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Pesquisa BeefPoint estuda aumento do abate de fêmeas

O BeefPoint convidou seus leitores a participarem de uma pesquisa, buscando entender os motivos responsáveis pelo aumento do abate de fêmeas nos últimos anos. Em julho deste ano 808.155 cabeças foram abatidas, recorde histórico para um único mês, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Este montante demonstra um avanço de 117% em relação ao apurado em julho de 2002, e representa 36% de fêmeas do total de bovinos abatidos neste mês. Em 2002 a quantidade de fêmeas que foram para o gancho em junho correspondia a 23% do abate total.

Foram sugeridas pelo BeefPoint, cinco possibilidades que estariam influenciando esta maior oferta de fêmeas: O avanço da agricultura sobre áreas de pecuária e conseqüente liquidação de plantéis; criadores descapitalizados, vendendo parte de seu rebanho para fazer caixa; criadores saindo da atividade, desestimulados pelo baixo preço dos bezerros; aumento da pressão de seleção para fertilidade, acarretando maior descarte de matrizes e ainda, seca atípica, que diminuiu a capacidade de suporte das pastagens.

Cada uma das cinco alternativas deveria ser classificada em uma de três diferentes ordens de importância: Muito importante, pouco importante e sem importância. Foi também solicitada a opinião do leitor sobre este cenário, e as conseqüências futuras relativas a este aumento no abate de fêmeas.

Veja como se desmembrou a pesquisa e a opinião de alguns dos 119 participantes.

Para os leitores do BeefPoint, o fator que mais pesou para o aumento da oferta foi o avanço das áreas de agricultura, 69% dos leitores classificaram como muito importante este item.


“Pastagens em mau estado, remuneração baixa para pecuária e o bom desempenho da soja, criaram condições favoráveis ao início da integração agricultura-pecuária, levando o pecuarista a reduzir o plantel de fêmeas, para alavancar sua entrada na agricultura ou no aumento da área agrícola”, analisa Carlos Alberto Lazzarini de Goiatuba, GO.

Tarcísio Spring de Almeida, Médico Veterinário de Abelardo Luz, SC, acredita que os pecuaristas tradicionais, que anteriormente não se preocupavam com a eficiência na bovinocultura de corte, estão procurando se adequar às novas tendências da pecuária moderna, tentando colocar mais animais por hectare, buscado melhores índices zootécnicos e maior rentabilidade na atividade. “Os pecuaristas tiveram a oportunidade desta melhora com o preço da soja e do milho, transformando pastagens degradadas em lavouras, para posterior implantação de novas forrageiras. Razão pela qual se faz descarte de matrizes, principalmente as não produtivas, procurando capitalizar-se para investimento em melhoria das pastagens”, avalia.

Praticamente empatado em ordem de importância, a saída dos criadores da atividade, foi classificada como muito importante por 68% dos leitores.


“Com os baixos preços das fêmeas, há um desestímulo para que o produtor continue a produzir bezerros, pois a dificuldade de venda de bezerras, desde o ano passado é enorme”, queixa-se Ronaldo Carneiro Teixeira, Veterinário e consultor no Noroeste de Minas Gerais.

“A rentabilidade da atividade pecuária, em especial a cria, que trás um retorno muito pequeno, tornou inviável o investimento na atividade”, diz Fernão, pecuarista de Ulianópolis, PA.

A descapitalização dos produtores foi o terceiro motivo citado pelos leitores como sendo o mais importante, metade dos leitores opinaram desta forma.


“Os baixos preços do bezerro, desestimula a criação, aumentando o abate de fêmeas por duas razões, diminuir plantel e fazer caixa e, reter as crias a espera de melhores preços”, analisa José Eduardo Alves de Lima, Médico Veterinário em Lins, SP. “A necessidade financeira tem maior influência, pelo menos é o que tenho observado na minha região”, relata Sônia Maria Bueno, Médica Veterinária de Muzambinho, Minas Gerais.

O aumento da pressão de seleção ficou em quarto lugar, 33% dos participantes classificaram esta variável como muito importante.


“Acredito que o aumento da pressão de seleção seja o fator que manterá o abate de fêmeas. Veja, se nascem na fazenda em média 50% machos e 50% fêmeas e a propriedade está com plantel estabilizado (não querendo aumentar o numero de animais), lógico que teremos que abater o mesmo número de animais que nascem. Devido ao pouco valor de bezerras e, seguindo a lógica de que toda fêmea que nasce deve ser melhor que sua mãe, nada mais correto do que descartar vacas que possuem maior valor e liquidez por animal e substituí-las por novilhas, que estão entrando em reprodução”, argumenta Haroldo Ferreira, de Alta Floresta, MT.

O fator que menos influenciou a oferta de fêmeas para o abate segundo os participantes da pesquisa foi o climático, apenas 30% classificaram a seca atípica como muito importante.


“No meu caso estamos matando mais fêmeas por falta de pastagens, não encontramos mais pastos para arrendamento e o preço do aluguel por cabeça está muito alto. Por isso estamos pressionando a estação de monta que antes era de 5 meses foi passada para 3 e este ano para 2 meses. Quero deixar na propriedade somente o que cabe na área e tentar fazer eu mesma o ciclo de cria recria engorda”, relata Mara Belchior que realiza cria em Três Lagoas, MS.

