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Perdas durante o processo de fenação

No processo de fenação perdas de nutrientes se iniciam imediatamente após o corte, e algumas alterações bioquímicas, como a respiração e a oxidação são inevitáveis durante a secagem.

No processo de fenação perdas de nutrientes se iniciam imediatamente após o corte, e algumas alterações bioquímicas, como a respiração e a oxidação são inevitáveis durante a secagem. Desta forma, a remoção de água tão rápida quanto possível, resultará na diminuição das perdas (Rees, 1982).

Perdas na produção de feno (Tabela 1) incluem: 1) separação física da forragem e 2) depleção dos nutrientes da planta. A separação física normalmente é causada pela colhedora, porém a chuva também pode influenciar nesta separação, sendo perdido principalmente folhas. Essas perdas causam substancial redução na digestibilidade da MS, nos nutrientes e na energia do alimento, gerando elevação nas concentrações dos elementos fibrosos da planta (3 a 12%) (Rotz & Abrams, 1988).

O valor econômico das perdas é obtido por função da quantia do material perdido, dos efeitos dessas perdas na concentração dos nutrientes remanescentes e no período de utilização do alimento. Em fazendas produtoras de leite do Estado de Michigan (EUA), com produção anual média de 8.000 kg/vaca. ano, Buckmaster et al. (1990) encontraram médias de perdas de $14,00/ t MS para silagem de alfafa e $35,00/ t MS para fenos. Baseados em recentes estatísticas de produção de forragens, o valor de perdas de colheita e armazenamento nos EUA podem exceder $2 bilhões/ano.

Tabela 1. Previsão de perdas (%), durante o processo de fenação em diferentes condições de secagem no campo.


Fonte: McDonald & Clark (1987).

Mudanças físicas, biológicas e químicas ocorrem quando a forragem esta no campo secando, sendo que a perda biológica ou metabólica primária é a respiração da planta.

A respiração tem um importante papel na planta viva, sendo que suas enzimas hidrolíticas e respiratórias, presentes na célula viva continuam seu funcionamento após o corte da forragem, decrescendo a respiração da planta pelo fato da restrição de oxigênio e água para o processo metabólico. Geralmente, a respiração decresce proporcionalmente com o conteúdo de umidade da planta, entre 26 e 40% de umidade. Portanto, nesta amplitude de umidade a atividade enzimática da planta cessa ou decresce a níveis não detectáveis. Caso ocorra nova umidificação na forragem por agentes externos (orvalho e chuvas), a reativação da atividade enzimática poderá ocorrer, traduzindo em prolongamento da respiração.

Com a prolongação do tempo de secagem no campo, desenvolvimento de bactérias, leveduras e fungos na forragem podem ocorrer (Pizaro & Warboys, 1972), permitindo desta forma que a taxa de respiração da planta se eleve e maiores perdas possam ocorrer.

A respiração inicial da planta pode ser considerada uma oxidação completa de açúcares (hexoses) a gás carbônico e água (Parkes & Greig, 1974), exemplificada pela equação:

C6H12O 6 + 6 O2 → 6 H2O + 6 CO2 + 2870 Kj

Carboidratos solúveis (principalmente açúcares) fornecem para os tecidos das plantas os principais substratos para respiração. A água, o dióxido de carbono e o calor gerado pela respiração da folha da planta causam perdas de matéria seca. A taxa de respiração declina rapidamente quando os carboidratos prontamente disponíveis são consumidos.

Honig (1979) comparou perdas mecânicas com perdas respiratórias com diferentes tempos de secagem e regimes de manejo em gramíneas. As perdas respiratórias representaram aproximadamente de 1/3 a 1/4 das perdas totais, o qual representa de 3 a 5% da MS quando enfardado a 80% de MS. Em azevém e trevo branco foram reportadas, perdas respiratórias de somente 2 a 3% da MS em silagens pré-emurchecidas e 8 a 9% da MS em fenos secos no campo. Estas perdas representam aproximadamente de 14 a 33% do total de MS perdida para silagens pré-emurchecidas e fenos secos no campo, respectivamente.

