A cheia no Pantanal este ano já assustou e continua causando expectativa aos pecuaristas da região. O medo de que a planície seja atingida por uma cheia de grandes proporções forçou alguns fazendeiros a transferir o gado das margens dos rios e das regiões mais baixas para lugares mais altos e seguros, onde o volume d’água é menor nessa época. Em algumas regiões do Pantanal a movimentação de comitivas já é grande e deve continuar até o final de março, quando a intensidade das chuvas começa a diminuir.
Na Nhecolândia e no Abobral os rios já estão cheios. A água que chegou mais cedo este ano na região é resultante das chuvas que caíram nos rios Aquidauana e Negro. Em praticamente todas as fazendas dessas áreas o gado teve que ser transferido para lugares mais seguros. O volume de água que cobriu os campos nessa parte do Pantanal pode aumentar ainda mais segundo os pecuaristas, assim que as águas do Rio Paraguai chegarem à região, o que deve acontecer no início do próximo mês. Quando isso acontecer o Pantanal estará passando por um processo natural de renovação, o que vai garantir a sobrevivência das espécies durante o ano. A cheia nesse caso é imprescindível para a manutenção dos rebanhos, fauna e flora pantaneiras.
De acordo com o pecuarista e ex-governador do Estado de Mato Grosso, Cássio Leite de Barros, a cheia no Pantanal é um processo natural impossível de ser previsto. Segundo ele, não dá para saber se um ano será de grande cheia ou não, o que dificulta ainda mais para o pecuarista traçar uma estratégia de retirada do gado antes da chegada das águas, que acontece com muita rapidez em determinados locais. O pecuarista revela ainda que já foi obrigado a remanejar parte do rebanho para outras fazendas para evitar prejuízos.
Rio Paraguai
Em média o Rio Paraguai vem subindo 1 a 2 centímetros por dia. Na última quarta-feira o nível da água na régua de Ladário era de 2,5 metros. No final de novembro o nível chegou a 98 centímetros, o menor registrado nos últimos 27 anos. Alguns pecuaristas não acreditam que este será um ano de grande cheia, mas nenhum deles deixou para proteger o gado na última hora.
O Pantanal, que já abrigou um rebanho de 4,5 milhões de cabeças, ainda mantém cerca de 1,3 milhão de reses. Proteger esse imenso rebanho não é tarefa fácil, mas os fazendeiros já se acostumaram a driblar as águas e proteger melhor seus animais. A grande lição foi a grande cheia de 1974 quando a força da água destruiu fazendas inteiras, matou milhares de reses e arruinou muita gente. Desde então, o pantaneiro sabe que, apesar dos gastos que a cheia implica, ela ainda é a forma mais barata de proteger suas riquezas.
No Pantanal, além das comitivas que transportam o gado via terrestre e possibilitam a condução de centenas de animais de uma só vez, existem ainda os chamados navios boieiros que fazem o trabalho de socorro aos pecuaristas que não conseguem transportar o gado através dos campos. Esses navios são equipados com currais e chegam a transportar até 100 reses. O trabalho é caro, mas é a única garantia de que o gado vai continuar vivo e produzindo durante o ano. Apesar da água já ter atingido um nível considerado alto para esse período, ainda não há registro de que algum rebanho tenha sido totalmente atingido pela cheia que começa a inundar o Pantanal.
Fonte: Correio do estado/MS (por Otávio Neto), adaptado por Equipe BeefPoint