Com oferta curta indicador tem forte valorização
28 de setembro de 2009
Mercados Futuros – 29/09/09
30 de setembro de 2009

Perfil nutricional da carne de animais criados a pasto x de animais confinados – Parte 1/2

A carne bovina oriunda de animais alimentados somente com forragem (com pouco ou nenhum grão) contém elevadas concentrações de vitamina A, vitamina E, altos níveis de ômega-3, uma proporção mais desejável de ômega-3:ômega-6 e maiores níveis de ácido linoléico conjugado (CLA), todas substâncias com efeitos biológicos favoráveis para a saúde humana. As informações que se seguem sumarizam o que se sabe com relação a dietas de forragem e à carne que é produzida em um sistema de pasto.

A carne bovina oriunda de animais alimentados somente com forragem (com pouco ou nenhum grão) contém elevadas concentrações de vitamina A, vitamina E, altos níveis de ômega-3, uma proporção mais desejável de ômega-3:ômega-6 e maiores níveis de ácido linoléico conjugado (CLA), todas substâncias com efeitos biológicos favoráveis para a saúde humana. As informações que se seguem sumarizam o que se sabe com relação a dietas de forragem e à carne que é produzida em um sistema de pasto.

Pró-vitamina A: Beta-Caroteno

O beta-caroteno pertence à família de químicos naturais conhecidos como carotenos ou carotenóides. Os carotenos produzem a cor amarela ou laranja encontrada em frutas e vegetais e é convertido em vitamina A pelo corpo. Embora quantidades excessivas de vitamina A na forma de suplemento possam ser tóxicas, o corpo somente converterá a quantidade necessária de beta-caroteno em vitamina A, mostrando que o beta-caroteno é uma fonte dietética segura para a suplementação com essa vitamina (1).

A vitamina A é uma vitamina crítica lipossolúvel que é importante para a visão, o crescimento ósseo, a reprodução, a divisão celular e a diferenciação celular (2). Especificamente, essa vitamina é responsável pela manutenção da superfície da mucosa dos olhos e também das mucosas dos tratos respiratório, urinário e intestinal. A integridade geral da pele e das membranas mucosas é mantida pela vitamina A, criando uma barreira contra bactérias e vírus (3,4). Além disso, a vitamina A está envolvida na regulação da função imune apoiando a produção e a função das células brancas do sangue (5,6).

A atual recomendação de ingestão de vitamina A é de 3.000-5.000 U.I (Unidades Internacionais) para homens e 2.300-4.000 U.I para mulheres (7). Embora não haja uma quantidade dietética recomendada para beta-caroteno ou outro carotenóide pró-vitamina A, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos sugere que se consuma 3 miligramas de beta-caroteno diariamente para manter sua concentração plasmática em um nível associado com uma função normal e menor risco de doenças crônicas (7).

Dados recentes sugerem que as fontes dietéticas de beta-caroteno são superiores à suplementação com vitamina A por causa da suspeita de interferência com a absorção normal de cálcio. Uma ingestão dietética de vitamina A maior do que 1.500 µg/dia foi associada com uma menor densidade mineral óssea e maior risco de fraturas nos ossos do quadril quando comparado com mulheres que consumiam menos de 500 µg/dia (8). Além disso, fontes dietéticas de beta-caroteno continuam sendo o método preferencial para cumprir com os requerimentos diários para vitamina A.

A carne bovina de animais criados em confinamento contém aproximadamente 41 µg de beta-caroteno por 100 gramas de carne bovina moída e aproximadamente 36 µg em um típico corte norte-americano, o ribeye steak. O animal criado predominantemente a pasto efetivamente dobra o teor de beta-caroteno em ambos os cortes (64 µg para o ribeye steak e 87 µg para a carne moída) (9). Apesar de a carne bovina não ser uma importante fonte de beta-caroteno, a carne de animais criados a pasto fornece duas vezes mais beta-caroteno do que a carne de animais criados confinados. Uma típica porção de 85 gramas forneceria 10% da quantidade recomendada dietética de beta-caroteno para mulheres comparado com 5% fornecidos pela carne de animais confinados (7).

Vitamina E: Alfa-Tocoferol

A vitamina E também é lipossolúvel existente em oito diferentes formas, com uma poderosa atividade anti-oxidante, sendo a mais ativa a alfa-tocoferol. Os anti-oxidantes protegem as células contra os efeitos dos radicais livres, que são subprodutos potencialmente nocivos do metabolismo do corpo que podem contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer e doenças cardiovasculares.