“Em época seca, manter uma fêmea custa caro, apesar do baixo preço ainda assim vendê-las para o abate dá menor prejuízo”, calcula José Eloy Tramontin, pecuarista em Paranavaí, PR.

Um outro fator citado por muitos leitores, que pode estar contribuindo para esta maior taxa de abate, é a engorda de novilhas. Atividade que permite giro rápido, pois a fêmea é abatida com 12 arrobas ou menos. E pela boa relação de troca, propiciada pelas cotações atrativas das bezerras hoje em dia. Veja alguns comentários.

“Temos que considerar as fêmeas criadas para o abate, pois hoje existem muitos criadores que fazem cruzamento industrial para abate de machos e fêmeas”, relata Névio Primon de Siqueira, Médico Veterinário de São Paulo, SP.

“A engorda de fêmeas, novilhas ou vacas, é uma atividade das mais lucrativas da pecuária de corte, com giro rápido de capital”, acrescenta Vitor Manoel Rochinha Gaspar, pecuarista em Campo Grande, MS.

“Na minha região, surge uma nova atividade que é a engorda de fêmeas para abate, em substituição à engorda de machos, em função do ganho de tempo”, diz Baltazar Salvador Nogueira de Araguaçu, TO.

“Invernistas descapitalizados, para continuarem no negócio, estão repondo seus estoques em fêmeas, com um valor menor e com um ciclo mais rápido de engorda, pois as fêmeas chegam ao peso de abate mis cedo”, explica José Cirilo de Almeida, Médico e Agropecuarista em Goiânia, GO.

Futuro

Na última etapa da pesquisa, o BeefPoint indagou seus leitores quais seriam os reflexos que o grande abate de fêmeas traria ao mercado no futuro.

A maciça maioria acredita que os animais para reposição irão escassear, irão faltar matrizes e conseqüentemente faltarão bezerros no mercado e suas cotações irão subir.O que não está claro é o prazo para que isto aconteça. Para uns, o processo se inicia no começo do ano que vem, outros acreditam que os reflexos ocorram mais adiante, daqui a dois ou três anos. Alguns prevêem diminuição do rebanho, ou até, falta de carne para exportação.

Porém uma pequena minoria pensa diferente. É o caso do Médico Veterinário Gilmar Miranda de Campo Grande, MS., “Não terá conseqüência significativa, pois tem-se melhorado muito os índices de natalidade dos rebanho”, observa. Haroldo Ferreira, de Alta Floresta, MT, concorda.”Não vejo qualquer conseqüência, pois a produtividade aumenta a cada ano na pecuária”.

Fonte: Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Dirceu Alves Vieira disse:

    Sou universitário em e gerente de um confinamento que confina mais de 20.000 cabeças por ano. Na minha opinião, com certeza, vai faltar bezerros no mercado, assim, o preço com certeza irá subir. Acho ainda, que vai sair na frente quem estiver preparado para adquirir boi magro. Eu imagino que o preço irá melhorar já agora para dezembro.

  2. Daniel Dias Fernandes disse:

    Existe um outro motivo para o aumento do abate de marizes que não foi mencionado. Está relacionado ao preço da @ da vaca e o preço da reposição da fêmea para engorda.

    Apesar da @ da vaca ser menor que a do boi, é muito mais barato repor uma vaca magra do que um boi magro, dando uma rentabilidade bastante interessante, visto que a diferença de preço da @ da vaca para a @ do boi não está muito grande, girando em média em R$ 5,00.

    Associado a redução da lucratividade devido ao aumento dos custos e estabilização do preço da @, engordar fêmeas passa a ser bastante interessante no aspecto econômico.

    Em nossa região muitos pecuaristas abateram vacas de plantel, com gestação bastante avançada, porque precisava de caixa urgente.

    A meu ver a solução é a reação do preço da @ do boi, caso contrário, teremos uma crise no mercado de reposição de bezerros e gado magro já no ano que vem.

  3. Danilo Millen disse:

    No meu ponto de vista, a partir do ano que vem, vamos começar a sentir os reflexos do volume de fêmeas abatido neste ano de 2004.

    Apesar da pecuária de corte estar aumentando cada vez mais seus índices produtivos, o abate de fêmeas foi muito expressivo, o que vai acarretar numa falta de bezerros no mercado a partir do ano que vem.

    Esta situação é apenas a “ponta do iceberg”, já que esta esperada falta de bezerros no mercado irá refletir no futuro próximo em falta de animais para o abate e conseqüentemente afetando a exportação. Aí o preço da arroba vai apresentar forte tendência a subir. Bom para o pecuarista que suportar a atual crise, e conseguir chegar neste futuro próximo ainda dentro da atividade da pecuária.

  4. thiago thompson camargo disse:

    Devemos lembrar que esse aumento significativo no abate de matrizes deve-se também ao aumento das exportações da carne de animais machos, forçando um aumento no abate de fêmeas para atender o mercado interno.