Sobre condições desfavoráveis de secagem, os efeitos da respiração vegetal e microbiana são dificilmente separados. Durante condições chuvosas algumas perdas são atribuídas a lavagem podendo se tornar uma extensão da respiração da planta e o princípio da respiração microbiana.

Honig (1979) relacionou atividade respiratória com temperatura e teor de MS (Figura 1). A taxa respiratória decresceu de maneira quadrática em todas as temperaturas à medida que diminuiu a umidade. O declínio na taxa respiratória pode ser parcialmente explicado pelo suprimento de O2, sendo que, quando as células estão em estado flácido, os estômatos são fechados. Assim é perdido o espaço intercelular e há uma maior área de contato entre as células, diminuindo a área normal de fluxo de gás, causando menor difusão, e então aumentando a resistência do mesófilo para O2 (Levitt, 1980).


Figura 1. Taxa de perda respiratória para seis temperaturas como efeito do teor de MS.
Fonte: adaptado de Honig (1979).

Em resumo, a respiração da planta durante o período de secagem resulta principalmente em perdas de carboidratos solúveis, conseqüentemente, concentração de proteína bruta, fibra e outros constituintes da planta são pouco afetados. Dentro da fração PB, proteínas verdadeiras podem ser convertidas em nitrogênio não-protéico.

Se a re-hidratação ocorrer, a atividade metabólica pode retornar e perdas respiratórias continuar. Após as membranas não serem mais funcionais, vazamento de eletrólitos pode ocorrer com adição de água (Levitt, 1980). Após o material vegetal não estar mais vivo, re-hidratação pode aumentar a atividade microbiana e utilização de substratos. Collins (1983) reportou que perdas subseqüentes pela re-hidratação podem resultar em perdas foliares, lavagem de nutrientes e respiração, reduzindo CNE e digestibilidade in vitro da MS e aumentando dos teores de lignina. Concentrações de minerais como P, Ca, e Mg foram aumentadas com a re-hidratação, o qual sugere que perdas de MS foram maiores que perdas de nutrientes (Collins, 1985).

A quantia das perdas que ocorrem por danos decorrentes de chuvas é extremamente variável, dependente da colheita e de fatores ambientais. O principal fator que afetará as perdas será ditado pelas características da chuva, incluindo quantidade, intensidade e duração. Fatores da forragem colhida como conteúdo de umidade no momento da chuva, relação folha:caule, densidade da fileira e a espécie utilizada também irá influenciar nas perdas.

Perdas de folhas é uma forma de dano causado pela chuva, sendo que as gotas de chuva podem desprender as folhas do caule, geralmente essa perda é mais notável em leguminosas. Collins (1983) estudando o comportamento da chuva (natural e artificial) em alfafa e trevo vermelho encontrou que o aumento na quantidade de chuva (25, 41 e 62 mm), elevou as perdas de folhas em 5,7; 8,0 e 10,0% respectivamente.

A lixiviação de nutrientes solúveis das plantas é a perda predominante de danos por chuva, sendo que a quantificação dessas perdas sob chuva natural é de difícil mensuração, sendo que inclui perdas de folhas, lixiviação de nutrientes, perdas durante a colheita e respiração da planta e de microrganismos. Em geral, estudos concluem que as perdas se elevam à medida que a quantidade de chuva aumenta em uma taxa de 0,7 – 1,0%/ mm de chuva (Rotz & Abrams, 1988). Perdas de matéria seca de até 30% são reportadas pela literatura, sendo que estas podem chegar acima de 50% quando severos danos são causados por chuvas, o que pode tornar o alimento inviável para fornecimento aos animais, pois geralmente o que se perde são os nutrientes da planta altamente solúveis e digestíveis.

Referências bibliográficas

COLLINS, M. Hay preservation effects on yield and quality. In: Post-harvest physiology and preservation of forages. Moore, K.J., Kral, D.M., Viney, M.K. (eds). American Society of Agronomy Inc., Madison, Wisconsin.1995. p.67-89.

McDONALD, A.D., CLARK, E.A. Water and quality loss during field drying of hay. Adv. in Agron., Madison. v.41, p. 407-437. 1987.
REES, D.V.H. A discussion of sources of dry matter loss during the process of haymaking. J. Agric. Eng. Res., London. v.27, n.4, p.469-479. 1982.

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