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Pesquisa do Cepea revela potencial do mercado asiático para exportações agropecuárias brasileiras

O comércio brasileiro com a China tem aumentado expressivamente nos últimos cinco anos e esse país já é o segundo maior comprador do Brasil. Neste ano, até outubro, adquiriu, em valor, 6,5% das exportações brasileiras, atrás apenas dos EUA, que responderam por 23,2%. Ao lado da China, que ampliou 178,5% suas compras de produtos brasileiros nos últimos cinco anos, outros países asiáticos também se mostram com grande potencial de importação. A Coréia do Sul, nos mesmos cinco anos, expandiu em 82,5% as importações de produtos brasileiros; o Japão, porém, diminuiu 5,4% em valor.

A partir de números como esses, pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciaram um estudo sobre esses mercados, especificamente sobre a potencialidade de exportação dos produtos agroindustriais brasileiros, tendo como pano de fundo alguns fatores econômicos, sociais e políticos. A primeira etapa desse trabalho identificou também as dificuldades que os exportadores brasileiros têm enfrentado nesses mercados.

A pesquisa foi coordenada por Sílvia Helena G. de Miranda e David Yoshigi Nukui, economista agroindustrial, membro da equipe de Economia Internacional do Cepea. Essa etapa do trabalho foi embasada em literatura, entrevistas e questionários a empresas instaladas no Brasil que mantêm relações comerciais com Japão, China e Coréia do Sul.

As dificuldades enfrentadas dentro do Brasil foram indicadas como as mais relevantes para o desempenho desse comércio. Na interface externa, a burocracia naqueles países e as barreiras não-tarifárias têm destaque como obstáculos a serem superados. A dificuldade de acesso a linhas de financiamento foi mais acentuada para as empresas nacionais que para as de capital internacional. Com relação à necessidade de investimento para as exportações destinadas à Ásia, 59% das empresas investiram nas exportações visando ao mercado internacional como um todo, e não os asiáticos específicos, à exceção dos produtos orgânicos para o Japão.

As empresas pesquisadas mencionaram que os fatores de maior impacto no comércio do Brasil com a China são variáveis de política macroeconômica nacional, como as taxas de juros doméstica e de câmbio. Também citaram a importância das tarifas de importação, barreiras sanitárias e enfatizaram o efeito negativo da burocracia do governo chinês. Parte significativa do comércio externo chinês é controlada pelo governo, por meio de monopólios estatais, um sistema complexo de preços e outras medidas que tornam o comércio pouco transparente e acabam por configurar-se em barreiras comerciais.

Quanto aos aspectos culturais, dentre os países analisados, o Japão é considerado o mais “ocidental”, diferindo bastante da China e Coréia do Sul, que preferem manter sua forma particular de comércio, marcada por períodos mais longos de negociação. Apesar de as questões política e cultural influenciarem o comportamento do empresariado desses países, o fator cultural não foi apontado como uma das maiores dificuldades para a relação com o Brasil. Um exemplo do favorecimento promovido pela proximidade cultural é o fortalecimento das relações comerciais da China com países do sudeste asiático, onde residem muitos chineses, que migraram no século passado.

Tanto no caso da China quanto da Coréia, as empresas iniciaram seus contatos comerciais com esses países por meio do envio de representantes próprios ou por meio de trading companies. Já em relações com o Japão, tradicional importador do agronegócio brasileiro, a maioria das empresas entrevistadas comercializa com esse país há mais de dez anos. Uma boa parte também mencionou que foram necessários investimentos para exportar.

Setores promissores

China – A literatura indica que os principais produtos com potencial para exportação brasileira à China são carnes de aves, suína e bovina, couros e peles, soja em grão, açúcar, álcool, tabaco não-manufaturado e suco de laranja. De todos esses mercados, a participação brasileira nas importações chinesas de carnes (frango, suína e bovina) e de couro e peles ainda é pequena. As exportações do agronegócio, na média dos últimos cinco anos, representaram 46% de todas as vendas brasileiras para a China.

