ambientais, pois, nesse sistema, a idade do abate do boi é reduzida, já que este fica menos tempo no pasto emitindo uma série de gases.
Um deles é o metano, que é 20 vezes pior que o CO2 quando se fala em aquecimento global.
Bezerro que recebe massagem
O bem-estar animal também faz parte das práticas dos pecuaristas da Liga.
Na Fazenda Fortaleza, em Barra do Garças, os bezerros recebem massagem sempre que passam por algum manejo. Além disso, o rebanho é tocado sem nenhum grito.
Os vaqueiros relatam que, após a massagem, os animais ficam mais dóceis, além de se tornarem mais férteis e desempenharem melhor.
Integração com a lavoura
Já na Fazenda Água Viva, no município de Cocalinho, além de áreas que estão sendo reflorestadas, há outras onde tem sido feita a integração entre a lavoura e a pecuária.
Por lá, a soja é plantada durante o período das águas, enquanto a pastagem entra na época da seca. A integração tem gerado diversos benefícios para a propriedade, como a disponibilidade de forragem de qualidade, além da melhora do desempenho dos animais.
“Uma vez que [a integração] melhora o desempenho dos animais, reduz o tempo de abate. Você melhora a lucratividade da fazenda e diminui, por quilo de carne produzida, a quantidade de metano emitida no ar”, diz o agrônomo Eduardo Pereira, diretor da Agropecuária Água Viva.
Fonte: G1.