Pesquisas preliminares mostram que a suplementação com vitamina E pode ajudar a prevenir ou adiar doenças cardíacas coronarianas (10,11,12,13). A vitamina E também pode bloquear a formação de nitrosaminas, que são substâncias carcinogênicas formadas no estômago a partir de nitritos consumidos na dieta. Ela pode também proteger contra o desenvolvimento de cânceres aumentando a função imunológica (14). Além dos efeitos contra o câncer, existem alguns estudos observacionais que mostraram que a transparência do cristalino (uma ferramenta de diagnóstico de catarata) foi melhor em pacientes que regularmente consumiam vitamina E (15,16).

A atual quantidade recomendada de ingestão de vitamina E é de 22 U.I. (fonte natural) ou 33 U.I. (fonte sintética) para homens e mulheres (7,17,18) é necessária para a atividade biológica. Vinte e duas unidades internacionais são equivalentes a 15 miligramas por peso. É interessante notar que a versão sintética do alfa-tocoferol feita em laboratório e encontrada em suplementos não é idêntica à forma natural e não é tão ativa como o composto natural.

A quantidade de vitamina E natural encontrada na carne bovina de animais com dietas baseadas em concentrado é de 3,7 µg/grama de tecido (19), enquanto a quantidade de vitamina E na carne de animais criados a pasto é de 9,3 µg/grama (20), aproximadamente três vezes mais. Uma porção de 100 gramas teria cerca de 930 µg de vitamina E, cerca de 7% do requerimento diário desse nutriente.

O gráfico abaixo mostra os níveis de vitamina E na carne de: 1) animais confinados; 2) animais confinados recebendo altas doses de vitamina E sintética (1.00 U.I. por dia); e 3) animais criados a pasto sem suplementos. Esses dados são de Smith, G.C. (21) e mostram que a carne dos animais criados a pasto continha quatro vezes mais vitamina E do que a carne de animais criados confinados e quase duas vezes mais do que a carne de animais confinados que receberam suplementos de vitamina E (21).

Gordura e calorias

A carne de animais criados a pasto tem menos gordura do que a carne de animais confinados. Por exemplo, um corte de lombo de novilho criado a pasto tem cerca de metade a um terço da quantidade de gordura de um corte similar de novilho alimentado com grãos (22). Quando a carne é magra, tem a propriedade de reduzir os níveis de colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade, chamado de colesterol “ruim”) (23).

Como a carne oriunda de animais criados a pasto é mais magra, também contém menos calorias (a gordura tem 9 calorias por grama, comparado com somente 4 calorias da proteína e dos carboidratos). Uma porção de 170 gramas de carne de novilhos criados a pasto tem cerca de 100 calorias a menos do que uma porção do mesmo tamanho de carne de novilhos criados confinados. Considerando um consumo de cerca de 30 quilos de carne bovina por ano, ao se mudar de carne de animais confinados para carne de animais criados a pasto, a economia de calorias seria de 17.733 calorias por ano – sem necessidade de mudança nos hábitos alimentares. Se tudo na dieta se mantivesse constante, a pessoa perderia cerca de 2,7 quilos no ano com essa mudança.

Referências bibliográficas

1) University of Maryland Medicine, 2002: http://www.umm.edu/altmed/ConsSupplements/BetaCarotenecs.html

2) Stephens D., Jackson PL, Gutierrez Y. Subclinical vitamin A deficiency: A potentially unrecognized problem in the United States. Pediatr Nurs 1996:22:377-89, 456.

3) Semba RD. The role of vitamin A and related retinoids in immune function. Nutr Rev 1998:56:S38-48.

4) Harbige LS. Nutrition and immunity with emphasis on infection and autoimmune disease. Nutri Health 1996; 10:285-312.

5) Ross AC. Vitamin A and Retinoids. In: Shils ME, Olson J, Shike M, Ross AC, ed. Modern Nutrition in Health and Disease. 9th ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1999.

6) Gerster H. Vitamin A-functions, dietary requirements and safety in humans. Int. J. Vitam. Nutri Res. 1997; 67:71-90.

7) National Institute of Health Clinical Center, 2002: Facts about dietary supplements. http://www.cc.nih.gov/

8) Melhus H, Michaelsson K, Kindmark A, Bergstrom R, Holmberg L, Mallmin H, Wolk A, Ljunghall S. Excessive dietary intake of vitamin A is associated with reduced bond mineral density and increased risk of hip fracture. Ann Intern Med. 1998; 129:770-778.

9) Simonne AH, Green NR, Bransby JI. Consumer acceptability and beta-carotene content of beef as related to cattle finishing diets. J Food Sci 1996:61:1254-1256.

10) Lonn EM, Yusuf S. Is there a role for antioxidant vitamins in the prevention of cardiovascular diseases? An #UPD# on epidemiological and clinical trials data. Can J Cardiol 1997;13:957-65.

11) Jialal I and Fuller CJ. Effect of vitamine E, vitamin C and beta-carotene on LDL oxidation and atherosclerosis. Can J Cardiol 1995; 11 Suppl G:97G-103G.