A inserção da China na OMC mostra-se como uma oportunidade para o Brasil, embora a redução das tarifas seja descompensada pela manutenção de intensas barreiras não-tarifárias.

Também foi pesquisado o desempenho das empresas quanto a exportações para outros países da Ásia-Pacífico. Apenas 33% exportam para três ou mais países da Ásia-Pacífico e 37% para nenhum outro que não os três países analisados. De modo geral, iniciativas de marketing foram apontadas como necessárias para os três mercados analisados. Somente 27% das empresas consultadas realizam ações de propaganda e marketing para outros países da Ásia-Pacífico.

Japão – Também neste caso, as variáveis identificadas como tendo os maiores impactos foram as domésticas (taxa de câmbio, de juros, escassez de linhas de financiamento, burocracia brasileira). Foram enfatizadas ainda a acirrada concorrência internacional, as elevadas tarifas de importação e a burocracia japonesa. Nos últimos cinco anos, os produtos agropecuários representaram, na média, 53% de todas as exportações brasileiras para o Japão.

O Japão possui essencialmente a mesma pauta de importação que possuía há dez anos, mantendo alta a participação de produtos de baixo valor agregado, processados naquele país. Nos últimos cinco anos, diminuíram tanto o valor, quanto o volume exportado pelo Brasil para o Japão. Esse comércio é dominado por trading companies japonesas. Segundo a literatura, os principais produtos com potencial para exportação brasileira são carne bovina, carne suína, pescados, café em grão, açúcar, álcool etílico, tabaco não-manufaturado, soja em grão, papaias, caqui, uva e manga. O Brasil, porém, ainda não exporta carne bovina, suína, papaia, caqui, uva nem manga; a participação do açúcar também é inexpressiva.

Os produtos orgânicos e o álcool são vistos como duas grandes oportunidades para o Brasil nesse mercado. A literatura aponta que as barreiras não-tarifárias impostas à carne bovina e à carne suína, inclusive as sanitárias, as barreiras fitossanitárias às frutas e os picos tarifários aos dois grupos de produtos desafiam a competitividade brasileira.

Coréia do Sul – De acordo com as empresas amostradas, os fatores de maior efeito sobre seu desempenho foram, novamente, a taxa de juros, seguida da burocracia governamental no Brasil, dificuldade de acesso a linhas de financiamento, política cambial, tarifas de importação elevadas e concorrência internacional.

A maioria das empresas amostradas era de capital nacional, destacando-se dois grupos, um exportando há menos de cinco anos para esse mercado, e o outro, há mais de dez anos. A realização de investimentos para exportar para esses mercados também foi ponto em comum a tais empresas. O consumo per capita de alimentos na Coréia do Sul é o terceiro maior do mundo, segundo dados da FAO, justificando que esse país seja um dos maiores importadores de produtos do agronegócio. Apesar disso, é um dos menores importadores do setor agroindustrial brasileiro, absorvendo apenas 1,12% do total exportado pelo Brasil no setor nos últimos 13 anos.

A parcela total é relativamente pequena, mas o agronegócio tem um papel representativo na pauta exportadora para esse país, respondendo, nos últimos cinco anos, por 39% da receita obtida. Vale notar que os volumes variam expressivamente, mas apresentam crescimento constante. O consumidor coreano tem alto poder aquisitivo para adquirir produtos de maior valor agregado e é bastante exigente em termos de qualidade e inocuidade dos alimentos.

A literatura indica como principais produtos com potencial para exportação brasileira para este país a carne bovina, carne suína, couros e peles, milho, complexo de soja, café, tabaco não-manufaturado, suco de laranja e álcool etílico. Desses, somente a carne bovina ainda não conseguiu participação de mercado e, a suína tem, por enquanto, apenas 0,1%; couros e peles estão em 1,5%.

Fonte: Cepea, adaptado por Equipe BeefPoint

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