12) Stampfer MJ, Hennekens CH, Manson JE, Colditz GA, Rosner B, Willett WC. Vitamin E consumption and the risk of coronary disease in women. N Engl J Med 1993; 328:1444-9.

13) Knekt P, Reunanen A, Jarvinen R, Seppanen R, Heliovaara M, Aromaa A. Antioxidant vitamin intake and coronary mortality in a longitudinal population study. Am J Epidemiol 1994; 139:1180-9.

14) Weitberg AB and Corvese D. Effect of vitamin E and beta-carotene on DNA strand breakage induced by tobacco-specific nitrosamines and stimulated human phagocytes. J Exp Clin Cancer Res 1997; 16:11-4.

15) Leske MC, Chylack LT Jr., He Q, Wu SY, Schoenfeld E, Friend J, Wolfe J. Antioxidant vitamins and nuclear opacities: The longitudinal study of cataract. Ophthalmology 1998; 105:831-6.

16) Teikari JM, Virtamo J, Rautalahi M, Palmgren J, Liestro K, Heinonen OP. Long-term supplementation with alpha-tocopherol and beta-carotene and age-related cataract. Acta Ophthalmol Scand 1997; 75:634-40.

17) Harvard School of Public Health: http://www.hsph.harvard.edu/

18) Dietary Guidelines Advisory Committee, Agricultural Research Service, United States Department of Agriculture (USDA). Report of the Dietary Guidelines Advisory Committee on the Dietary Guidelines for Americans, 2000. http://www.ars.usda.gov/dgac

19) McClure EK, Belk KE, Scanga JA, Smith GC. Determination of appropriate vitamin E supplementation levels and administration times to ensure adequate muscle tissue alpha-tocopheral concentrations in cattle destined for the Nolan Ryan Tender-Aged Beef Program. 2002 Animal Sciences Research Report. Department of Animal Sciences, Colorado State University.

20) Faustman C, Chan WKM, Schaefer DM, Havens A. Beef color #UPD#:The role of Vitamin E. J Anim Sci.1998;76:1019-1026.

21) Smith, G.C. “Dietary supplementation of vitamin E to cattle to improve shelf life and case life of beef for domestic and international markets”. Colorado State University, Fort Collins, Colorado 80523-1171.

22) Rule DC, Broughton KS, Shellito SM, Maiorano G. Comparison of muscle fatty acid profiles and cholesterol concentrations of bison, beef cattle, elk, and chicken. 2002 J Anim. Sci. 80:1202-1211.

23) Davidson, M.H.D., Hunninghake, et al. (1999). “Comparison of the effects of lean meat vs lean white meat on serum lipid levels among free-living persons with hypercholesterolemia: a long-term, randomized clinical trial”. Arch Interm Med 159(12): 1331-8.

0 Comments

  1. Lincoln Correia disse:

    DIVULGUEM NOS JORNAIS URGENTEMENTE ESTE E TODOS OS OUTROS DISPONIVEIS,POIS NOVAMENTE ESTÃO DENEGRINDO AS QUALIDADES DA CARNE BOVINA,ASSOCIANDO AO DESMATAMENTO E EMISSÃO DE CARBONO.de NOVO!!!!

  2. Jorbas Sampaio de Melo disse:

    Gostei do artigo juliana.
    Economicamente, existe algum diferencial para o produtor de carne a pasto no momento de comercualizar o seu produto? Vejo que a qualidade nutricional da carne
    a pasto são muitas, e isto deveria ser levado em conta. Não acha?

  3. Clodomiro Cruz Stabile disse:

    Parabens a voces pela lucidez que pode nos dar a ciencia.
    No entanto se nao houver um trabalho de concientização do consumidor,para que este saiba exigir a qualidade nutricional do produto, o mercado nunca pagará diferencial nenhum ao criador-invernista à pasto.

  4. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Gostei muito Juliana,maravilhoso,obrigado por nos oferecer informações tão úteis!

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS

  5. Ricardo Flügel disse:

    Realmente isso não é novidade para ninguém, ou seja, compare o frango de granja e o caipira! Caimos no mesmo caso é pena que nós produtores de produtos quase “bio” não recebemos quase nada em troca, por criarmos no$$os animais somente a pasto…

  6. Jorge Luiz dos Santos disse:

    Ao comprarmos um produto qualquer, é obrigatória a informação dos nutrientes existentes e suas respectivas quantidades. Ao adquirir a carne, não temos essa inormação, visto que as etiquetas são todas iguais, independentemente da criação do animal. isto não fere o código do consumidor? Claro que isto irá levar a diferenciação de preço entre uma criação e outra, mas o que é certo, é certo.

plugins premium WordPress